Após a série de explosão de pagers na última terça-feira (17/09), o Líbano voltou a registrar nesta quarta (18/09) uma nova onda de detonações coordenadas de dispositivos eletrônicos, incluindo walkie-talkies, sistemas ligados a painéis solares e leitores de impressões digitais, deixando até o momento, um saldo de 14 mortos e 450 feridos, segundo o Ministério da Saúde do país.
Os incidentes envolvendo dispositivos a base de bateria de lítio, segundo a TV local Al-Mayadeen, ocorreram na capital Beirute, em especial no subúrbio de Dahiyeh, e também na região sul do país, incluindo a cidade de Sídon. Há registros dos ataques inclusive durante funerais das vítimas da ofensiva realizada no dia anterior.
A imprensa local nformou que os feridos foram levados aos hospitais de Bekaa, Nabatieh e Bahman. Enquanto isso, a Defesa Civil do país trabalha na extinção dos incêndios causados pelas explosões.
Segundo o website norte-americano Axios, as armadilhas foram plantadas em walkie-talkies usados na comunicação dos membros do Hezbollah pelo serviço de inteligência israelense, Mossad.
De acordo com a Reuters, citando uma fonte de segurança, os rádios portáteis foram adquiridos pelo grupo libanês há cinco meses, juntamente com os pagers explodidos na terça.
O Hezbollah não chegou a responder a mais recente investida israelense em seu território. Contudo, durante o funeral de membros do grupo libanês, vítimas do ataque aos pagers no dia anterior, o chefe do Conselho Executivo, Hashem Safi al-Din, prometeu uma retaliação contra Tel Aviv.
Ao falar em uma “punição que virá inevitavelmente”, o representante do Hezbollah afirmou que tais ataques são um “novo padrão de enfrentamento”, e que “o inimigo saberá que o povo libanês não vai recuar”.
“Se o seu objetivo é parar a batalha de apoio [ao aliado Hamas e à causa palestina] esteja ciente de que esta batalha aumentará em força, determinação e progresso”, instou Safi al-Din.
Ademais, está previsto um discurso do líder da organização, Hassan Nasrallah, para a tarde da próxima quinta-feira (19/09).
“Isso chega depois das ameaças israelenses de ampliar o raio de ação da guerra ao Líbano, o que faria a região cair em um ciclo de violência mais amplo”, declarou ainda o ministro das Relações Exteriores libanês, Abdallah Bou Habib.
Israel promete ‘nova fase’ da guerra e Conselho de Segurança da ONU fará reunião sobre agressões
Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel declarou nesta quarta-feira, durante visita à base aérea de Ramat David, operada pela Força Aérea do país que o “centro de gravidade” do conflito com os inimigos da região está se deslocando para o norte, conforme as tropas israelenses avançam em direção à fronteira com o Líbano.
A fala do ministro acontece em meio a série de ações, atribuídas a Israel, que, por sua vez, não confirma envolvimento, contra meios de comunicação analógicos do movimento libanês Hezbollah, incluindo tanto os pagers quanto os walkie-talkies.
“O centro de gravidade está se movendo para o norte. Estamos desviando forças, recursos e energia para o norte. Acredito que estamos no início de uma nova fase nesta guerra, e precisamos nos adaptar. Precisaremos de consistência ao longo do tempo, esta guerra requer grande coragem, determinação e perseverança”, disse o militar.
Foi solicitada pelo primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, também nesta quarta-feira, uma reunião com Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), segundo a Al Mayadeen.
A intenção de Mikati é discutir, no encontro, a agressão contra o seu país. Para a televisão, o primeiro-ministro afirmou que foi instruído a apresentar uma queixa no conselho: “Fomos instruídos a apresentar uma queixa ao Conselho de Segurança e a convocá-lo para discutir a agressão israelense”, afirmou o mandatário.
Ele disse, ainda, que “ninguém pode expressar a brutalidade deste crime”.
António Guterres, secretário-geral da ONU, por sua vez, alertou que “essa é a indicação do grave risco de uma dramática escalada no Líbano. É preciso fazer todo o possível para evitar isso”, acrescentando que “é muito importante que objetos civis não sejam transformados em armas”.
A pedido da Argélia, o Conselho de Segurança convocou uma reunião de emergência sobre o tema para as 16h (horário de Brasília) da próxima sexta-feira (20/09).
O temor da comunidade internacional é de que as detonações de dispositivos eletrônicos provoquem o aumento da já elevada tensão no Oriente Médio, enquanto as negociações para um cessar-fogo entre Israel e Hamas seguem travadas.
Explosão dos pagers
As explosões dos pagers utilizados pelo Hezbollah e também por civis no país na última terça-feira (17/09) deixou 12 mortos e cerca de quatro mil feridos, em uma escalada dos confrontos quase diários entre o grupo libanês e Israel desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023.
Após as explosões dos pequenos dispositivos de comunicação, que funcionam com a propagação de ondas de rádio, e dificulta o monitoramento da comunicação, o movimento prometeu continuar as “abençoadas operações” em prol dos palestinos da Faixa de Gaza, onde mais de 40 mil pessoas já morreram devido às operações militares de Tel Aviv.
À Reuters, uma fonte da segurança libanesa indicou o envolvimento da agência de espionagem israelense, Mossad, também no primeiro incidente. De acordo com a fonte, o Mossad teria instalado explosivos dentro de 5.000 pagers importados pelo Hezbollah da fabricante Gold Apollo, de Taiwan, meses antes das explosões. Os aparelhos teriam recebido uma pequena carga de explosivos entre 20 e 50 gramas, além de um minúsculo dispositivo de detonação remoto.
Por sua vez, a Gold Apollo afirmou que os aparelhos foram fabricados por uma empresa sediada em Budapeste, capital da Hungria, sendo produzidos pela BAC Consulting KFT.
(*) Com Ansa e RT