Lula mantém Múcio no governo, que reduziu a ‘questões ideológicas’ impasse na compra de blindados de Israel
Segundo presidente, críticas do ministro da Defesa envolvendo Gaza e diplomacia brasileira na interrupção de contrato com empresa israelense não gerou desgaste interno: 'continuamos amigos'
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva garantiu nesta sexta-feira (11/10) que o ministro da Defesa, José Múcio, permanece no cargo, mesmo após sua declaração durante a Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizada nesta semana, ocasião em que criticou que “questões ideológicas” no governo estariam travando a aquisição de obuseiros da empresa israelense Elbit Systems.
A fala foi repudiada por diversas entidades, incluindo a Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil) que, a Opera Mundi, explicou que o posicionamento de Múcio reduz o genocídio na Faixa de Gaza e apoia o financiamento a Israel, incentivando que a “máquina de extermínio” do regime sionista siga operando contra o povo palestino.
Em entrevista à rádio O Povo/CBN de Fortaleza, Lula destacou que o episódio não desgastou sua relação com o ministro. Por outro lado, reforçou que “José Múcio continua meu amigo, meu ministro da Defesa”.
“[José Múcio é] uma pessoa em quem eu tenho não apenas muita confiança, mas por quem eu tenho uma estima profunda pela lealdade dele comigo, antes e durante o governo. […] Portanto, isso não abalou em nada a permanência dele no Ministério da Defesa”, afirmou.
“Ele me ligou apavorado: ‘acho que eu falei alguma coisa que não devia ter falado’. Eu falei: ‘Múcio, não se preocupe. Aquilo que a gente falou já está falado. Já foi explorado. Esqueça e toque o barco para frente. Se você falou aquilo porque você pensava aquilo, está ótimo. Se você falou porque cometeu um equívoco, está ótimo. Você não vai perder comigo um centímetro de importância por conta daquilo’”, acrescentou o presidente brasileiro.
Anteriormente, integrantes do Palácio do Planalto declararam à Folha de S. Paulo que a postura de Múcio havia gerado “constrangimento no governo”, e que o ministro “jogou para Lula a responsabilidade do imbróglio em discurso televisionado”.

Reprodução/Ricardo Stuckert/PR
Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva garante permanência do ministro da Defesa, José Múcio, no governo, mesmo após críticas que envolveram diplomacia do país e reduziram genocídio em Gaza
‘Questões ideológicas’
Em discurso no evento da CNI nesta terça-feira (08/10), o ministro da Defesa José Múcio culpou a diplomacia brasileira por travar as negociações das Forças Armadas envolvendo a aquisição blindados de empresa israelense.
“A questão diplomática interfere na Defesa. Houve agora uma concorrência, uma licitação. Venceram os judeus, o povo de Israel, mas por questões da guerra, o Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar”, disse.
Chamou a atenção Múcio ter afirmado que “o povo de Israel, os judeus venceram” a licitação aberta pelo governo brasileiro para a compra de obuseiros 155 mm, uma vez que quem ganhou a concorrência não foi o povo israelense, o Estado de Israel ou mesmo os judeus – de etnia ou religião – mas sim uma empresa com sede em Haifa, chamada Elbit Systems.
Anteriormente, em setembro passado, o ministro da Defesa fez declarações semelhantes. Segundo a Folha de S. Paulo, Múcio apresentou ao presidente Lula uma proposta para destravar a aquisição de obuseiros da Elbit Systems.
“A gente está brigando com uma coisa simples, boba. Não estamos fazendo uma compra gigantesca de Israel. Precisava provar que foi o dinheiro dos obuseiros que financiou aquela guerra. Dois obuseiros não movimentam absolutamente nada”, declarou o ministro.
“Com todo respeito às pessoas que estão contra são por motivos políticos, ideológicos. Eu estou defendendo o Exército e que a gente tenha oportunidade de dotar o Exército Brasileiro de equipamentos mais modernos”, afirmou à época.
O resultado da licitação foi anunciado em abril, no entanto, Lula suspendeu a assinatura do contrato devido ao massacre promovido por Israel na Faixa de Gaza. Recentemente, os conflitos se expandiram no Oriente Médio, com as forças israelenses iniciando uma intensa campanha de combates contra outros países, como o Líbano e a Síria.