Quarta-feira, 11 de junho de 2025
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“O sionismo ataca o mundo. É uma materialização concreta de um flagelo maior, que é o colonialismo. Todo colonialismo parte de ideia e visão predestinadas por alguém ou algo a uma supremacia. É a supremacia de um ser humano sobre o outro. Uma visão parcial e discriminatória da existência humana”, afirmou o advogado argentino Gabriel Albarracín, especializado em direito público, durante o segundo painel do Seminário Internacional “Um novo holocausto no século XXI – O sionismo ameaça o mundo”, iniciado nesta quinta-feira (13/06), na Venezuela.

Com o tema “Israel, entidade ilegal criada artificialmente”, a conferência também contou com a participação do ativista chileno Esteban Silva-Cuadra e do médico e jornalista colombiano Víctor de Currea-Lugo. A mesa teve a mediação da jornalista venezuelana-libanesa, Hindú Anderi.

Durante a introdução do evento, Anderi destacou que o encontro tem como propósito inspirar novas concepções contra as ações criminosas cometidas por Israel no território palestino, focado na necessidade de revisar as resoluções que criaram o Estado de Israel.

Em seu discurso, Albarracín enfatizou o âmbito jurídico da questão palestina, dividindo-a em etapas. Começando pela Declaração Balfour, em 1917, o advogado argentino questionou a legitimidade da carta britânica costurada pelo então ministro britânico das Relações Exteriores, Arthur James Balfour, uma vez que o documento apresenta pontos que ferem a Palestina na perspectiva do direito internacional.

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“O senhor Balfour atua como órgão do Estado inglês. Ele podia fazer uma declaração dessa índole, mas para ser válida a sua manifestação, devia ter outros tipos de elementos. Não tinha que lesionar ou afetar direitos de nenhum terceiro”, explicou Albarracín, acrescentando que, com a carta, “o único sujeito que poderia ser afetado era o Estado palestino, um povo em processo de autodeterminação e que tinha direitos”.

O conferencista ainda criticou o envolvimento das “potências vencedoras” que impediram o processo de conversão da Palestina como Estado independente. 

“Como há olhos da potência vencedora da Primeira Guerra Mundial, [a Palestina] não tinha o desenvolvimento institucional adequado para poder ser um Estado. Deveria ser auxiliado por algumas das potências vencedoras para atingir esse objetivo e finalmente se independizar”, disse o advogado, fazendo referência a um dos artigos contemplados pelo pacto social de nações. 

“Todo processo de ocupação e de institucionalização de interesses coloniais se funde de realidades criadas previamente. Sempre se criam situações de facticidade e, depois disso, um instrumento de valor legal”, apontou.

Reprodução/CELARG Centro de Estudios
Painel “Israel, entidade ilegal criada artificialmente”, com a participação de Gabriel Albarracín, Esteban Silva-Cuadra e Víctor de Currea-Lugo
Impossível falar do sionismo sem falar da resistência palestina

Esteban Silva-Cuadra, militante chavista chileno, prestigiou a mobilização estudantil no Chile frente ao “colonialismo, imperialismo e sionismo”, afirmando que os universitários passaram a protestar contra em suas respectivas instituições pelo rompimento de laços financeiros com entidades sionistas.

“Os estudantes do Chile também têm exigido, durante meses e de forma ativa, ao governo de Gabriel Boric para que rompa as relações comerciais e diplomáticas com a entidade sionista”, disse Silva-Cuadra, acrescentando que as mobilizações populares possibilitaram que o governo chileno, apesar do alinhamento com os Estados Unidos, União Europeia e OTAN, retire seu embaixador em Israel. 

Além disso, o país também declarou apoio à acusação sul-africana contra Israel, na Corte Internacional de Justiça (CIJ), por cometimento de genocídio contra os palestinos. 

“Cada um desses feitos representa uma grande batalha cultural, ideológica e comunicacional contra ideologia sionista. A luta dos povos pela autodeterminação dos setores oprimidos se estendeu a todos os continentes do mundo. A aliança sionista e imperialista busca ameaça a existência do heroico povo palestino, sobretudo a soberania e autodeterminação do mundo inteiro”, afirmou. 

De acordo com Silva-Cuadra, a Palestina foi escolhida como alvo do “primeiro golpe e tentativa de controle” imperialista, no Oriente Médio, por razões que explicam a “visão geopolítica da identidade sionista”, sendo as principais a abundância de recursos petrolíferios – o que daria a Washington uma posição privilegiada contra potências como China e Rússia –, e a posição geográfica estratégica para exercícios militares. 

“A urgência da humanidade é a construção de uma grande mobilização em todos os âmbitos que resgate o direito internacional pisoteado. Que resgate e reconstrua outra governança para todas as instituições nascidas do pós-guerra que foram estruturadas sob a hegemonia do capitalismo imperialista, ocidental, aliado do sionismo. Sionismo este que conseguiu impor na Palestina uma ocupação ilegal de território que hoje adquire a amplitude do holocausto”, concluiu.

“Resistir com armas é um direito”

O médico e jornalista venezuelano Víctor de Currea-Lugo iniciou seu discurso com a notícia de que as crianças palestinas amputadas de Gaza, vítimas das operações militares de Israel, estão sendo recebidas e atendidas para tratamento na Venezuela. 

“Não tem coisa mais monstruosa do que o que acontece na Palestina”, afirmou, ao criticar o projeto colonial israelense que alimenta a matança, migração forçada e limpeza étnica. 

Currea-Lugo recordou que em 2023 conversou com um militante do movimento libanês Hezbollah, explicando que o direito da resistência está contemplada no direito humanitário.

“Resistir com as armas não é um delito, nem terrorismo, nem crime. É um direito. No caso palestino, é um direito”, defendeu.

Para encerrar, Currea-Lugo destacou as medidas necessárias que podem ser tomadas para defender a causa palestina, que se incluem por “educar e influenciar a opinião pública” pelo lado correto da história, “boicotar tudo que financie o sionismo” e “reconhecer a solidariedade militar” em atividades que atualmente são exercidas por movimentos de resistência como o Hezbollah e o Irã.