Mais de 350 artistas do cinema mundial condenam genocídio em Gaza às vésperas de Cannes
Pedro Almodóvar, Javier Bardem, Costa-Gavras, Susan Sarandon, entre outros, acusam silêncio do universo cinematográfico
Celebridades de Hollywood e ícones do cinema mundial publicaram uma carta aberta condenando o genocídio em Gaza e acusando o silêncio da indústria cinematográfica.
O documento foi publicado às vésperas do 78.ª edição do Festival de Cannes, que começa nesta terça-feira (13/05), no jornal francês Liberation e na revista americana Variety.
“Nós, artistas e atores e atrizes da cultura, não podemos ficar em silêncio quando está acontecendo um genocídio em Gaza. Por que este silêncio?”, questionam as 380 personalidades que assinam o texto.
Entre eles estão Pedro Almodóvar, Javier Bardem, Ralph Fiennes, Costa-Gavras, Richard Gere, Susan Sarandon, Jude Law, Mark Ruffalo, David Cronenberg, Mike Leigh e Xavier Dolan.
“Esta passividade nos envergonha”, afirmam.

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A carta menciona o assassinato da fotojornalista palestina Fatima Hassouna, com 10 familiares, incluindo sua irmã grávida, por militares israelenses em 16 de abril. Hassouna é protagonista do documentário do diretor iraniano Sepideh Farsi, “Put Your Soul on Your Hand and Walk”, que será exibido em Cannes, nesta quinta-feira (15/05).
Eles citam o ataque de colonos israelenses contra o cineasta palestino Hamdan Ballal, premiado no Oscar por seu filme “No Other Land”.
Confira a íntegra da carta:
Fatma Hassona tinha 25 anos.
Ela era uma fotojornalista freelancer palestina. Ela foi alvo do exército israelense em 16 de abril de 2025, um dia depois de ter sido anunciado que o filme de Sepideh Farsi “Put Your Soul on Your Hand and Walk”, no qual ela era a estrela, havia sido selecionado na seção ACID do Festival de Cinema de Cannes.
Ela estava prestes a se casar.
Dez de seus parentes, incluindo sua irmã grávida, foram mortos pelo mesmo ataque israelense.
Desde os terríveis massacres de 7 de outubro de 2023, nenhum jornalista estrangeiro foi autorizado a entrar na Faixa de Gaza. O exército israelense tem como alvo civis. Mais de 200 jornalistas foram mortos deliberadamente. Escritores, cineastas e artistas estão sendo brutalmente assassinados.
No final de março, o cineasta palestino Hamdan Ballal, que ganhou um Oscar por seu filme “No Other Land”, foi brutalmente atacado por colonos israelenses e depois sequestrado pelo exército, antes de ser libertado sob pressão internacional. A falta de apoio da Academia do Oscar a Hamdan Ballal provocou indignação entre seus próprios membros e teve que se desculpar publicamente por sua inação.
Temos vergonha de tal passividade.
Por que o cinema, terreno fértil para obras socialmente comprometidas, parece ser tão indiferente ao horror da realidade e à opressão sofrida por nossos irmãos e irmãs?
Como artistas e atores culturais, não podemos ficar em silêncio enquanto o genocídio está ocorrendo em Gaza e essa notícia indescritível está atingindo duramente nossas comunidades.
Qual é o sentido de nossas profissões se não tirar lições da história, fazer filmes comprometidos, se não estamos presentes para proteger as vozes oprimidas?
Por que esse silêncio?
A extrema-direita, o fascismo, o colonialismo, os movimentos anti-trans e anti-LGBTQIA+, sexistas, racistas, islamofóbicos e antissemitas estão travando sua batalha no campo de batalha das ideias, atacando o mercado editorial, o cinema e as universidades, e é por isso que temos o dever de lutar.
Vamos nos recusar a deixar nossa arte ser cúmplice do pior.
Vamos nos levantar.
Vamos nomear a realidade.
Ousamos coletivamente olhá-lo com a precisão de nossos corações sensíveis, para que não possa mais ser silenciado e encoberto.
Rejeitemos a propaganda que constantemente coloniza nossa imaginação e nos faz perder nosso senso de humanidade.
Por Fatma, por todos aqueles que morrem na indiferença.
O cinema tem o dever de transmitir suas mensagens, de refletir nossas sociedades.
Vamos agir antes que seja tarde demais.
