Prisão, tortura e deportação: Marcha Global para Gaza denuncia ‘cerco sistemático’ no Egito e na Líbia
Organizadores pedem libertação de ativistas detidos e asseguram que movimento contra genocídio 'não será dissuadido'
Matéria atualizada às 14h07 de 16 de junho
Os organizadores da Marcha Global para Gaza pediram nesta segunda-feira (16/06) a libertação de todos os participantes que foram detidos no Cairo durante a trajetória com destino à fronteira de Rafah, no sul da Faixa de Gaza. De acordo com a iniciativa, dois coordenadores internacionais, o francês Hicham El Ghaoui e o espanhol Manuel Tapial, também foram ilegalmente presos e ordenados para serem deportados pelas autoridades egípcias no último fim de semana.
“Mesmo enquanto monitoramos esses acontecimentos, nossa principal preocupação continua sendo o povo de Gaza, que segue enfrentando um sofrimento inimaginável. Nosso movimento global para acabar com o genocídio do povo palestino não será dissuadido. Mais ações e iniciativas já estão em andamento”, assegurou Saif Abukeshek, principal coordenador do movimento global.
A advogada Andréa Haddad Gaspar, de São Paulo, é uma dos cinco ativistas brasileiros participantes da marcha incluídos na delegação do Portugal. A Opera Mundi, a militante, que contou que foi ao Egito de forma autônoma, estando engajada na luta pela causa palestina há vários anos, denunciou uma “forte fiscalização” de policiais à paisana no Cairo e confisco de passaportes.
“Vários ativistas já tiveram a deportação de Istambul, inclusive. Não conseguiram nem chegar no Cairo. O Egito mandou determinação para para Istambul entrar já brecar. Então aqueles que levassem símbolos palestinos eram revistados, parados e deportados. De 400 a 600 pessoas já não chegaram [ao Cairo]. Entre eles muitos alemães, muitos franceses, muitos espanhóis. Teve também pessoas da Austrália”, contou.
Segundo a advogada, diante dos casos de violência, detenção, cortes na comunicação e apreensão de documentos, as delegações realizaram “várias reuniões” e decidiram pelo retorno dos grupos. A previsão inicial era de que os ativistas encerrassem a marcha em 19 de junho.
“A gente não chegou nem perto do que nós queríamos […] mas a ideia e o simbolismo nós alcançamos, assim como a flotilha. A gente quis passar uma mensagem muito clara e definitiva para os nossos governos: que se eles não tomam uma atitude, cidadãos como nós nos colocamos em risco para chamar a atenção, para criar essa consciência e tentar fazer alguma coisa, quebrar o cerco”, afirmou Haddad Gaspar.
No domingo (15/06), ativistas pró-Palestina do comboio “Soumoud” (“Firmeza”, pela tradução em português) se retiraram para a região de Misrata, no oeste da Líbia, depois de terem sido bloqueados pelas autoridades do leste do país.
Misrata é administrada pelo governo de Unidade Nacional reconhecido pelas Nações Unidas (ONU), com sede em Trípoli, enquanto o leste é controlado pelo comandante militar Khalifa Haftar.

Ativistas pró-Palestina da Marcha Global para Gaza são bloqueados por autoridades locais do Cairo, capital do Egito
X/Yipeng Ge 葛义朋
O comboio de ajuda do norte de África que comportava milhares de pessoas da Argélia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia em mais de 10 ônibus estava sob um “bloqueio militar” desde sexta-feira (13/06) na entrada de Sirte, uma área controlada por Haftar. Os organizadores disseram que foram submetidos a um “cerco sistemático” sob maus tratos, sem acesso a comida, água ou remédios.
Em comunicado, o Comitê de Coordenação de Ação Conjunta para a Palestina acusou as autoridades controladas por Haftar de não apenas bloquear o avanço do comboio, como também de isolá-lo, cortando a comunicação e a internet.
Pelo menos três participantes responsáveis por documentar a jornada foram detidos, de acordo com a organização. O tunisiano Ala Ben Amara e os argelinos Bilal Ourtani e Zidane Nezar foram acusados de publicar “vídeos ofensivos”.
A Marcha Global para Gaza é uma iniciativa internacional que conta com a presença de aproximadamente 10 mil manifestantes de pelo menos 54 países diferentes, incluindo movimentos sociais, humanitários, ativistas independentes e coletivos, todos visando romper o cerco imposto pelo governo de Israel no enclave. Cerca de três mil são provenientes das Américas, Europa e Oceania, enquanto outros sete mil de diversas nações africanas, como Argélia e Tunísia.