Milhares de ativistas judeus e árabes se reuniram em Tel Aviv nesta segunda-feira (01/07) sob o slogan “somente a paz pode trazer segurança”, para defender uma solução pacífica que coloque fim ao massacre cometido pelo exército israelense contra o povo palestino na Faixa de Gaza, no qual já foram assassinados mais de 38 mil civis.
O evento chamado “The Time Has Come” (“chegou a hora”) foi realizado no centro de convenções Menora Mivtachim Arena, em ato promovido por diversos setores da esquerda israelense, como o partido socialista Hadash e os movimentos Peace Now e Standing Together. Esses grupos concentram o que a imprensa local chama de “Campo da paz”, por defenderem uma solução negociada e pacífica para o conflito na Faixa de Gaza.
A conferência teve como objetivo lançar uma campanha em favor de um acordo de paz para colocar fim ao conflito em Gaza, baseado em três parâmetros: 1) a libertação tanto de reféns mantidos pelo Hamas quanto de palestinos presos em Israel; 2) o fim de todas as restrições à entrada de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza e o apoio à reconstrução da região; e 3) o início de conversas junto a representantes da comunidade internacional para a solução de dois Estados, segundo os preceitos defendidos nos Anos 90 pelo então premiê israelense Ytzhak Rabin.
Justamente, alguns dos momentos mais emotivos do evento foram as homenagens a Rabin e referências aos Acordos de Oslo, assinados por ele, pelo palestino Yasser Arafat, fundador e líder histórico da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e pelo então presidente norte-americano Bill Clinton, em 1993.
Vale lembrar que Rabin foi assassinado em 1995, quando ainda exercia o cargo de premiê de Israel, em um atentado a tiros promovido por Yigal Amir, um militante do movimento juvenil sionista Bnei Akiva.
A parlamentar israelense Naama Lazimi, do Partido Trabalhista Ha-Avoda, foi uma das principais palestrantes e fez um discurso recheado de referências a Rabin. Também disse, emocionada, que nasceu “em uma família que acredita na paz e que mantém a esperança em um futuro com coexistência pacífica entre os povos”.
“Sou parte de uma geração à qual foi prometido um futuro diferente” disse a congressista, antes de expressar sua preocupação pelos discursos que ouve de gerações mais jovens de israelenses, segundo ela “nitidamente mais extremistas do que seus pais e avós, porque nunca foram expostas a um projeto de convivência em paz entre israelenses e palestinos”.
O encontro também reuniu familiares de reféns do Hamas e de vítimas dos ataques realizados pelo grupo de resistência palestino em 7 de outubro de 2023.
Um deles foi Maoz Inon, cujos pais foram assassinados em sua casa no ano passado. Em seu discurso, Inon afirmou que “para enfrentar a dor do luto, embarquei em uma jornada para buscar paz e reconciliação. Entendi que somente juntos, com um projeto que defenda a paz tanto para judeus quanto para palestinos, poderemos criar um futuro onde não haverá mais vítimas em nenhum dos dois lados”.
Outros nomes importantes entre os palestrantes da noite foram o historiador Yuval Noah Harari e os políticos Ayman Odeh, presidente do Hadash, e Ofer Cassif, também membro do Hadash.
Em entrevista ao diário The Times of Israel, Cassif criticou o discurso do governo israelense, cujo argumento para justificar o massacre na Faixa de Gaza se baseia na necessidade de uma suposta “vitória total” contra o Hamas.
“Não há vitória total, é uma farsa. Eles (direita israelense) acham que esse é um jogo de soma zero, que Israel deve vencer e que isso exige a eliminação dos palestinos”, comentou Cassif.
Na conferência, o historiador Yuval Noah Harari se expressou através do seu discurso, no qual enfatizou que “a amarga verdade sobre o conflito israelense-palestino é que cada lado teme que o outro esteja tentando aniquilá-lo, e ambos os lados estão certos”.
“É verdade que já tentamos fazer a paz no passado e não fomos bem sucedidos. E daí? Também não tivemos sucesso pela via da guerra, e isso nos impede de tentar de novo e de novo, e de promover todas essas guerras que nos levaram a um abismo. Chegou a hora de fazermos a paz”, concluiu o acadêmico israelense.