O ministro da Defesa do Brasil, José Múcio Monteiro, apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma proposta para destravar a aquisição de obuseiros 155 mm da Elbit Systems, uma empresa israelense. A informação é da Folha de S. Paulo.
O contrato, orçado em quase R$ 1 bilhão, enfrenta oposição de setores que consideram inadequado adquirir armamento do país responsável pelo genocídio na Faixa de Gaza. Os opositores alegam que a transação poderia, de certa forma, financiar os ataques israelenses contra os palestinos.
“A gente está brigando com uma coisa simples, boba. Não estamos fazendo uma compra gigantesca de Israel. Precisava provar que foi o dinheiro dos obuseiros que financiou aquela guerra. Dois obuseiros não movimentam absolutamente nada”, declarou o ministro
A ideia do responsável pela Defesa brasileira envolve a compra inicial de dois equipamentos como teste, com uma cláusula que permitiria, em caso de aprovação, a compra dos 34 restantes.
Outra condição seria a produção dos obuseiros em território nacional, com a expectativa de gerar empregos e beneficiar empresas locais.
Membros do governo Lula se opõem à compra dos veículos militares, como o assessor especial da Presidência, Celso Amorim. Para Múcio, este posicionamento está mais relacionado a questões políticas e ideológicas do que a critérios técnicos.
“Com todo respeito às pessoas que estão contra são por motivos políticos, ideológicos. Eu estou defendendo o Exército e que a gente tenha oportunidade de dotar o Exército Brasileiro de equipamentos mais modernos”, afirmou o ministro em entrevista à Folha de S. Paulo.
Para Múcio, a relação diplomática com Israel não deveria ser vista como um obstáculo intransponível para as questões do exército brasileiro. “Eu não acho que isso seja um problema diplomático — a diplomacia está lá, nós ainda temos relações diplomáticas com Israel. Se o primeiro-ministro [Benjamin] Netanyahu foi desatencioso [ao declarar Lula como persona non grata], ele não representa todo mundo de lá. Eu estou admitindo que eu estou com a banda boa [de Israel]”, argumentou o ministro.
O Exército Brasileiro, desde 2017, busca substituir 36 obuseiros, remanescentes da Segunda Guerra Mundial. Em abril passado, a israelense Elbit Systems, que é uma das principais fornecedoras de equipamento militar para as Forças de Defesa de Israel (FDI, como é chamado o exército do país), venceu a concorrência por oferecer o melhor preço e soluções técnicas superiores, além de já possuir subsidiárias no Brasil.
Contudo, a assinatura do contrato foi adiada em maio deste ano por decisão de Lula, sem previsão de conclusão, em meio ao agravamento das operações militares israelenses na Faixa de Gaza e a pressão para que o governo Lula revogue as cooperações com Tel Aviv.
Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União (TCU) deve analisar nos próximos dias se a legislação brasileira impede que empresas de países em conflito participem de licitações. A decisão pode ser crucial para destravar o processo e reduzir as resistências internas no governo.
(*) Com Brasil247