Nesta terça feira (14/01), os negociadores se reúnem em Doha para finalizar os detalhes do acordo para acabar com a guerra em Gaza. A informação é da agência de notícias Reuters.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que o cessar-fogo está “à beira” de se concretizar, enquanto o mandatário eleito, Donald Trump, afirmou que o acordo pode ser concluído até o fim desta semana.
Ambos enviaram representantes para a mesa de negociações: respectivamente Brett McGurk e Steve Witkoff. Hamas e Israel também se declararam otimistas sobre o fim da guerra.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse que a bola agora estava com o Hamas. A delegação do grupo palestino em Doha afirmou que as conversas progrediam bem e que tinham interesse em por fim ao conflito.
Blinken deve apresentar nesta terça-feira uma proposta de plano para o pós-guerra em Gaza.
O ex-diretor geral do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Alon Liel, também manifestou otimismo. “A sensação é de que não há escolha desta vez”, disse ele de Tel Aviv à emissora catari Al Jazeera, avaliando que houve uma grande mudança no humor de Israel nas últimas semanas.
“Temos que concordar porque a pressão internacional, ou para ser mais exato – a pressão norte-americana – dobrou. São dois presidentes trabalhando nisso juntos – Biden e Trump – colocando pressão… e isso parece muito eficaz em nosso governo de direita”, disse Liel.
Conversa tensa entre Netanyahu e enviado de Trump
O jornal israelense Times of Israel disse que as negociações avançaram após uma “reunião tensa” entre o primeiro-ministro Israelense Benjamin Netanyahu e o enviado de Trump, Steve Witkoff.
Mas as autoridades israelenses ouvidas pela mídia daquele país preferiram destacar que as ameaças de Trump foram importantes para vencer as resistências do Hamas.

Dois terços dos edifícios de Gaza foram destruídos ou danificados pelo Exército de Israel
O embaixador dos Estados Unidos em Israel, Jack Lew, também expressou seu otimismo com relação ao acordo.
Em entrevista à Rádio do Exército de Israel, ele disse que há um “amplo apoio” em Tel Aviv para um acordo e que ele acredita que Netanyahu será capaz de vencer a resistência de parte da coalizão governamental.
As etapas do acordo
O acordo proposto deve concretizar-se em etapas. Num primeiro momento, o Hamas libertaria 33 reféns, incluindo feridos, doentes, crianças, mulheres, mesmo as que são soldados, e homens maiores de 50 anos.
A segunda etapa começaria no 16º dia do cessar-fogo, na qual seriam devolvidos a Israel o restante dos reféns vivos e os corpos dos mortos. Acredita-se que 94 dos 251 reféns sequestrados pelo Hamas em outubro de 2023 permaneçam em Gaza, mas ao menos 34 deles já estão mortos.
O acordo prevê uma retirada gradual das tropas israelenses que se manteriam dentro de Gaza, entretanto, numa nova zona-tampão ao longo da fronteira.
Os residentes do norte do enclave poderiam então voltar, mas com controle para que trouxessem nenhuma arma. As Forças de Defesa de Israel (FDI) se retirariam do corredor Netzarim, que corta Gaza ao meio.
O número de palestinos libertados por Israel seria proporcional ao dos reféns vivos libertados, que ainda é desconhecido.
Estariam excluídos, entretanto, os combatentes que participaram da ofensiva de 7 de outubro de 2023 a Israel. O país se nega a devolver inclusive o corpo do arquiteto da ação, Yahya Sinwar.
Israel não aceita libertar para a Cisjordânia nomes que eles julgam serem “terroristas considerados assassinos de alto perfil”. Relatos não confirmados dizem que cerca de 150 a 200 deles poderiam ir para Gaza, Egito, Turquia ou Catar.
A estação de TV saudita al-Hadath disse que Israel teria enviado ao Hamas uma lista com centenas de nomes de presos palestinos que poderiam ser liberados. O líder da Intifada Marwan Barghkouti, que cumpre prisão perpétua, não estava incluído.
Israel manterá zona-tampão em Gaza
Durante o período entre as duas etapas, Israel manterá o Corredor Filadélfia ao longo da fronteira entre Gaza e Egito. Também haverá “arranjos de segurança” para os civis palestinos que estão no sul e buscam retornar ao norte do enclave.
O acordo, em princípio, exigiria a aprovação do gabinete de segurança e do governo, mas não do Parlamento de Israel (Knesset).
A mídia do país avalia que o governo provavelmente aprovaria o acordo, mesmo que os partidos de extrema direita dos ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança Nacional, Itamar Bem Gvir, votassem contra, como ameaçam fazer.
Netanyahu previa se reunir segunda-feira à noite com Ben Gvir.
Ataques aumentam na véspera do cessar-fogo
Enquanto é esperado uma confirmação do acordo, Israel segue com ataques contra os palestinos. Nas 36 horas entre o amanhecer da segunda-feira e o meio-dia desta terça (horário local), ações militares israelenses mataram ao menos 70 palestinos.
Em Deir el Balah, os ataques destruíram uma casa e um café matando oito civis. Em Khan Younis, as bombas destruíram outra casa, matando uma mulher e crianças, segundo os relatórios médicos.
De acordo com a Al Jazeera, a escala das operações militares em Gaza se intensifica a cada minuto.
Talvez por isso, os moradores do enclave expressem uma mistura de otimismo e profundo ceticismo com as negociações de cessar-fogo. Eles suportaram mais de 15 meses de guerra implacável que matou ao menos 46.484 palestinos, 60% deles mulheres e crianças, deixando 110 mil feridos e toda a infraestrutura de Gaza devastada.