Em entrevista exclusiva publicada pela revista norte-americana Time nesta quinta-feira (08/08), o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou ter cometido um equívoco ao não lançar uma ofensiva em grande escala contra o Hamas antes do 7 de outubro de 2023 – episódio que desencadeou uma intensa guerra promovida por Tel Aviv na Faixa de Gaza e que hoje resulta na morte de quase 40 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde local.
“Você sempre olha para trás e diz: poderíamos ter feito coisas que teriam evitado isso”, disse o premiê, “lamentando profundamente” que a ofensiva do grupo palestino tenha acontecido. “O 7 de outubro mostrou que aqueles que disseram que o Hamas foi dissuadido estavam errados. Na verdade, não contestei suficientemente a suposição que todas as [nossas] agências de segurança tinham em comum”.
Ao ser questionado pelo veículo norte-americano o motivo pelo qual “não eliminou o Hamas antes”, Netanyahu respondeu que faltou apoio público e internacional para tal ação.
Preservação política
O premiê aproveitou a entrevista para se defender das acusações de que sabotou um acordo de cessar-fogo e libertação de reféns para prolongar a guerra e garantir sua permanência no poder como primeiro-ministro. O mesmo argumento havia sido sustentado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em maio, quando o mandatário norte-americano afirmou que as pessoas tinham “todos os motivos para acreditar” que esse era o caso.
“Eu não preciso, não estou preocupado com a minha preservação política”, rebateu o premiê, classificando a acusação feita pela população israelense revoltada com a guerra, sobretudo familiares de reféns, como uma “mentira”. Mais uma vez, voltou a rejeitar o acordo de cessar-fogo antes da “eliminação total” do Hamas: “o nosso objetivo é acabar completamente com a capacidade militar e de governo do Hamas”.
Quando questionado pela Time sobre os efeitos dos 10 meses das operações em curso na Faixa de Gaza e a imagem pública de seu país, Netanyahu afirmou que as opiniões alheias dizem mais “sobre o mundo, não sobre Israel”. Apesar dos ataques massivos, a autoridade continuou rejeitando as acusações sobre estar prosseguindo a guerra de forma antiética e fora do direito internacional.
Segundo ele, a proporção das mortes de combatentes do Hamas para civis palestinos é de cerca de um para um, o que considerou “uma conquista incrível”.
Trump criticou Netanyahu
Embora, num primeiro momento, Netanyahu tenha se manifestado “lamentando profundamente” pelo 7 de outubro, ele contestou uma das declarações feitas pelo atual candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump. O ex-presidente norte-americano afirmou que o premiê teria sido “criticado com razão” pelo ataque do Hamas na referente data.
“Criticado por quê?”, questionou em entrevista à Time.
Em seguida, a autoridade israelense prometeu que “haverá uma comissão independente” destinada a examinar os acontecimentos anteriores à data. Sem detalhes, complementou que “todos terão que responder a algumas perguntas difíceis, inclusive eu”.
Planos pós-guerra
Em relação aos “planos pós-guerra” em Gaza, o primeiro-ministro israelense alegou desejar uma administração civil dirigida por moradores locais e com “apoio de parceiros regionais”. No entanto, seria necessária primeiramente a garantia da “destruição” do Hamas. Sobre os “parceiros regionais”, não houve detalhamento.
“A desmilitarização significa que você tem que garantir que o Hamas seja destruído, sem poder se recuperar. E isso significa, em primeiro lugar, impedir o contrabando de armas e terroristas do Sinai para Gaza […] Mas também significa que, no futuro, até que outra força surja, Israel terá que ter a responsabilidade primordial de segurança de agir contra qualquer tentativa de ressurgimento do terrorismo. A segunda coisa é que eu gostaria de ver uma administração civil dirigida por moradores de Gaza, talvez com o apoio de parceiros regionais. Desmilitarização por Israel, administração civil por Gaza”, explicou Netanyahu.