NYT: Europa ‘fala muito’, mas age pouco em prol de Gaza
Após países europeus reconheceram Estado palestino, jornal recordou que bloco não consegue aprovar boicotes a Israel, nem mesmo evacuar e conceder asilo a cidadãos do enclave
Em meio à onda de reconhecimentos do Estado palestino entre países europeus, alimentada inclusive pelo anúncio feito pelo Reino Unido, Canadá e Austrália no último domingo (21/09), o New York Times (NYT) aponta que, apesar da narrativa, ações europeias concretas em prol da população da Faixa de Gaza “continuam limitadas”.
Em meio ao movimento, convocado pela França, em direção ao reconhecimento de um Estado palestino na Assembleia Geral da ONU, que ocorre nesta semana em Nova York, líderes de diversos países europeus condenam a ofensiva israelense em Gaza ou mesmo a chamam de “genocídio”.
“A questão é se a Europa transformará palavras de condenação e preocupação em ações mais contundentes. A opinião pública europeia se voltou contra a conduta israelense na guerra, mas alianças de longa data e histórias políticas tensas impediram nações como Alemanha e Itália de apoiar ações mais drásticas”, escreveu a reportagem.
“As ações individuais de cada país também ficaram aquém da retórica”, acusou o NYT, referindo-se a tentativas da Alemanha em punir o governo de extrema direita israelense, liderado pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, aos anúncios de reconhecimento individualizados ou mesmo decisões sobre embargo a armas, como no caso da Espanha.
“Mas tais medidas tiveram pouco impacto no curso da guerra. E outras medidas — como ajudar as pessoas a fugir da região — são politicamente mais difíceis”, disse.
Nesta linha, o periódico reconheceu que algumas nações têm aceitado alguns refugiados, mas ao mesmo tempo, as solicitações de asilo ocorrem em um momento em que imgração tem sido “um ponto crítico da política interna” europeia.
O país que mais recebe solicitações de asilo por palestinos na Europa é a Bélgica, devido às suas práticas migratórias “relativamente permissivas e à grande comunidade palestina existente”.
“Mas mesmo lá, solicitar asilo pode ser difícil. Muitos candidatos foram rejeitados este ano”, mencionou o NYT, ressaltando que o país encerrou sua lista de evacuação em abril passado, deixando 500 pessoas que estavam com seus nomes no documento sob o bloqueio israelense.
Este é o caso do pai de Bahjat Madi, homem palestino de 34 anos, originário da cidade de Rafah, no sul de Gaza, e que está na Bélgica desde 2022, tendo se tornado residente em 2024. Apesar de seu asilo ter sido aceito, não foi o caso de seu pai, que ainda está em Gaza e “lutando para sair”.

“Questão é se Europa transformará palavras de condenação e preocupação em ações mais contundentes”, escreveu NYT
Streets of Berlin/Wikicommons
“Quero fazer qualquer coisa para que meu pai continue vivo”, disse Madi ao NYT, informando que entrou com uma ação judicial para que o pedido de visto humanitário de seu pai, que precisa ser solicitado no consulado belga em Jerusalém, em Israel, seja aceito remotamente, uma vez que ele não consegue sair de Gaza.
Mas mesmo que o visto seja aceito, o nome do pai de Madi seria adicionado a uma lista de evacuação, “uma possibilidade remota e que pode levar anos” para ser executada, de acordo com o jornal.
Em meio aos impasses burocráticos e diplomáticos, o palestino lamenta “estar fazendo seu melhor”, mas reconhecer que ainda “não é o suficiente.
Bloco precisa agir em unidade
Neste contexto, os países europeus mais preocupados com a questão palestina afirmam que “há limites” sobre o que cada país pode fazer isoladamente, instando a União Europeia para decisões conjuntas na região. A exigência faz sentido uma vez que o bloco é o maior parceiro comercial de Israel.
O movimento levou a mais de 200 ex-embaixadores europeus e membros de equipes diplomáticas a escreveram aos líderes da UE exigindo maior pressão contra Israel.
“Mas grandes conversas ainda não levaram a grandes ações”, escreveu o jornal norte-americano, lembrando que a União Europeia propôs tarifas mais altas sobre produtos israelenses e a suspensão de parte do acordo comercial do bloco com Tel Aviv — este sendo “o maior esforço europeu” no assunto, mas não há garantias de aplicação das medidas.
O bloco chegou a realizar uma revisão de seu tratado com Israel, concluindo que o país violou suas obrigações de direitos humanos estabelecidas no documento. A decisão europeia frente a isso foi sugerir que Tel Aviv fosse proibido de participar de um programa de financiamento de pesquisas chamado Horizonte Europa. Mesmo diante de uma punição secundária, os Estados-membros não conseguiram aplicá-la.
Segundo Kristina Kausch, vice-diretora-geral do German Marshall Fund South, um think tank focado em relações internacionais, o continente deve aproveitar “tamanho ímpeto internacional”, que foi desenvolvido “em tão pouco tempo”, para criar “oportunidade real” de ações concretas em relação à Palestina.
“Não se trata apenas dos palestinos. Trata-se de saber se o Ocidente e a Europa podem defender o direito internacional e o multilateralismo”, analisou ao NYT.























