A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse estar “muito preocupada” com possíveis epidemias na Faixa de Gaza, devastada pela guerra de Israel contra o Hamas, principalmente após ter sido detectado o poliovírus tipo 2 em amostras de águas residuais.
O alerta feito nesta terça-feira (23/07) apelou às autoridades israelenses para aumentarem o número de equipes médicas autorizadas a entrar no enclave. “A hepatite A foi confirmada no ano passado e agora podemos ter poliomielite”, disse Ayadil Saparbekov, chefe da equipe de emergências de saúde da OMS no território palestino ocupado.
O especialista disse ser preciso garantir que as equipes que coletam amostras estejam protegidas enquanto se movem pela Faixa de Gaza para fazer a investigação epidemiológica.
Isso por que o vírus foi encontrado apenas em amostras de esgoto, já que “falta equipamento para o fazer e de capacidade laboratorial para analisar essas amostras”, lembrando que os casos estão relacionados ao poliovírus tipo 2 derivado de uma cepa que circulou no Egito em 2023.
Saparbekov afirmou estar “extremamente preocupado” com a disseminação da pólio e outras doenças transmissíveis, que podem levar mais pessoas a morrer de doenças evitáveis do que de ferimentos relacionados à guerra.
De acordo com o especialista, recentemente, a Rede Global de Laboratórios de Poliomielite isolou o poliovírus tipo 2 derivado de uma cepa vacinal em seis amostras de vigilância ambiental, e sua análise mostrou que existem “estreitas ligações genéticas entre eles”.
Além disso, ele revelou que o número de pessoas na Faixa de Gaza que devem ser evacuadas para receber cuidados médicos já poderia ter chegado a 14 mil.
Com isso, o representante da OMS disse que, juntamente com parceiros, a agência está conduzindo uma investigação epidemiológica e avaliação de risco para identificar a fonte do vírus, que está com alta probabilidade de se espalhar dentro de Gaza e internacionalmente.
De acordo com ele, com base nos resultados da avaliação será preparado um conjunto de recomendações, incluindo, potencialmente, “a necessidade de uma campanha de vacinação em massa”.
Entrada de vacinas no enclave
Saparbekov sublinhou que, dada a situação da água, saneamento e higiene em Gaza, será “muito difícil” para a população seguir os conselhos sobre lavar as mãos e beber água potável.
O representante da agência de saúde da ONU também insistiu que, se uma campanha de vacinação em massa for decidida, será responsabilidade de Israel facilitar a chegada de vacinas ao enclave.
Ele acrescentou que a OMS “até agora recebeu garantias de que isso será feito”.
Sobre a devastação do sistema de saúde de Gaza, Saparbekov disse que menos da metade das unidades básicas de saúde estão operacionais e apenas 16 dos 36 hospitais do enclave estão “parcialmente funcionais”.
As unidades ativas fornecem apenas serviços mínimos de saúde, como triagem de feridos. Na segunda-feira (22/07), a OMS e parceiros realizaram uma missão ao hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza, onde estão reabilitando o departamento ambulatorial, destruído em março de 2024, e convertendo-o em um departamento de emergência.
(*) Com Ansa e ONU News.