“Uma hecatombe”, segundo a Repórteres Sem Fronteiras (RSF), “um massacre”, de acordo com a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ): os dois relatórios anuais dessas ONGs atribuem à força militar israelense grande parte do número de jornalistas mortos em 2024 contabilizados até o momento.
O balanço da RSF, publicado na quinta-feira (12/12), afirma que “as forças armadas israelenses são responsáveis pela morte” de 18 jornalistas este ano, dos quais 16 em Gaza e dois no Líbano.
O número representa um terço do total de jornalistas mortos no exercício de suas funções ou em razão de seu trabalho em todo o mundo em 2024, totalizando 54, segundo essa contagem feita até 1º de dezembro.
Em seu relatório publicado na terça-feira, a FIJ estima que mais da metade dos jornalistas mortos este ano no mundo foram em Gaza (55 de 104).
“Nós rejeitamos esses números, não acreditamos que eles sejam corretos”, reagiu o porta-voz do governo israelense, David Mencer, na quarta-feira, em entrevista à AFP.
“Sabemos que a maioria dos jornalistas em Gaza provavelmente opera sob os auspícios do Hamas e que, enquanto o Hamas não for destruído, eles não serão autorizados a reportar a informação livremente”, acrescentou ele.
Métodos de cálculo diferentes
Os números diferem entre a RSF e a FIJ devido a um desacordo sobre o método de cálculo. A RSF só registra os jornalistas cuja morte a organização conseguiu “confirmar de maneira comprovada que ocorreu por causa de sua atividade”, e não “aqueles que foram alvo por motivos independentes de sua profissão ou cujo vínculo com seu trabalho ainda não foi confirmado”.
Além dos números, as duas ONGs concordam com o diagnóstico. “A Palestina é o país mais perigoso para os jornalistas, registrando um número de mortes mais elevado que qualquer outro país nos últimos 5 anos”, afirma a RSF, com sede em Paris.
No total, “mais de 145” jornalistas foram mortos pelas forças israelenses desde outubro de 2023 em Gaza, sendo “pelo menos 35 no exercício de suas funções”, segundo a ONG. Esses números aumentam para 155 e 40 se incluirmos o Líbano, acrescenta a RSF, que lamenta “uma hecatombe sem precedentes”.
Queixas por crimes de guerra
A organização registrou quatro queixas junto à Corte Penal Internacional (CPI) por “crimes de guerra cometidos contra jornalistas pelas forças israelenses”. “O jornalismo está ameaçado de extinção no enclave de Gaza”, declarou Anne Bocandé, diretora editorial da RSF, à AFP.
Ela apontou um “bloqueio” que assume “múltiplas dimensões”: além “das atrocidades cometidas diretamente contra os jornalistas”, Gaza permanece “fechada para acesso há mais de um ano”, com “áreas inteiras que não estão mais acessíveis e nas quais não se sabe o que acontece”.
Anthony Bellanger, secretário-geral da FIJ, com sede em Bruxelas, denuncia por sua vez “o massacre que está ocorrendo na Palestina sob os olhos do mundo inteiro”. “Muitos jornalistas são visados” deliberadamente, afirmou ele à AFP.
Israel “não tem como alvo os jornalistas”, garantiu por outro lado David Mencer.
Segundo a RSF, os lugares onde mais jornalistas foram mortos em 2024, após Gaza, são o Paquistão (7), Bangladesh e México (cinco vítimas em cada um).
Além dos jornalistas mortos, a RSF também registra aqueles que estão presos. Eles eram 550 no mundo até 1º de dezembro (contra 513 no ano passado).
Além de matar, Israel também prende
Os três países que mais detêm jornalistas são a China (124, incluindo 11 em Hong Kong), Mianmar (61) e Israel (41), que “sistematizou a detenção administrativa”, segundo a RSF.
Além disso, 55 jornalistas são atualmente mantidos reféns, dos quais dois foram sequestrados em 2024. Quase metade (25) está nas mãos do grupo Estado Islâmico.
Por fim, 95 jornalistas estão desaparecidos. Em 2023, o número de jornalistas mortos no mundo foi de 45 até 1º de dezembro, segundo a RSF (e 55 segundo o balanço final do ano).
América Latina
Em um relatório separado sobre a situação na América Latina, a RSF reitera a importância “essencial” dos mecanismos de segurança estatais para os jornalistas.
“Nos últimos 10 anos, Colômbia, México, Brasil e Honduras estabeleceram mecanismos de proteção do tipo. Mais recentemente, Equador e Peru apresentaram iniciativas de proteção em resposta ao aumento dos ataques”, explica o texto.
“Depois de vários governos hostis à imprensa, a Guatemala também está tentando implementar uma política de proteção, enquanto Chile e Paraguai estão discutindo projetos de lei sobre o tema”, acrescenta.
A RSF na América Latina recomenda 10 medidas concretas, incluindo um protocolo específico que leve em consideração as necessidades de viagem dos repórteres ou a proteção da privacidade de suas fontes.