Sexta-feira, 18 de julho de 2025
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O coordenador humanitário da ONU para o território palestino ocupado, Muhannad Hadi, afirmou nesta quarta-feira (12/03) que a população palestina na Faixa de Gaza está “em uma situação desesperadora” enquanto aguarda as negociações para a segunda fase do cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

“Recebemos esperança quando o cessar-fogo foi alcançado. Começamos a trazer mais ajuda de todas as direções, mas agora estamos esperando por uma segunda rodada de negociações e esperamos que resultem em algo frutífero”, declarou em entrevista à Al Jazeera.

Segundo o agente humanitário, os civis palestinos querem “um cessar-fogo permanente para terem a chance de restabelecer suas vidas”. “As pessoas agora estão extremamente preocupadas com as negociações”, completou.

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O também coordenador especial adjunto para o Processo de Paz no Oriente Médio falou ainda que a trégua possibilita a entrada de alimentos, que estão em escassez no enclave. A entrada de assistência humanitária em Gaza está interrompida há mais de nove dias consecutivos, com todas as passagens fechadas para a entrega de cargas.

“Não é como se as pessoas tivessem a oportunidade de estocar alimentos. As pessoas não têm renda, na verdade não há moeda, não há dinheiro em Gaza, e é só um desafio atrás do outro”, acrescentou Hadi.

Durante sua entrevista com a emissora catari, o funcionário da ONU declarou que nunca viu “nada parecido” como a situação em Gaza. “Nunca estive em um lugar onde tudo é necessário, onde banheiros eram o tópico [de discussão] de todos. Muitas vezes, as mulheres me disseram que, se têm acesso a água potável, não a bebem – nem mesmo as grávidas – porque ir ao banheiro é uma agonia, é uma jornada que pode acabar em uma catástrofe”, afirmou Hadi, descrevendo Gaza como “dois milhões de histórias tristes”.

O agente ainda alertou contra um “desastre” na Faixa de Gaza caso o bloqueio de eletricidade anunciado por Israel no último domingo (09/03) não seja suspenso.

O restabelecimento da energia elétrica no enclave palestino já foi exigido inclusive pelos familiares de reféns israelenses que ainda estão em Gaza. Segundo eles, a medida coloca “seus entes queridos em perigo”.

“Eu nem quero imaginar o cenário em que as negociações de cessar-fogo em Doha fracassem. Como humanitário, não consigo imaginar que seremos confrontados com essa situação”, concluiu.

UNRWA/X
Entrada de assistência humanitária em Gaza está interrompida há mais de nove dias consecutivos

OMS alerta contra poliomielite

A interrupção do cessar-fogo também arrisca a saúde pública em Gaza, em especial sobre a poliomielite, doença provocada por um vírus que pode levar à paralisia infantil.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), na última campanha, realizada no final de fevereiro, cerca de 550 mil crianças palestinas foram vacinadas contra a doença. Contudo, é essencial que o cessar-fogo seja alcançado para evitar o risco de propagação do vírus.

Hamid Jafari, diretor de erradicação da pólio na OMS, informou que apesar de 95% da meta de vacinação ter sido realizada em Gaza, ainda há detecção do vírus da poliomielite nas amostras de esgoto do enclave palestino.

“Esperamos que esse cessar-fogo realmente dure, porque não se trata apenas da poliomielite, mas da sobrevivência de crianças e comunidades”, declarou à Al Jazeera.

Corte de ajuda pode reverter cessar-fogo

O subsecretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Tom Fletcher, pediu na última terça-feira (11/03)que a entrada de ajuda humanitária em Gaza seja retomada imediatamente, ressaltando que quaisquer atrasos adicionais “reverterão ainda mais qualquer progresso alcançado durante o cessar-fogo”. Fletcher também apelou a ambas as partes pela manutenção da trégua e libertação dos reféns.

Por sua vez, Phillipe Lazzarini, comissário-geral da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) expressou atual no enclave que “a situação é semelhante à que prevaleceu em outubro de 2023”, após os ataques do Hamas contra Israel e as subsequentes ações militares na Faixa de Gaza.

Lazzarini destacou ainda a crise na Cisjordânia, onde as operações de segurança israelenses levaram ao maior deslocamento de palestinos desde 1967. Cerca de 40 mil pessoas, muitas delas refugiadas, foram forçadas a fugir de suas casas, com comunidades inteiras esvaziadas devido à intensificação das atividades militares.

(*) Com ONU News e informações da Al Jazeera