O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu na quinta-feira (30/01) a evacuação imediata de 2.500 crianças palestinas de Gaza que estão em risco iminente de morte nas próximas semanas.
“As crianças devem ser imediatamente evacuadas com garantia de que poderão retornar para suas famílias e comunidades”, postou Guterres em suas redes sociais.
O pedido ocorre após Guterres se reunir com quatro médicos estrangeiros que trabalharam como voluntários no enclave durante a guerra de Israel contra o Hamas. O chefe da ONU disse estar “profundamente comovido” com os relatos dos médicos.
“Algumas dessas crianças estão morrendo agora. Algumas morrerão amanhã. Algumas morrerão no dia seguinte”, disse aos repórteres o médico Feroze Sidhwa após a reunião com Guterres. Cirurgião de trauma da Califórnia, ele trabalhou em Gaza de 25 de março a 8 de abril de 2024.
Sidhwa explicou que a maioria dessas crianças precisa de coisas simples, mas que podem morrer porque a infraestrutura mais básica da atenção médica foi destruída em Gaza.
Ele deu exemplo de um menino de três anos que sofreu queimaduras no braço. A lesão cicatrizou bem, mas a cicatriz está cortando a circulação sanguínea, colocando-o em risco de amputação.
“Um acordo de cessar-fogo deve prever um mecanismo para evacuações médicas. Mas ainda não tivemos nenhuma informação a respeito”, disse Thaer Ahmar, médico de um pronto-socorro de Chicago que foi voluntário em Gaza em janeiro de 2024.
Além das crianças, outros 9,5 mil palestinos necessitam de sair do enclave para receber atenção médica.
Problemas médicos
A médica Ayesha Khan, que trabalha na emergência do hospital da Universidade de Sanford, foi voluntária em Gaza do final de novembro até 1º de janeiro. Ela diz que muitas crianças com amputações sofrem o risco de infecções e que não têm próteses nem qualquer reabilitação.

Em Gaza, 3 de cada 10 mortos são crianças, proporção inédita em um conflito
Khan mostrou aos jornalistas uma foto de duas irmãs amputadas dividindo uma cadeira de rodas. Contou que elas ficaram órfãs e disse que sua única chance de sobreviver é serem evacuadas para tratamento.
O problema é que as restrições de segurança não permitem que crianças viajem com mais de uma pessoa e o cuidador delas é uma tia, que está amamentando seu bebê.
“Embora tenhamos conseguido, com grande dificuldade, organizar a evacuação para elas, não deixaram a tia levar o bebê. Ela tem que escolher entre o bebê que está amamentando e a vida das duas sobrinhas”, disse ela à reportagem da Reuters.
‘Se saem, terão permissão para retornar?’
Khan disse que não existe nenhum processo em andamento para essas evacuações médicas e acrescentou: “elas terão permissão para retornar? Está em discussão agora a abertura da fronteira de Rafah apenas para as saídas, mas é saída sem direito a retorno”. Os médicos defendem um processo centralizado para as evacuações médicas com diretrizes claras.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou que, ao longo dos 15 meses de guerra, foram evacuados com seu apoio 5.383 pacientes. A maioria foi nos primeiros sete meses, antes do fechamento da passagem de Rafah, entre Egito e Gaza.
Desde o início dos ataques de Israel em Gaza morreram 13.800 crianças. Elas representam um de cada três palestinos mortos no conflito, uma proporção inédita em uma guerra.
Muitas faleceram alvejadas com mais de um tiro em áreas vitais, motivando acusações de execução proposital. O atual conflito também bateu recordes de crianças amputadas, segundo a ONU.
Nem a agência israelense responsável pela comunicação com os palestinos (a COGAT), nem a missão de Israel na ONU quiseram comentar sobre o pedido de evacuação médica das 2.500 crianças.