Sábado, 26 de abril de 2025
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A Academia do Oscar se pronunciou, pela primeira vez nesta quinta-feira (27/03) sobre o sequestro do cineasta palestino Hamdan Ballal, um dos diretores do documentário Sem Chão (No Other Land), por colonos e soldados israelenses.

Sem mencionar o nome de Ballal, que foi torturado pelos sionistas, o comunicado diz que a Academia “condena que artistas sejam prejudicados ou suprimidos por causa de seu trabalho ou opiniões”. 

“Acreditamos fundamentalmente que o filme tem o poder de esclarecer públicos globais e destacar diferentes perspectivas”, afirma o texto, também sem mencionar o longa que venceu na categoria de Melhor Documentário na premiação deste ano. 

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Os responsáveis também disseram “compreender” quando pedem que a Academia se posicione sobre “eventos sociais, políticos e econômicos”, mas alegou que o Oscar representa “cerca de 11.000 membros globais com muitos pontos de vista”. 

“Como organização, nosso foco continua a ser a celebração das vozes criativas que compõem a comunidade global do cinema – e apoiar sua liberdade de criar, desafiar e imaginar”, finalizou o comunicado. 

O texto que evita emitir uma opinião sobre a violência sofrida por Ballal foi divulgada por outro diretor de Sem Chão, o israelense antissionista Yuval Abraham. 

“Após nossas críticas, os líderes da Academia enviaram este e-mail aos membros explicando seu silêncio sobre a agressão de Hamdan”, disse por meio da rede social X. 

Abraham ainda comparou a resposta do Oscar com “a posição forte e legítima da Academia” quando o governo do Irã foi acusado de oprimir cineastas. 

Ataque ‘foi para matar’

Em vídeo veiculado pela Federação Árabe Palestina (Fepal) na última quarta-feira (26/03), Ballal afirma que esta foi “a primeira vez” que foi atacado “tão brutalmente” e “exposto a tamanha truculência”.

“Esse ataque foi feito para me matar. E foi feito depois que ganhei o Oscar. Eu não esperava ser submetido a um ataque tão brutal. Mas penso que depois do prêmio, nos tornamos o foco dos ataques. É uma ameaça, inclusive contra nossas vidas”, declarou o palestino.

O profissional de cinema foi sequestrado na segunda-feira (24/03) e libertado na terça (25/03). A denúncia original foi feita pelo seu colega Yuval Abraham. Conforme o relato do cineasta israelense, Ballal estava “sangrando”, apresentava “ferimentos na cabeça e no estômago”, e nessas condições teria sido sequestrado e levado a um local desconhecido.

“Após o ataque, Hamdan foi algemado e vendado a noite toda em uma base do exército enquanto dois soldados o espancavam no chão, segundo sua advogada Leah Tsemel, depois de falar com ele agora há pouco. Ele ainda está retido na delegacia de polícia de Kiryat Arba”, detalhou.

As IDF confirmaram terem prendido Ballal e justificaram o sequestro sob o argumento de que ele estava entre um grupo de palestinos que arremessaram pedras contra colonos israelenses. Entretanto, negaram tê-lo retirado à força de uma ambulância onde estava para tratar as feridas após ser agredido, conforme a denúncia de Abraham.

Mamoun Wazwaz/Getty Images
No início da semana, o cineasta palestino Hamdan Ballal, co-diretor do filme ‘Sem Chão’ (‘No Other Land’), foi agredido e sequestrado por colonos israelenses na Cisjordânia

Sem Chão (No Other Land)

Vencedor do Oscar 2025 na categoria de Melhor Documentário, Sem Chão conta a história das dificuldades que o palestino Basel Adra, co-diretor do filme, enfrenta enquanto documenta a destruição dos vilarejos de Masafer Yatta na Cisjordânia ocupada. O trama também retrata sua amizade crescente com um segundo diretor, o israelense Yuval Abraham, que passa, neste processo, a compreender as restrições, a discriminação que Adra enfrenta e a importância da resistência palestina.

Durante o discurso na principal premiação estadunidense de cinema, após a entrega do prêmio, Adra e Abraham (os outros dois diretores são Rachel Szor e Hamdan Ballal), realizaram uma forte denúncia das ações militares do regime sionista em Gaza e na Cisjordânia.

“Há cerca de dois meses, me tornei pai, e minha esperança para minha filha é que ela não precise viver a mesma vida que vivo agora — sempre temendo a violência dos colonos, as demolições de casas e os deslocamentos forçados que minha comunidade, Masafer Yatta, enfrenta todos os dias sob a ocupação israelense”, disse Adra.

Sem Chão já havia conquistado outros importantes prêmios. Foi escolhido o melhor documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2024, e Melhor Filme Não-Ficcional do Círculo de Críticos de Cinema de Nova York.