Terça-feira, 22 de abril de 2025
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Os 15 paramédicos cujos corpos foram desenterrados há oito dias de uma vala comum no sul de Gaza foram mortos “um por um”, segundo informações das Nações Unidas (ONU). Todos foram baleados nas partes superiores do corpo e um foi encontrado com as mãos atadas, evidenciando que foi alvejado depois de detido.

As vítimas eram oito paramédicos do Crescente Vermelho, seis membros da Defesa Civil e um funcionário da agência de ajuda aos refugiados da ONU (UNRWA).

Junto dos corpos encontrados estavam seus veículos – ambulâncias, um caminhão da defesa civil e carros do Ministério da Saúde claramente identificados.

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O escritório de assuntos humanitários das Nações Unidas (OCHA) informou que os paramédicos do Crescente Vermelho Palestino (PRCS) e as equipes da defesa civil estavam no local para resgatar colegas de outra equipe médica que haviam sido baleados no início do dia.

“Um por um, eles (os paramédicos e os trabalhadores da defesa civil) foram atingidos, seus corpos foram reunidos e enterrados nesta vala comum”, disse o chefe do escritório da OCHA na Palestina, Jonathan Whittall. “Estamos desenterrando-os em seus uniformes, com as luvas. Estavam aqui para salvar vidas e, em vez disso, acabaram em uma vala comum”, disse Whittall à reportagem do jornal britânico The Guardian.

Ele acrescentou que as ambulâncias e o veículo da ONU, destruídos, foram enterrados na areia e que isso só poderia ter sido feito por uma escavadeira do exército. Em sua rede social podem-se ver imagens da recuperação dos corpos e dos veículos.

Corpos das equipes de paramédicos e socorristas sendo resgatados
Jonathan Witaker
Corpos das equipes de paramédicos e socorristas sendo resgatados

Médico ouviu ao telefone soldados ordenando amarrar as vítimas

O diretor de programas de saúde do Crescente Vermelho, doutor Bashar Murad, disse que um dos colegas mortos estava falando ao telefone com a base da ambulância quando os soldados israelenses chegaram.

“Ele nos informou que ele e outra pessoa estavam feridos e pediu ajuda”, relatou Murad. “Minutos depois, durante a ligação, ouvidos soldados israelenses chegando e falando em hebraico para reunir a equipe. Disseram algo como: ‘reúna-os no muro e traga algo para amarrá-los’. Isso indicou que muitos da equipe ainda estavam vivos”.

Segundo o presidente do Crescente Vermelho Palestino, Younis Al-Khatib, as Forças de Defesa de Israel (IDF) impediram a coleta dos corpos durante vários dias. A IDF alega que autorizou a coleta assim que as “circunstâncias operacionais” permitiram.

O chefe de assuntos humanitários da ONU descreveu a recuperação dos corpos como uma operação tensa. “Enquanto viajávamos para a área, no quinto dia, encontramos centenas de civis fugindo sob tiros”, contou. “Testemunhamos uma mulher sendo baleada na parte de trás da cabeça. Quando um jovem tentou resgatá-la ele também foi baleado”.

Israel alega que médicos não informaram de suas operações

O porta-voz do Ocha em Genebra, Jens Laerke, resumiu a tragédia. “As informações disponíveis indicam que a primeira equipe foi morta pelas forças israelenses em 23 de maio e outras equipes de emergência e ajuda foram atingidas uma após a outra ao longo de várias horas enquanto procuravam seus colegas desaparecidos”, disse Laerke.

O exército israelense alega que as ambulâncias não informaram previamente de suas operações e que a área era área de combates.

De acordo com as Nações Unidas, ao menos 1060 profissionais de saúde foram mortos pelas FDI desde que Israel lançou sua ofensiva em Gaza. Isso ocorreu após o ataque do Hamas que matou 1.200 pessoas em Israel em outubro de 2023.

Boa parte dos profissionais de saúde foram mortos quando hospitais foram repetidamente bombardeados em Gaza. Outros foram presos e torturados e muitos alvejados nas ruas. Houve inúmeras denúncias de que eles, assim como jornalistas, eram alvos preferenciais dos ataques israelenses.