Ao desembarcar na Malásia, o cidadão palestino, Muslim M. A. Abuumar Rajaa, publicou uma carta nesta terça-feira (25/06) criticando o lobby sionista e a abordagem da Polícia Federal (PF) no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Há dois dias, a Justiça Federal suspendeu uma decisão liminar e autorizou a ordem de repatriação dada pela autoridade policial, a mando do Instituto para Operações Especiais e de Inteligência de Israel (Mossad), conforme apuração de Opera Mundi.
Muslim, sua esposa grávida de sete meses, seu filho de seis anos e sua sogra, de 69, chegaram ao Brasil na sexta-feira (21/06) e foram ordenados a retornarem a Kuala Lumpur após serem barrados por policiais no aeroporto. O palestino, que é um acadêmico e ativista da causa palestina, foi submetido ao interrogatório e questionado sobre sua opinião em relação ao genocídio promovido por Israel na Faixa de Gaza.
Após a emissão uma decisão liminar no sábado (22/06) impedindo a expatriação da família, a PF prestou informações referentes às motivações do bloqueio. Na tarde de domingo (23/06), a Justiça Federal entendeu que as argumentações das autoridades policiais tinham “fundamentação legal”, liberando, portando, a deportação de Muslim e de sua família.
Leia o comunicado de Muslim:
“Comunicado de imprensa sobre a infeliz decisão da Polícia Federal Brasileira de me proibir de entrar no país
Acabo de chegar à minha casa em Kuala Lumpur após uma viagem familiar mal sucedida para visitar o meu irmão no Brasil, que infelizmente foi prejudicada pela intervenção sionista, claramente devido às minhas atividades acadêmicas de apoio à luta palestina.
Esta árdua jornada incluiu uma decisão injusta da Polícia Federal de impedir a minha entrada no Brasil, emitida sob as ordens de um país estrangeiro imperialista que patrocina ativamente o genocídio israelense em curso em Gaza. Ao chegar ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, na noite de sexta-feira (21 de junho de 2024), vários policiais me abordaram na entrada do aeroporto e me levaram, junto com minha família, para o interrogatório. As perguntas centraram-se nas minhas opiniões políticas e atividades acadêmicas em apoio à causa palestina. Fui questionado sobre apresentar em conferências acadêmicas internacionais sobre a Palestina, sobre a minha participação em fóruns internacionais organizados por grupos de reflexão globais e sobre a minha opinião referente à guerra em curso em Gaza. Fui muito claro ao afirmar que, como acadêmico e palestino, acredito que Israel é um regime de apartheid que está cometendo genocídio em Gaza e que deve ser levado à justiça, e que isto está em conformidade com o direito internacional e a posição do próprio governo brasileiro.
Após o interrogatório, no qual não foram fornecidos advogado nem tradutor, os agentes de segurança do aeroporto me informaram da decisão da Polícia Federal de impedir minha entrada no país, assim como da minha família, e de nos deportar imediatamente para o exterior.
Rejeitei a ordem de deportação e pedi esclarecimentos sobre o motivo da proibição, principalmente porque possuo um visto válido de entradas múltiplas e já visitei o país anteriormente sem problemas. Além disso, nunca violei nenhuma lei brasileira e sei muito bem que o governo brasileiro não vê a resistência palestina como terrorismo. Nessa altura era muito claro que as ordens vinham de fora do país, de uma potência imperialista estrangeira que tem uma longa e obscura história de intromissão nos assuntos de outros países.
Nas 48 horas seguintes, com a ajuda de estimados ativistas palestinos, especialmente o chefe do Instituto Brasil Palestina, Ahmed Shehada, travei uma batalha legal contra a decisão injusta da polícia. Enquanto isso, vários parlamentares e ativistas brasileiros travaram uma dura batalha política e midiática contra o influente lobby sionista no Brasil. Esta guerra de narrativas ainda continua.
O período de 48 horas incluiu a nossa detenção forçada dentro do hotel do aeroporto e a emissão de uma ordem judicial preparada às pressas confirmando a proibição da polícia e a deportação imediata para fora do país. A polícia apresentou um conjunto de alegações forjadas de apoio ao terrorismo, devido à minha atividade acadêmica em apoio à causa palestina, à minha clara posição de apoio aos direitos palestinos e de denúncia da ocupação terrorista e sionista da Palestina.
Infelizmente, o meu advogado de defesa não teve tempo suficiente para refutar estas acusações e alegações infundadas, que simplesmente violam a própria Constituição brasileira que estipula o respeito ao direito internacional, e a lei brasileira que não considera a resistência palestina um terrorismo.
Para mim e para os ativistas brasileiros que apoiam os direitos palestinos, a batalha ainda não acabou, e continuaremos a busca legal para anular esta decisão injusta e exigir desculpas e indenizações. Estou absolutamente convicto de que a justiça prevalecerá no final.
Muslim Abuumar,
Terça-feira, 25 de junho de 2024
Kuala Lumpur.”