Um ano após o avanço de Israel contra a Faixa de Gaza, serviços de bigtechs como Google e Apple continuam a disponibilizar imagens de satélite de baixa resolução da região, apesar do fim das restrições legais que limitavam a qualidade dessas imagens.
Em 2020, a emenda Kyl-Bingaman, que restringia a resolução de imagens de Israel e territórios palestinos sob o pretexto de segurança, foi suspensa.
A lei, de 1997, limitava a qualidade dos registros feitos via satélite que poderiam ser comercializadas por empresas norte-americanas, e foi passada durante a administração do ex-presidente democrata Bill Clinton, após um lobby bem-sucedido de representantes de Israel.
No entanto, até o momento, as principais plataformas de mapeamento, como Google Maps e Apple Maps, não atualizaram suas imagens da região, gerando críticas de pesquisadores e jornalistas que dependem de imagens de alta definição para monitorar áreas de conflito, como o enclave de 41 quilômetros de extensão.
A Apple havia confirmado, à revista norte-americana Vice, em 2021, que estava em processo de atualização de suas imagens. Na mesma época, o Google não havia dado uma resposta concreta sobre seus planos – até agora, nada mudou.
Em declaração à Vice, a empresa com sede em Mountain View havia dito: “o Google considera oportunidades de atualizar suas imagens de satélite quando versões de maior resolução estão disponíveis”, sem especificar se isso seria feito no caso de Gaza, ou quando.
Jornalistas investigativos, especialistas e pesquisadores, como Aric Toler, diretor de treinamento e pesquisa no Bellingcat, site holandês, apontaram na época que, apesar de as imagens de alta resolução já estarem disponíveis, naquele momento, por fornecedores como a Maxar Technologies, elas ainda não foram incorporadas às plataformas de mapeamento mais populares.
“Se tudo é igual – não há restrições legislativas, há imagens disponíveis e assim por diante – não há motivo que explique por que Gaza, em particular, tem imagens antigas e de baixa resolução”, disse Toler, a Vice. Ele acrescentou que a prontidão com que o Google atualizou as imagens da Ucrânia ainda em 2021 levanta dúvidas sobre a falta de ação em Gaza.
A baixa qualidade das imagens tem sido um obstáculo significativo para os investigadores que trabalham para monitorar a destruição causada pelos ataques aéreos israelenses. “Não espero que eles consigam fazer as coisas em questão de dias ou mesmo semanas, mas se estamos falando de meses e até anos, isso começa a fazer você coçar a cabeça um pouco”, dizia Christoph Koettl, jornalista do New York Times, também à revista.
Além disso, a situação é agravada pela natureza das relações entre o Google e o Estado de Israel, conforme apurado pelo portal Middle East Eye, já em 2022. Naquele ano, a empresa assinou um contrato de US$ 1,2 bilhão com o governo israelense para fornecer serviços de nuvem, incluindo inteligência artificial e tecnologias de aprendizado de máquina.
Após a decisão, funcionários do Google, em carta aberta publicada pelo The Guardian, protestaram contra o acordo, alegando que a tecnologia poderia ser usada para reforçar o “apartheid imposto por Israel” ao povo palestino.
Comparações com outra região em conflito reforçam a crítica à Google: enquanto áreas da Ucrânia receberam atualizações quase instantâneas de imagens em alta resolução, a Faixa de Gaza, uma das regiões mais densamente povoadas do mundo, permanece retratada com imagens desatualizadas e desfocadas.