Sábado, 19 de julho de 2025
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Cerca de 60 corpos foram encontrados na quinta-feira (11/07) sob escombros em Shujayea, bairro do leste da Cidade de Gaza, no final de uma vasta operação israelense no local. O anúncio foi feito pela Defesa Civil do enclave palestino. O balanço de mortos ainda pode aumentar, já que a devastação do local é imensa e que 85% dos imóveis estão inabitáveis, dizem autoridades palestinas. Segundo o grupo Hamas, 32 pessoas morreram em vários bombardeios israelenses contra o enclave apenas na última noite, a maioria crianças e mulheres.

O Exército israelense anunciou na noite de quarta-feira (10/07) que havia concluído suas operações lançadas em 27 de junho na cidade, que levaram ao desmantelamento de “oito túneis” e à eliminação de “dezenas de terroristas”, segundo um comunicado. “Agora 85% dos edifícios do distrito estão inabitáveis”, sem contar toda a infraestrutura que foi “demolida”, disse o porta-voz da Defesa Civil, Mahmoud Basal, em um comunicado.   

“Durante três dias, vivemos o horror total. Primeiro saímos debaixo de bombas e tiros. Havia franco-atiradores, aviões militares, tanques, a marinha. Há três dias, não conseguimos dormir, não temos comida. Vivemos com medo, angustiados e preocupados com a população, principalmente crianças, mulheres e idosos”, lamenta o professor de francês  Ziad Medoukh, ouvido por telefone pelo jornalista da RFI, Eliott Brachet.

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Campanha Free Palestine

As forças israelenses pediram a todos os moradores, entre 300.000 a 350.000 pessoas, que deixassem a área na quarta-feira, de acordo com a ONU. Apesar da tensão, Medoukh, que buscou refúgio no oeste do território, não quer deixar o enclave.

“Os palestinos, apesar das mortes, dos feridos, da destruição em massa, continuam aqui e esperam que as negociações no Cairo e em Doha, no Catar, cheguem a um cessar-fogo. Mas, no momento, estamos debaixo de bombas e tolerando o insuportável. Essa agressão, esses bombardeios horríveis, estão por toda parte na Faixa de Gaza”, completa.

O Exército anunciou nesta quinta-feira que continuaria sua operação no centro da Cidade de Gaza contra combatentes “na sede da UNRWA”, a agência das Nações Unidas para refugiados palestinos.     

As operações na região sul de Rafah, na fronteira com o Egito, também serão mantidas, segundo o Exército de Israel que, acrescentou que suas tropas “eliminaram dezenas de terroristas”. Entre eles está Hassan Abu Kuik, descrito como chefe das forças de segurança do Hamas, que “realizaram vários ataques terroristas” contra Israel.    

Os soldados israelenses também localizaram uma oficina para a produção de armas e “grandes somas de dinheiro usadas para atividades terroristas”, segundo um comunicado.    

Ainda nesta quinta-feira, quatro mortos, incluindo uma criança, foram levados para o necrotério do hospital Nasser de Rafah após ataques israelenses no bairro de Tal al-Sultan, no oeste da cidade, de acordo com o estabelecimento.

No centro da Faixa de Gaza, outras quatro pessoas também morreram em um ataque israelense ao campo de refugiados de Nuseirat, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.   

Twitter/Palestine Info Center
Prédios destruídos após operações israelenses no bairro de Shujayea, na Cidade de Gaza

Relatório mostra falhas na segurança israelense

A guerra de Israel contra o povo palestino já completou dez meses. Durante o ataque do Hamas em 7 de outubro a Israel, que desencadeou o conflito, 251 pessoas foram sequestradas,116 ainda estão detidas em Gaza e 42 morreram, segundo Israel.    

Em um relatório divulgado na quinta-feira, o Exército israelense reconheceu seu “fracasso” no ataque do Hamas ao Kibutz Beeri em 7 de outubro. Segundo o documento, a investigação “ilustra claramente a dimensão do fracasso e o desastre vivenciados pelos moradores que defenderam suas famílias por muitas horas, enquanto o Exército não estava lá para protegê-los”. 

Em resposta, Israel prometeu destruir o Hamas e lançou uma ofensiva que até agora matou pelo menos 38.345 pessoas, a maioria civis, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde do governo de Gaza, administrado pelo Hamas, nessa quinta-feira.   

A situação no enclave é catastrófica. A ajuda humanitária está parada no lado palestino do posto de controle de Kerem Shalom, no sul. A ONU e Israel se culpam mutuamente por bloquear as distribuições.   

Negociações de trégua

Novas negociações na tentativa de obtenção de uma trégua ocorreram nesta quinta-feira no Catar, um dos países mediadores, ao lado dos Estados Unidos e do Egito. 

Segundo o presidente dos EUA, Joe Biden, houve “progresso” nas discussões. “Ainda há lacunas a serem preenchidas. Estamos progredindo. A tendência é positiva e estou determinado a concluir este acordo e pôr fim a esta guerra, que deve terminar agora”, disse  Biden na sexta-feira em uma coletiva de imprensa realizada após a cúpula da OTAN.   

O Hamas anunciou no domingo que concorda negociar a libertação dos reféns na ausência de um cessar-fogo permanente com Israel. O grupo vem fazendo essa exigência desde o início.

Netanyahu continua defendendo que o Hamas – considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia – seja destruído e a libertação de todos os reféns.

Na noite de quinta-feira, o premiê declarou que Israel visava obter o controle de uma área da Faixa de Gaza que faz fronteira com o Egito, ocupada no início de maio, para evitar o “contrabando de armas” para o Hamas do vizinho Egito.    

A exigência de manter o “corredor da Filadélfia e a passagem de Rafah” é um dos “quatro princípios” estabelecidos por Israel nas negociações para um acordo de cessar-fogo em Gaza e a libertação de reféns, disse Netanyahu, enquanto o Hamas exige a evacuação da área pelo exército israelense.

O Ministério da Saúde do governo do Hamas informou nesta sexta-feira (12/07) que 32 palestinos foram mortos em ataques israelenses e transferidos para hospitais na Faixa de Gaza.

A mídia estatal do Hamas disse que “mais de 70 ataques aéreos” foram registrados em vários locais da Faixa de Gaza, incluindo bairros da Cidade de Gaza, o campo de Nuseirat, no centro, Khan Younis e Rafah, no sul.