Prisão de Khalil é ataque ‘direcionado, retaliatório e extremo à liberdade de expressão’, afirma defesa
Após contato com advogados, estudante palestino detido nos EUA revelou que sentiu-se ‘sequestrado’ durante detenção pelo ICE
A defesa de Mahmoud Khalil, estudante palestino recém-formado na Universidade de Columbia, declarou nesta sexta-feira (14/03) que sua prisão pela Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) apesar de seu visto de residência permanente “é um ataque direcionado, retaliatório e extremo ao direito à liberdade de expressão”.
Em entrevista à CNN, a advogada Donna Lieberman afirmou que Khalil, detido na noite do último sábado (08/03), estava sendo preso “por ter ideias”. O estudante era um dos líderes dos movimentos pró-Palestina na Columbia, epicentro de manifestações em solidariedade a Gaza das universidades norte-americanas e alvo do governo Donald Trump por suposto antissemitismo nestes atos.
Preso sem nenhuma acusação criminal, o ativista foi acusado pelo próprio presidente republicano de estar “alinhado com o Hamas”. Segundo o jornal britânico The Guardian, o estudante foi preso com base em uma lei que permite que o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, “remova alguém do país se ele tiver motivos razoáveis para acreditar que sua presença ou atividades teriam consequências adversas potencialmente sérias para a política externa”.
“Eles não estão alegando que ele fez algo ilegal, eles apenas não gostaram do que ele disse”, afirmou Lieberman sobre a acusação. “É uma tentativa de intimidar alunos, professores e o resto de nós. Essa ação para reprimir a liberdade de expressão é absolutamente aterrorizante”, declarou.
Em um registro da última quinta-feira (13/03), os advogados de Khalil documentaram o tratamento que o ICE tem dispensado a ele: “Mahmoud Khalil sentiu como se estivesse sendo sequestrado quando foi algemado, acorrentado e levado às pressas de Nova Iorque para um centro de detenção de imigração na Louisiana”.
O documento da defesa registrado no tribunal federal de Manhattan é resultado de uma ordem federal emitida na última quarta-feira (12/03) para que Khalil finalmente pudesse entrar em contato com seus advogados.
Acessado Guardian, o registro exige que Khalil seja libertado “imediatamente” ao registrar declarações do estudante sobre o momento em que foi detido.

Grupo de direita pró-Israel Betar US está por trás da detenção de Khalil
Segundo o ativista, os agentes do ICE que invadiram seu alojamento na Universidade de Columbia e o prenderam em frente à sua esposa grávida de oito meses nunca se identificaram.
O estudante também relatou que já na Louisiana, o ICE o direcionou para passar a noite em um bunker, sem travesseiros ou cobertores. Khalil “se preocupa com a esposa e também está muito preocupado em perder o nascimento do primeiro filho”, diz ainda o processo da defesa.
“Lista de deportação”
Segundo o Guardian, o grupo de direita pró-Israel Betar US está por trás da detenção de Khalil e de outros estudantes envolvidos em protestos pró-Palestina nas universidades norte-americanas.
De acordo com uma publicação na rede social X do grupo, na última segunda-feira (10/03), sua equipe está “trabalhando em deportações e continuará a fazê-lo”. Para cidadãos norte-americanos, a organização pró-Israel espera “que cidadãos naturalizados comecem a ser pegos dentro de um mês”.
Para isso, o Betar US organizou e enviou ao governo Trump uma “lista de deportação” com nomes de pessoas que estão nos EUA e se envolveram nas mobilizações em solidariedade à Gaza que ocorreram nas faculdades.
O grupo também alega ter documentos e evidências da participação das pessoas nos atos. Para eles, esses indivíduos “aterrorizam a América”.
Contatado pelo Guardian, o governo norte-americano não respondeu se está trabalhando com o Betar US ou outras organizações similares para realizar as prisões e deportações.
(*) Com informações de The Guardian
