Quarta-feira, 26 de março de 2025
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O Centro de Estudos Palestinos (CEPAL) da Universidade de São Paulo (USP) emitiu um manifesto contra a “Definição Prática de Antissemitismo” da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês) e sua adoção por instituições de ensino e pesquisa no Brasil.

O documento, que conta com a adesão de dezenas de acadêmicos de diversas instituições do ensino superior brasileiras, foi divulgada após a decisão tomada pela Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), de seguir um “Protocolo Antidiscriminatório” que adota a definição de antissemitismo determinado pela IHRA.

“Rejeitamos a adoção da ‘definição prática’ da IHRA, feita a partir da pressão de grupos externos à academia. Chamamos a que a Fundasp revogue sua decisão e que a própria Pontifícia Universidade Católica – PUC/SP não seja levada a adotar uma definição tão polêmica, pouco eficaz no combate ao verdadeiro crime de antissemitismo, e já rejeitada pelos principais pesquisadores da história do Holocausto e do antissemitismo no mundo”.

O documento do CEPAL argumenta que a “definição prática” do antissemitismo da IHRA constitui uma ferramenta de “silenciamento do debate acadêmico; ocultação das violações de direitos humanos cometidas pelo Estado de Israel contra o povo palestino; criminalização das posições críticas às políticas anti-palestinas conduzidas pelo Estado de Israel”.

X/UNRWA
O CEPAL critica que a “definição prática” do antissemitismo da IHRA constitui uma ferramenta de “silenciamento do debate acadêmico e ocultação das violações de direitos humanos cometidas pelo Estado de Israel contra o povo palestino”

Segundo o manifesto, um dos pontos mais controversos é a forma como a definição associa o antissionismo ao antissemitismo para silenciar os questionamentos às políticas israelenses, especialmente no contexto atual do genocídio em Gaza, ao provocar uma confusão entre oposição política e discriminação religiosa ou étnica.

Rejeitando a possibilidade de que a PUC-SP siga a mesma decisão da Fundasp, o CEPAL sustenta que todas as universidades brasileiras estão “plenamente capacitadas para discutir e combater o antissemitismo” sem a necessidade de adotar uma “definição prática” do assunto para “simplesmente agradar a grupos de pressão com maior ou menor poder político”.

“Chega a ser moralmente deplorável que, no momento em que o Estado de Israel pratica o crime de genocídio contra o povo palestino, uma instituição acadêmica brasileira adote, em reuniões fechadas e sem qualquer discussão com seu próprio corpo acadêmico, uma ‘definição prática’ cujo principal efeito prático não seja a denúncia e a proteção contra o verdadeiro antissemitismo, mas sim blindar o Estado de Israel de qualquer crítica por sua atual conduta de genocídio e limpeza étnica”, diz o documento.

O CEPAL também lembra que o combate ao “real e criminoso antissemitismo” deve ser feito de forma precisa e legítima, sem diluir o significado histórico da discriminação contra os judeus e as instituições judaicas.