Mais de 150 figuras da indústria do entretenimento dos Estados Unidos exigiram que a Academia Nacional de Artes e Ciências Televisivas (Natas) revogue a indicação da jornalista palestina Bisan Owda aos prêmios Emmy de 2024.
Owda, junto com a rede AJ+ (projeto digital do jornal Al Jazeera), foi nomeada para o Emmy de Notícias e Documentário na categoria Melhor Matéria Principal — Formato Curto, pela reportagem “It’s Bisan from Gaza and I’m Still Alive” (Aqui é Bisan de Gaza e ainda estou viva, em tradução).
O filme segue a jornada de sua família após escapar de um bombardeio de Israel contra sua residência em Beit Hanoun, no norte da Faixa de Gaza, buscando refúgio em uma suposta “zona segura” no Hospital al-Shifa, maior complexo de saúde do enclave sitiado.
Em sua reportagem de oito minutos, produzida pela divisão digital da Al Jazeera, Owda mostra a vida nas tendas improvisadas para abrigar os deslocados à força na Cidade de Gaza, incluindo entrevistas com sobreviventes, como uma menina de 11 anos de idade que perdeu ambos os pais para um bombardeio.
Por meio de uma carta aberto, um coletivo de celebridades e executivos autointitulado Creative Community For Peace (CCFP) acusa Owda de ter conexão com a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), grupo criminalizado nos Estados Unidos.
O coletivo sionista em Hollywood buscou difamar a jornalista ao acusá-la de possuir “um histórico em promover inverdades perigosas, espalhar o antissemitismo e apoiar a violência”.
Entre os signatários, estão a ex-diretora executiva do estúdio Paramount, Sherry Lansing; o bilionário israelo-americano Haim Saban; o executivo e produtor canadense Michael Rotenberg; e as atrizes Selma Blair e Debra Messing — ambas denunciadas por declarações racistas e islamofóbicas no contexto da crise em Gaza.
Por sua vez, a Natas, responsável pelas nomeações, rejeitou veementemente as acusações. Adam Sharp, diretor executivo da organização, reiterou que o grupo “foi incapaz de corroborar as alegações”, sem quaisquer provas ou evidências.
Sharp reiterou que o conteúdo nomeado é consistente com as regras e políticas de sua organização, ao observar que o material passa por avaliação de dois painéis de jurados independentes incluindo líderes editoriais das principais agências norte-americanas.
A reportagem foi selecionada entre mais de 50 candidatos em uma das categorias mais competitivas deste ano. Sharp ainda destacou que o trabalho de Owda é reconhecido por outras premiações do setor, incluindo os Prêmios Peabody e Edward R. Murrow.
A premiação George Foster Peabody, considerada como equivalente ao Pulitzer para o jornalismo eletrônico, laureou Owda em 9 de junho por “sua bravura e persistência em meio ao perigo iminente, ao carregar o pesado fardo do jornalista enquanto todo o mundo assiste”. Owda recebeu a premiação de um campo de refugiados em Gaza ocupada.
Os prêmios Emmy para as categorias de notícias serão anunciados em 25 de setembro. Apesar dos ataques, Owda permanece nomeada.
A repórter conquistou milhões de seguidores nas redes sociais ao documentar a campanha israelense contra a população civil na Faixa de Gaza desde outubro, com mais de 40 mil mortos e 90 mil feridos até então, além de dois milhões de desabrigados.
Israel age em desacato de uma resolução por cessar-fogo do Conselho de Segurança e medidas cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), com sede em Haia, onde é réu por genocídio sob denúncia sul-africana deferida em janeiro.
(*) Com Monitor do Oriente Médio