Quinta-feira, 15 de maio de 2025
APOIE
Menu

Dois soldados israelenses que participaram do massacre cometido pelas Forças Armadas de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) contra os palestinos residentes na Faixa de Gaza, e que passavam férias no Brasil e no Chile, se tornaram alvo de investigações nesses respectivos países por supostos crimes de guerra cometidos durante a ofensiva que já matou mais de 45 mil civis desde o seu início, em outubro de 2023.

O primeiro caso ocorreu no Brasil. Em resposta a uma denúncia feita pela Fundação Hind Rajab, a Justiça Federal brasileira iniciou um processo de investigação contra o soldado israelense Yuval Vagdani, por supostos crimes de guerra praticados na Faixa de Gaza. A decisão foi emitida pela juíza federal Raquel Soares Charelli, da Seção Judiciária do Distrito Federal.

Vagdani estaria passando férias no Brasil, mais precisamente no Estado da Bahia, e é acusado de atuar na demolição de um quarteirão residencial na Faixa de Gaza, em novembro de 2024.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Segundo a denúncia da Fundação Hind Rajab, o soldado teria participado de uma operação com explosivos fora de situação de combate, o que poderia configurar crime de guerra. O local demolido servia de abrigo para palestinos que se refugiavam dos bombardeios lançados por Israel.

De acordo com o jornal The Times of Israel, Vagdani teria deixado o território brasileiro na manhã deste domingo, em operação que foi coordenada pelo Ministério de Relações Exteriores de Israel e pela Embaixada de Israel no Brasil.

A advogada Maíra Pinheiro, que representa a Fundação Hind Rajab no Brasil, afirma que “o fato de um Tribunal de Justiça no Brasil reconhecer o princípio da jurisdição universal é histórico, pois significa que casos de crimes de guerra que violam o Estatuto de Roma, do qual o Brasil é signatário, podem e devem ser julgados no nosso país, quando o autor desses crimes se encontra em nosso território, como neste caso”.

O Estatuto de Roma é o documento constitutivo do Tribunal Penal Internacional (TPI), estabelecido em cerimônia realizada em Roma, capital da Itália, no dia 17 de julho de 1998. O mecanismo prevê a atuação da corte em casos de crimes de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão. Atualmente, 124 países são membros do Estatuto, entre eles o Brasil e a Palestina – Israel não faz parte.

Maíra Pinheiro também ressalta que as provas apresentadas à Justiça Federal “são muito consistentes, já que comprova com fotos, vídeos e informações oficiais que o soldado investigado atuou em uma operação na qual o exército israelense destruiu múltiplas residências em uma zona civil, e que estava sendo ocupada por pessoas em situação de deslocamento forçado”.

“Nós chegamos a contactar três famílias que foram afetadas por essa operação e uma delas assinou uma procuração que nos autoriza a atuar neste caso, as outras duas preferiram não denunciar com medo de possíveis represálias por parte de Israel, o que é compreensível”, acrescenta a advogada.

Fundação Hind Rajab
Yuval Vagdani, soldado israelense investigado enquanto passava férias no Brasil, teria participado de operação de demolição de abrigo para refugiados em Gaza

Soldado denunciado no Chile

O caso chileno também é promovido pela Fundação Hind Rajab, ONG com sede na Bélgica cujo nome é uma homenagem a uma menina palestina de cinco anos, assassinada por tropas israelenses em janeiro de 2024.

A iniciativa conta com o apoio de um grupo de 620 advogados chilenos, e acusa o militar israelense Saar Hirshoren, que se encontrava de férias na região de Aysén, no extremo sul do país andino.

O representante da Fundação no Chile é o advogado e ex-deputado comunista Hugo Gutiérrez. Segundo ele, “Hirshoren publicou em sua conta de Instagram um vídeo no qual podemos vê-lo junto com outros militares israelenses, cometendo crimes de guerra e crimes contra a humanidade”.

A relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Francesca Albanese, destacou em suas redes sociais que “no Brasil e em outros lugares, ações legais contra israelenses suspeitos de crimes em Gaza são necessárias e já deveriam ter sido tomadas. O apartheid de Israel não medirá esforços para proteger seus soldados, pois uma condenação no exterior por crimes contra palestinos é um precedente que não podem permitir. No entanto, a justiça é imparável.

Reação isralense

Desde o surgimento desses dois casos, o Ministério de Relações Exteriores de Israel e a Rádio das Forças Armadas israelenses têm instruído os militares do país a consultarem seus advogados quando forem passar férias em países estrangeiros, para averiguar possível problemas como os que ocorreram no Brasil e no Chile.

No âmbito da política interna israelense, o deputado Dan Illouz, membro da bancada de apoio do partido de Netanyahu no Congresso, afirmou em entrevista à imprensa local que “o Brasil se tornou um Estado patrocinador de terroristas”.

“Israel não ficará de braços cruzados diante da perseguição de seus soldados. (O Brasil) pagará o preço se não mudar sua conduta”, ameaçou o parlamentar.

 

Com informações de Times of Israel e La Tercera.