O presidente norte-americano Donald Trump disse na noite de segunda-feira (10/02) que cancelará o acordo de cessar-fogo e deixará “o inferno se instalar” em Gaza, caso todos os reféns israelenses mantidos pelo Hamas não sejam libertados até sábado (15/02).
Ele também afirmou que pode suspender a ajuda à Jordânia e ao Egito se os dois países não aceitarem receber a população palestina que ele insiste que deve abandonar o enclave definitivamente.
“No que me diz respeito, se todos os reféns não forem libertados até sábado ao meio-dia, os portões do inferno se abrirão. (…) Estou falando por mim, Israel pode me corrigir”, disse Trump.
As declarações foram feitas após o Hamas anunciar que adiaria a libertação de reféns – prevista para sábado, segundo o acordo – em função do descumprimento do acordo de cessar-fogo por parte de Israel.
O grupo palestino acusou Tel Aviv de atrasar o retorno dos palestinos ao norte de Gaza, de continuar atacando a população com aviões, drones e tiros e de não facilitar a entrada de ajuda humanitária como determina o acordo.
Em função disso, o porta-voz militar do Hamas, Abu Obeida, disse que não haveria mais libertação de reféns enquanto Israel não “cumprisse sua parte e compensasse as últimas semanas”.
O grupo explicou que fez o anúncio cinco dias antes da entrega programada dos reféns para dar “aos mediadores tempo suficiente para pressionar Israel a cumprir suas obrigações”. E, na noite da segunda-feira, o Hamas voltou a frisar que “a porta continua aberta” para a próxima troca de reféns e prisioneiros no próximo sábado.
Israel, por seu lado, denuncia que os últimos reféns libertados estavam visivelmente desnutridos e em condições indignas. Mas não relaciona essa situação com o bloqueio imposto por seu Exército, que impediu ou reduziu drasticamente a entrada de alimentos, medicamentos e até água em Gaza durante os últimos 16 meses.
Os políticos israelenses de extrema direita aplaudiram o pedido de Trump para cancelar o acordo de trégua, caso o Hamas não liberte todos os prisioneiros restantes até sábado.
‘Trump está certo, devemos voltar e destruir tudo’
“Trump está certo! Devemos voltar e destruir tudo agora”, disse o ex-ministro da Segurança Nacional Itamar Ben-Gvir. “Todos eles, agora!”, disse em sua rede X o ministro das Finanças Bezalel Smortrich referindo-se à libertação dos reféns.
Foi ele que, durante as negociações do cessar-fogo, disse que deixaria o governo se a guerra não recomeçasse após o retorno dos 33 reféns.
Mas familiares israelenses dos reféns que estão em Gaza tem uma visão diferente. “A declaração de Abu Obeida é o resultado direto do comportamento irresponsável de Netanyahu, disse EInav Zangauker, mãe do refém Matan Zangauker. “A procrastinação deliberada (de Netanyahu) e declarações provocativas desnecessárias interromperam a implementação do acordo”, conclui ela.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump na entrevista em que Trump disse que ‘assumiria’ Gaza
O anúncio do Hamas e as declarações de Trump já produziram movimentos do Exército israelense e instauraram o medo em Gaza. Licenças de soldados foram canceladas e as tropas sionistas estão em estado de alerta.
Repórteres da Al Jazeera informaram que a população quase não dormiu na cidade de Gaza porque passaram a noite com drones pairando muito baixo nos céus, assim como no norte da Faixa. Também foram vistos jatos de combate e canhoneiras que se aproximavam da costa da cidade e de áreas do norte.
Trump: ‘Gaza será um enclave imobiliário para o futuro’
Pouco antes das ameaças diretas ao Hamas, o presidente dos Estados Unidos deu mais detalhes sobre seus planos para Gaza em entrevista veiculada pela Fox. Ele reafirmou que a solução seria a retirada dos mais de 2 milhões de habitantes do enclave, descartando categoricamente a possibilidade de que possam retornar.
Na semana passada, após a consternação internacional diante das mesmas afirmações, a Casa Branca havia retificado, garantindo que o deslocamento seria apenas “temporário”. Em outras entrevistas, Trump foi ambíguo sobre a questão.
Mas quando Brett Baier, da Fox, lhe perguntou sobre o direito dos palestinos de Gaza voltarem às suas terras depois da reconstrução, ele foi categórico: “não, eles não fariam isso”.
O futuro de Gaza, segundo ele explicou, seria converter-se em um “enclave imobiliário para o futuro”.
“Estou comprometido em comprar e possuir Gaza. Quanto a nós, podemos reconstruí-la, entrega-la a outros estados do Oriente Médio para que construam partes e outras pessoas podem fazê-lo, sob nosso patrocínio. Mas estamos comprometidos em assumir Gaza, cuidar dela e garantir que o Hamas não retorne”, disse Trump aos repórteres que voaram com ele a Nova Orleans no domingo (09/02).
Mas os países árabes rejeitaram veementemente os planos de Trump. A avaliação desses países é que esse deslocamento também prejudicaria a estabilidade no Oriente Médio e comprometeria a possibilidade de criação de um Estado palestino. Eles também comparam o plano à uma nova limpeza étnica.