Em entrevista realizada neste sábado (25/01), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que está trabalhando para convencer os governos da Jordânia e do Egito a receberem mais palestinos em seus territórios. A declaração soou polêmica porque, para justificar a medida, o mandatário falou em “limpar Gaza” da presença dos palestinos.
Em conversa com jornalistas das agências Reuters e Associated Press durante um voo presidencial, Trump disse que já havia contactado o rei Abdullah, da Jordânia, e que pretende conversar com o presidente egípcio Abdel Fattah al-Sisi nos próximos dias.
“Eu disse a ele (rei Abdullah) que adoraria que ele recebesse mais pessoas (palestinos), porque, olhando para Gaza, é uma bagunça, uma verdadeira bagunça. Eu gostaria que ele acolhesse essas pessoas. Gostaria que o Egito também recebesse pessoas”, declarou o presidente dos Estados Unidos.
Ao entrar em detalhes, Trump disse que “estamos falando provavelmente de (tirar) 1,5 milhão de pessoas (de Gaza). Assim, nós limpamos a coisa toda”. A cifra mencionada significaria expulsar do enclave uma população similar à da Baixada Santista, região cujas cinco principais cidades (Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Praia Grande) reúnem 1,49 milhão de habitantes, segundo o resultado do censo divulgado em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
“Algo tem que acontecer. Podemos construir moradias em países árabes, para que eles (palestinos) possam viver em paz”, completou o líder do Partido Republicano.
Em outro momento da entrevista, Trump descreveu a Faixa de Gaza como “literalmente, um canteiro de demolição”.

Trump disse estar conversando com líderes do Egito e da Jordânia para que esses países recebam palestinos deslocados
“Quase tudo está destruído, e as pessoas estão morrendo lá. Prefiro envolver algumas nações árabes e construir moradias em outro local, onde talvez possam viver em paz pela primeira vez”, frisou o mandatário.
A proposta contraria os termos do cessar-fogo iniciado no dia 19 de janeiro, onde está estabelecido que a fase três do acordo, relativa à reconstrução da região, deveria ser realizada com a participação da população local, em trabalhos que deveriam começar no próximo mês de abril e que seriam organizados e supervisionados por autoridades do Egito e do Catar, além de representantes da Organização das Nações Unidas (ONU).
Vale lembrar que durante o período em que Israel promoveu o massacre de civis na Faixa de Gaza, o próprio primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e outros dois membros do seu gabinete – o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, e o agora ex-ministro da Segurança, Itamar Ben Gvir, que renunciou ao cargo horas depois do início do cessar-fogo – chegaram a defender a reconstrução de Gaza por ação exclusiva de Tel Aviv e a permissão para que colonos israelenses ocupem o território.
A população palestina na Faixa de Gaza era de cerca de 2,5 milhões de habitantes, segundo a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, por sua sigla em inglês), em estimativa levantada antes da ofensiva militar que Israel promove na região desde de 7 de outubro de 2023 e que já causou a morte direta de mais de 46 mil pessoas.
Segundo alguns estudos, as mortes indiretas e os corpos que estão sob escombros – portanto, não contabilizadas oficialmente – podem fazer com que o total de vítimas ultrapasse a marca de 150 mil.