Trump diz que Israel entregará Gaza aos EUA; Netanyahu elogia plano de ocupação
Presidente norte-americano detalha que, no fim da guerra, palestinos serão expulsos do enclave para construção de 'um dos mais espetaculares desenvolvimentos na Terra'
Um dia após receber críticas da comunidade internacional sobre suas intenções de ocupar a Faixa de Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar nesta quinta-feira (06/02) que o seu plano é assumir o enclave palestino e expulsar sua população para construir a “Riviera do Oriente Médio”.
Pela plataforma Truth Social, o mandatário norte-americano declarou que o Estado de Israel deverá transferir o território aos EUA e, assim, seu país “começará gradual e cuidadosamente a construção do que será um dos maiores e mais espetaculares desenvolvimentos desse tipo na Terra”.
“A Faixa de Gaza será entregue aos EUA por Israel no final dos combates. Palestinos, pessoas como Chuck Summer [senador democrata de Nova York e ex-líder da maioria no Senado de 2021 a 2025], já terão sido realocados para comunidades muito mais seguras e bonitas, com casas novas e modernas, na região [do Oriente Médio]. Eles terão uma chance real de serem felizes, seguros e livres. Os EUA, trabalhando com grandes equipes de desenvolvimento de todo o mundo, começarão lenta e cuidadosamente a construção do que será um dos melhores e mais espetaculares desenvolvimentos desse tipo na Terra. Nenhum soldado dos EUA será necessário! A estabilidade reinará na região!!”, escreveu o magnata.
O posicionamento de Trump foi elogiado pelo seu aliado, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que, em entrevista ao canal estadunidense de extrema direita Fox News classificou-o como uma “ideia extraordinária” que “realmente deveria ser implementada”.
“O que há de errado com isso? Eles [palestinos] podem sair, podem depois voltar, podem se realocar e voltar. Mas é preciso reconstruir Gaza”, disse Netanyahu, apoiando a iniciativa trumpista.
Na terça-feira (04/02), o presidente norte-americano recebeu o premiê israelense na Casa Branca, em uma visita durante a qual sugeriu que os palestinos deveriam abandonar Gaza “para sempre e viver em paz em outros países”. A ideia foi rejeitada pela comunidade internacional, sobretudo por países como Brasil, China, Rússia, Reino Unido, Espanha, França, Arábia Saudita, incluindo também as Nações Unidas (ONU), que consideraram a manobra como uma “limpeza étnica” na região e um crime contra a humanidade, conforme os termos do Tribunal Penal Internacional (TPI).
Nesta quinta-feira, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, emitiu um comunicado ordenando que os militares de seu Exército preparassem um plano para permitir a “partida voluntária da população de Gaza”, ao alegar que os palestinos devem ter “liberdade de movimento e de imigração”. Acrescentou ainda que será apresentado um projeto de reconstrução de uma “Gaza desmilitarizada”, após um possível cenário pós-guerra no enclave.
O gabinete de Katz sugeriu que a população de Gaza partisse para diversas regiões do mundo, citando Espanha, Irlanda e Noruega, países que o ministro criticou de fazerem “falsas acusações” contra Israel referentes ao massacre no território palestino. A autoridade israelense afirmou que, se estas nações se recusarem a aceitar os palestinos, “sua hipocrisia será exposta”.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar nesta quinta-feira (06/02) que seu plano é assumir a Faixa de Gaza e expulsar sua população para construir a “Riviera do Oriente Médio”
Rejeição ao deslocamento forçado
A “saída voluntária”, como sugere o ministro Israel Katz, não é uma alternativa para os palestinos, segundo o representante da delegação da Palestina na ONU, Riyad Mansour, tratando-se, na verdade, de uma expulsão forçada.
“Algumas pessoas podem não entender o significado e o valor de ter um país e amar a terra do seu país”, afirmou Mansour. “Para nós, o povo palestino, é o nosso DNA. Nós amamos nosso país. Amamos a terra do nosso país – quer tenhamos palácios ou edifícios destruídos. Somos pessoas resilientes. A Faixa de Gaza foi destruída muitas vezes e conseguimos reconstruí-la com a ajuda de todos os nossos amigos.”
O governo do Irã, que apoia a causa palestina, também rejeitou o plano “chocante” de Trump para “deslocar à força” os habitantes de Gaza. A chancelaria iraniana mencionou que a tomada do território configura um ataque aos princípios fundamentais do direito internacional e da Carta da ONU.
“O plano para limpar Gaza e deslocar à força o povo palestino para países vizinhos é considerado uma continuidade do plano direcionado do regime sionista para aniquilar completamente a nação palestina e é categoricamente rejeitado e condenado”, disse o porta-voz Esmaeil Baghaei.
A China também rechaçou o deslocamento forçado da população da Palestina, ao destacar que “Gaza é a Gaza dos palestinos, não uma moeda de troca política”. Em coletiva, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país asiático, Guo Jiakun, sustentou que Pequim apoia os direitos nacionais legítimos do povo palestino.
À emissora catari Al Jazeera, o ex-vice-ministro das Relações Exteriores do Egito, Hussein Haridy, disse que Cairo “permanecerá firme” em seu posicionamento de discordância com o plano norte-americano de ocupação.
“Como tal, tememos que o verdadeiro propósito seja enterrar a solução de dois Estados. O Egito sempre esteve comprometido com uma solução de dois Estados, porque acreditamos que, sem ela, a insegurança e a instabilidade permanecerão conosco no Oriente Médio”, afirmou.
