Quarta-feira, 26 de março de 2025
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Um dia após receber críticas da comunidade internacional sobre suas intenções de ocupar a Faixa de Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar nesta quinta-feira (06/02) que o seu plano é assumir o enclave palestino e expulsar sua população para construir a “Riviera do Oriente Médio”.

Pela plataforma Truth Social, o mandatário norte-americano declarou que o Estado de Israel deverá transferir o território aos EUA e, assim, seu país “começará gradual e cuidadosamente a construção do que será um dos maiores e mais espetaculares desenvolvimentos desse tipo na Terra”. 

“A Faixa de Gaza será entregue aos EUA por Israel no final dos combates. Palestinos, pessoas como Chuck Summer [senador democrata de Nova York e ex-líder da maioria no Senado de 2021 a 2025], já terão sido realocados para comunidades muito mais seguras e bonitas, com casas novas e modernas, na região [do Oriente Médio]. Eles terão uma chance real de serem felizes, seguros e livres. Os EUA, trabalhando com grandes equipes de desenvolvimento de todo o mundo, começarão lenta e cuidadosamente a construção do que será um dos melhores e mais espetaculares desenvolvimentos desse tipo na Terra. Nenhum soldado dos EUA será necessário! A estabilidade reinará na região!!”, escreveu o magnata.

O posicionamento de Trump foi elogiado pelo seu aliado, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que, em entrevista ao canal estadunidense de extrema direita Fox News classificou-o como uma “ideia extraordinária” que “realmente deveria ser implementada”. 

“O que há de errado com isso? Eles [palestinos] podem sair, podem depois voltar, podem se realocar e voltar. Mas é preciso reconstruir Gaza”, disse Netanyahu, apoiando a iniciativa trumpista.

Na terça-feira (04/02), o presidente norte-americano recebeu o premiê israelense na Casa Branca, em uma visita durante a qual sugeriu que os palestinos deveriam abandonar Gaza “para sempre e viver em paz em outros países”. A ideia foi rejeitada pela comunidade internacional, sobretudo por países como Brasil, China, Rússia, Reino Unido, Espanha, França, Arábia Saudita, incluindo também as Nações Unidas (ONU), que consideraram a manobra como uma “limpeza étnica” na região e um crime contra a humanidade, conforme os termos do Tribunal Penal Internacional (TPI).

Nesta quinta-feira, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, emitiu um comunicado ordenando que os militares de seu Exército preparassem um plano para permitir a “partida voluntária da população de Gaza”, ao alegar que os palestinos devem ter “liberdade de movimento e de imigração”. Acrescentou ainda que será apresentado um projeto de reconstrução de uma “Gaza desmilitarizada”, após um possível cenário pós-guerra no enclave.

O gabinete de Katz sugeriu que a população de Gaza partisse para diversas regiões do mundo, citando Espanha, Irlanda e Noruega, países que o ministro criticou de fazerem “falsas acusações” contra Israel referentes ao massacre no território palestino. A autoridade israelense afirmou que, se estas nações se recusarem a aceitar os palestinos, “sua hipocrisia será exposta”.

X/Fepal
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar nesta quinta-feira (06/02) que seu plano é assumir a Faixa de Gaza e expulsar sua população para construir a “Riviera do Oriente Médio”

Rejeição ao deslocamento forçado

A “saída voluntária”, como sugere o ministro Israel Katz, não é uma alternativa para os palestinos, segundo o representante da delegação da Palestina na ONU, Riyad Mansour, tratando-se, na verdade, de uma expulsão forçada.

“Algumas pessoas podem não entender o significado e o valor de ter um país e amar a terra do seu país”, afirmou Mansour. “Para nós, o povo palestino, é o nosso DNA. Nós amamos nosso país. Amamos a terra do nosso país – quer tenhamos palácios ou edifícios destruídos. Somos pessoas resilientes. A Faixa de Gaza foi destruída muitas vezes e conseguimos reconstruí-la com a ajuda de todos os nossos amigos.”

O governo do Irã, que apoia a causa palestina, também rejeitou o plano “chocante” de Trump para “deslocar à força” os habitantes de Gaza. A chancelaria iraniana mencionou que a tomada do território configura um ataque aos princípios fundamentais do direito internacional e da Carta da ONU.

“O plano para limpar Gaza e deslocar à força o povo palestino para países vizinhos é considerado uma continuidade do plano direcionado do regime sionista para aniquilar completamente a nação palestina e é categoricamente rejeitado e condenado”, disse o porta-voz Esmaeil Baghaei.

A China também rechaçou o deslocamento forçado da população da Palestina, ao destacar que “Gaza é a Gaza dos palestinos, não uma moeda de troca política”. Em coletiva, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país asiático, Guo Jiakun, sustentou que Pequim apoia os direitos nacionais legítimos do povo palestino.

À emissora catari Al Jazeera, o ex-vice-ministro das Relações Exteriores do Egito, Hussein Haridy, disse que Cairo “permanecerá firme” em seu posicionamento de discordância com o plano norte-americano de ocupação.

“Como tal, tememos que o verdadeiro propósito seja enterrar a solução de dois Estados. O Egito sempre esteve comprometido com uma solução de dois Estados, porque acreditamos que, sem ela, a insegurança e a instabilidade permanecerão conosco no Oriente Médio”, afirmou.