A professora que está no centro do escândalo de deportação da Universidade de Columbia é uma ex-funcionária da inteligência israelense, segundo revelou a MintPress News.
Mahmoud Khalil, um recém-formado da Escola de Relações Públicas e Internacionais da Universidade de Columbia (SIPA) da Universidade de Columbia, foi sequestrado pela Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) no sábado (08/03) por seu papel na organização de protestos no ano passado contra os ataque de Israel a Gaza. A diretora de Khalil, Dra. Keren Yarhi-Milo, chefe da SIPA, é uma ex-oficial de inteligência militar israelense e funcionária da missão de Israel nas Nações Unidas. Yarhi-Milo desempenhou um papel significativo em aumentar a preocupação pública sobre uma suposta onda intolerável de antissemitismo no campus, preparando assim o terreno para a extensa repressão às liberdades civis após os protestos.
Espiões Entre Nós
Antes de entrar no mundo acadêmico, a Dra. Yarhi-Milo serviu como oficial e analista de inteligência nas Forças de Defesa de Israel (IDF). Considerando que seu recrutamento foi para os serviços de inteligência por sua habilidade de falar árabe fluentemente, é provável que seu trabalho envolvesse a vigilância da população árabe.
Depois de deixar o mundo da inteligência, Yarhi-Milo trabalhou na Missão Permanente de Israel nas Nações Unidas em Nova Iorque. Durante este período, conheceu o porta-voz oficial de Israel nas Nações Unidas, Ariel Milo, com quem se casou.
Embora agora seja uma acadêmica, ela nunca deixou o mundo da segurança internacional, tornando esse assunto sua área de especialização. A professora se esforçou para ampliar as vozes das mulheres nesse campo. Uma delas foi a então diretora de Segurança Nacional dos EUA, Avril Haines, com quem conversou em 2023. No entanto, apesar de Khalil ser um aluno de sua escola, ela não se manifestou sobre sua prisão. Na verdade, em vez de se pronunciar sobre o assunto (como ativistas exigiram), ela optou por convidar Naftali Bennett, primeiro-ministro de Israel (2021- 2022), para palestrar na Columbia. Estudantes que protestaram contra o evento que ocorreu em 4 de março foram repreendidos pelas autoridades da universidade por “assediarem” Yarhi-Milo.
Protestos sem precedentes, repressão sem precedentes
Columbia foi o epicentro dos acampamentos pró-Palestina em campus universitários dos Estados Unidos no último ano. Estima-se que pelo menos 8% de todos os estudantes universitários norte-americanos tenham participado de manifestações que denunciaram o ataque genocida a Gaza e pediram que as instituições educacionais desfizessem cooperações acadêmicas com Israel. A resposta foi igualmente vasta em sua escala. Mais de três mil manifestantes foram presos, incluindo os próprios membros do corpo docente.
O movimento nacional começou em Columbia em 17 de abril, quando um modesto acampamento de solidariedade a Gaza foi estabelecido. Os manifestantes ficaram chocados quando a reitora da universidade, Minouche Shafik, chamou imediatamente o Departamento de Polícia de Nova Iorque. Essa foi a primeira vez que a universidade permitiu que a polícia reprimisse protestos no campus desde as famosas manifestações de 1968 contra a Guerra do Vietnã.
Mahmoud Khalil estava entre os líderes do movimento. O refugiado palestino nascido na Síria estava disposto a falar com calma e convicção à imprensa sobre os objetivos do protesto. Residente permanente nos Estados Unidos, ele foi sequestrado pelo ICE no sábado (08/03).
SHALOM, MAHMOUD.
“ICE proudly apprehended and detained Mahmoud Khalil, a Radical Foreign Pro-Hamas Student on the campus of @Columbia University. This is the first arrest of many to come.” –President Donald J. Trump pic.twitter.com/gfuPd0tskf
— The White House (@WhiteHouse) March 10, 2025
A esposa de Khalil, grávida de oito meses, foi informada inicialmente que ele havia sido levado para um centro em Elizabeth, cidade em Nova Jersey. Mas na verdade, ele havia sido transferido para o outro lado do país, a um centro em Jena, na Louisiana. O jornalista Pablo Manríquez, do Migrant Insider, explicou que o ICE “frequentemente faz uma escolha estratégica de juízes de imigração, colocando os detentos em centros de detenção sob jurisdição de tribunais que raramente decidem a favor dos migrantes”.
A tentativa de alto nível de deportar o titular de um Green Card [visto de residência permanente nos EUA] por causa de um discurso político que critica um governo estrangeiro deixou muitos advogados de direitos civis profundamente preocupados. Alec Karakatsanis, por exemplo, declarou que “nunca viu uma violação mais clara da Primeira Emenda [que protege a liberdade de expressão, imprensa, religião e reunião], ou uma declaração mais flagrante do governo de intenção em violar a lei”. “O governo não alega que ele cometeu um crime, apenas que ele tinha opiniões que o governo não gosta sobre Israel. É de arrepiar os ossos”, acrescentou.

Keren Yarhi-Milo posa com Hillary Clinton durante o período em que ela foi professora convidada em Columbia em 2023
Apoiadores bilionários pró-Israel da Columbia
Grande parte do financiamento da Columbia vem de doações de benfeitores bilionários. Mas essas doações vêm acompanhadas de condições. Isso ficou evidente na esteira do movimento dos protestos, pois muitos patrocinadores pró-Israel exigiram que a universidade tomasse providências. O magnata do setor de manufatura Robert Kraft, por exemplo, anunciou publicamente que estava cortando o financiamento luxuoso da universidade que ele mesmo frequentou porque a instituição não conseguiu reprimir as manifestações de forma eficaz.
O gerente de fundos do mercado financeiro Leon Cooperman fez o mesmo, exigindo que as “crianças loucas” da Columbia “fossem controladas”. Essas “crianças” evidentemente também incluíam o professor jordaniano Joseph Massad, de 61 anos, cujas opiniões sobre o Oriente Médio eram consideradas como intoleráveis por Cooperman, que pediu sua demissão. O oligarca de origem soviética Len Blavatnik, por sua vez, pediu à polícia que responsabilizasse os manifestantes.
Entre eles, acredita-se que Kraft, Cooperman e Blavatnik tenham doado cerca de US$ 100 milhões (Cerca de R$ 600 milhões) para a Columbia, o que lhes dá uma influência considerável sobre a direção política da universidade.
Também houve vozes de dentro da universidade clamando pela supressão violenta do movimento estudantil. O professor assistente de Administração de Empresas Shai Davidai, por exemplo, denunciou os manifestantes como “nazistas” e “terroristas” e pediu que a Guarda Nacional (Exército dos EUA) fosse enviada ao acampamento, referindo-se obliquamente ao Massacre da Kent State University [quando quatro alunos da Universidade Estadual de Kent foram mortos pelas Forças Armadas norte-americanas durante um protesto contra o envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã, em 1970]. Davidai, um israelense-americano, serviu nas IDF e expressou publicamente sua publicamente seu orgulho por isso.
Dada a sua mais recente adição, parece improvável que a Escola de Relações Públicas e Internacionais da Universidade de Columbia modere suas posições pró-Israel. Em janeiro, a escola anunciou que Jacob Lew se juntaria ao corpo docente. Lew havia acabado de deixar o cargo de embaixador dos EUA em Israel durante o governo de Joe Biden (2021-2025), função na qual facilitou a cumplicidade norte-americana com o genocídio, fornecendo armas a Israel e apoio diplomático para seus esforços.
Defendendo Israel, destruindo a liberdade de expressão
Leitores de longa data do MintPress News ficarão menos surpresos do que muitos ao saber que oficiais da inteligência militar israelense ocupam cargos tão importantes na vida pública norte-americana. Investigações anteriores da MintPress revelaram redes gigantescas de ex-espiões israelenses trabalhando em cargos importantes em grandes empresas de tecnologia e mídia social, incluindo Microsoft, Google, Meta e Amazon.
Até mesmo o TikTok, frequentemente rotulado como um aplicativo de espionagem chinês, contratou ex-espiões israelenses para administrar seus negócios. E em outubro, revelamos que ex-espiões israelenses estão escrevendo as notícias dos Estados Unidos, com vários ex-agentes trabalhando nos principais veículos dos EUA, incluindo CNN, Axios e New York Times.
Talvez, então, o fato da reitora da escola que está no centro de uma tempestade na mídia mundial ser uma ex-oficial da inteligência militar israelense não deva ser um choque tão grande. Mas continua sendo um forte lembrete do nível de preconceito institucional extraordinário em favor de Israel exibido nos Estados Unidos.
(*) Publicado originalmente em MintPress News