O diretor de operações em Gaza da Agência das Nações Unidas para Refugiados da Palestina (UNRWA), Sam Rose, afirmou que é “impossível e irrealista” a ideia de que a decisão israelense em banir as operações do órgão da ONU evite maior sofrimento do povo palestino. No fim de outubro, o Parlamento de Israel aprovou um projeto de lei contra as atividades da UNRWA nas regiões ocupadas pelo país, que entrará em vigor em três meses.
Segundo uma reportagem do jornal britânico The Guardian publicada nesta quarta-feira (13/11), o representante apontou que se Tel Aviv decidir avançar seu plano, haverá sérias implicações para escolas e hospitais gerenciadas pela agência principalmente na Cisjordânia e em Gaza, alertando para o risco do enclave se tornar uma “fábrica de doenças”.
A posição foi dada um dia após terminar o prazo de 30 dias dado pelo governo norte-americano para que Israel melhorasse o fornecimento de auxílio humanitário a Gaza. Embora diversas agências e organizações tenham verificado que o regime sionista não atendeu à maioria das demandas da gestão Biden, o Departamento de Estado dos EUA se recusou a tomar qualquer ação contra Israel.
Um dos requisitos era que Tel Aviv reconhecesse que a UNRWA continuava sendo o único meio viável de fornecer serviços a Gaza. No entanto, nas últimas semanas, o Parlamento de Israel aprovou duas novas leis exigindo que o governo encerrasse a cooperação e o contato com a agência da ONU.
A UNRWA opera em Gaza, na Cisjordânia e em países vizinhos, como Jordânia e Líbano, regiões que abrigam um grande número de refugiados palestinos. O órgão humanitário fornece escolas, hospitais e serviços de descarte de resíduos, além de funcionar como o canal central da distribuição de ajuda.
“Israel tem que fazer tudo o que puder para facilitar que a ajuda chegue ao povo, então se eles estão proibindo a UNRWA, eles estão proibindo não apenas o maior ator em ajuda, mas também em serviços. Não se trata apenas de evitar a fome; trata-se de serviços de saúde, escolas, saneamento e criação de condições nas quais as crianças se tornem menos vulneráveis a doenças. O povo de Gaza já suportou tanto sofrimento”, afirmou Rose.
“Temos cerca de 15 mil crianças de volta à educação — é uma gota no oceano, mas nossas escolas estão sendo usadas como mais de 100 abrigos com equipes de gestão de cerca de 20 pessoas. Se esses abrigos entrarem em colapso, esse é o fim do princípio de organização por trás da assistência que fornecemos”, acrescentou o diretor da UNRWA.
Recentemente, o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, escolheu Elise Stefanik como embaixadora de seu governo na ONU, que descreveu a UNRWA como uma “frente terrorista” e “Hamas infiltrado”, sugerindo que o financiamento norte-americano para a agência, atualmente suspenso até o ano que vem, poderá ser encerrado permanentemente.
“Já houve todo tipo de decisões da CIJ (Corte Internacional de Justiça) e resoluções da ONU, que remontam a 30 anos. Então é difícil ver qualquer uma dessas mudanças na ausência de pressão dos EUA”, disse Rose. “É muito provável que os EUA continuem a política sob a administração anterior de Trump em relação ao apoio a Israel e oposição à UNRWA, mas acho que temos que estar prontos pelo pior com qualquer coisa que aconteça.