O Instituto de Ciência Política (IPOL) da Universidade de Brasília (UnB) anunciou na quarta-feira (11/09) ter cancelado um curso que seria ministrado por um professor sionista da Universidade Hebraica de Jerusalém, sediada em Israel. A decisão foi tomada após a mobilização de estudantes pró-Palestina que, ao analisarem o histórico do docente, descobriram sua cumplicidade com os valores do regime sionista.
“Os estudantes se mobilizaram por meio dos grupos [de mensagens] e, a partir de mensagens que circularam neles a coordenação do curso tomou conhecimento e cancelou o evento”, contou a presidente do Centro Acadêmico de Ciência Política (CAPOL) da Unb, Maynara Nafe, enfatizando que a campanha foi levantada de forma “espontânea” pelos alunos.
A Opera Mundi, a representante acrescentou que a notícia do cancelamento foi recebida com “muita satisfação”, uma vez que tanto a Associação dos Docentes (ADUnB) quanto o Conselho Universitário já haviam declarado Israel como um regime de apartheid.
De acordo com a agenda publicada pelo IPOL, o professor Jorge Gordin ministraria o minicurso “Política Territorial Comparada” entre os dias 11, 12, 18 e 19 de setembro.
Nafe revela que, num primeiro momento, houve resistência por parte da entidade universitária. Quando o CAPOL pressionou pelo cancelamento do evento, o IPOL mencionou a “liberdade de cátedra” como argumento para manter as palestras.
“É exatamente o mesmo argumento que foi utilizado quando nazistas fizeram estudos científicos com pessoas dentro dos campos de concentração”, disse a presidente do CAPOL.
Na quinta-feira, pouco antes do início do curso, o próprio IPOL publicou uma nota oficializando o cancelamento das atividades previstas com o docente.
“Para garantir a segurança da comunidade universitária, o IPOL decidiu cancelar as atividades previstas com o professor Jorge Gordin. Ao mesmo tempo, o Instituto lamenta e se coloca à disposição de todos(as) os(as) interessado(as) para promover debates, sempre com respeito às opiniões divergentes e à liberdade de cátedra”, afirma o comunicado.
A respeito dos critérios utilizados pelo IPOL para a organização do evento e o consequente convite a um professor sionista, Nafe apontou uma “falta de transparência” do instituto, uma vez que tais informações seguem desconhecidas.
“Mas uma coisa é preciso ser dita: dinheiro público brasileiro foi gasto para que esse professor viesse dar essa palestra na UnB. Dinheiro público da Universidade de Brasília, orçamento que vem de emendas parlamentares foi gasto para que esse professor chegasse até a Universidade de Brasília”, destacou.
Entidades sionistas criticam decisão
Nesta sexta-feira (13/09), a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) e a Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB) publicaram uma nota condenando a decisão tomada pela UnB. De acordo com a CONIB, trata-se de uma conduta “oposta” à essência da atividade universitária.
“A atitude da UnB é o oposto da busca do conhecimento e do diálogo informado que deveria ser a essência da atividade universitária. Ceder a grupos obscurantistas em nada contribui para o avanço do conhecimento. Pelo contrário. Contribui apenas para estimular o extremismo e afastar a universidade da missão educadora que ela diz perseguir”, disse a entidade.
A ACIB também criticou o instituto brasiliense ao afirmar que o ambiente universitário deve ser um “espaço democrático” e incentivar “as mais diversas linhas de pensamento”.
“Esse professor vem de uma universidade que está em um território ocupado ilegalmente. Então, a que preço se faz todo o estudo acadêmico que ele produz? Toda a produção acadêmica que ele faz cobra um preço muito caro aos palestinos. É exatamente sobre isso que a CONIB não fala. É exatamente sobre o fato de que os palestinos estão sendo utilizados para poderem fazer estudos, para poderem testar armas, para poderem testar novas tecnologias bélicas que a CONIB não fala. A CONIB não fala sobre os estudantes terem feito um ato legítimo, e que se houvesse o evento haveria sim a manifestação”, afirmou Nafe.