Quarta-feira, 26 de março de 2025
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A Câmara de Vereadores de Curitiba aceitou tramitar um processo de cassação contra a vereadora Angela Machado, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), por suposto ato de antissemitismo, após a parlamentar, em um discurso no plenário da casa, acusar o atual governo de Israel, encabeçado pelo premiê Benjamin Netanyahu, de liderar um Estado “assassino”, que comete um genocídio contra o povo palestino residente na Faixa de Gaza.

O processo foi iniciado com um pedido do vereador de extrema-direita Éder Borges do Partido Liberal (PL), que usou um trecho do discurso em que a vereadora, conhecida em Curitiba como Professora Angela, disse que “a política, em âmbito internacional, é parte do contexto que move economias, mas que também promove guerras e genocídios, assim como o genocídio do povo palestino, que sofre com o Estado assassino de Israel”.

À reportagem de Opera Mundi, a vereadora disse que o processo é “iniciativa de um personagem de extrema-direita, muito limitado intelectualmente e também mal-intencionado, que confunde, por ignorância ou maldade, o que é antissemitismo e o que é antissionismo”.

“Eu sou sim antissionista, por entender que essa é uma ideologia de supremacia étnica que não pode ser aceita em nenhum lugar do mundo”, afirma a Angela.

O processo sofrido pela vereadora Professora Angela é similar, em seu conteúdo, a outras iniciativas que tentam censurar críticas ao governo de Israel e ao massacre promovido pelo exército israelense contra o povo palestino tentando caracterizá-los como atos antissemitas.

Entre os casos semelhantes ao da parlamentar do PSOL de Curitiba estão as diferentes denúncias contra o jornalista Breno Altman, fundador de Opera Mundi, por iniciativa da Confederação Israelita do Brasil (Conib); o Processo Administrativo Disciplinar que ocorre internamente na Universidade de São Paulo USP) contra estudantes do Comitê de Estudantes em Solidariedade ao Povo Palestino (ESPP); e a investigação contra os professores Reginaldo Nasser e Bruno Huberman por parte da Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Felipe Roehrig Pacheco / PSOL Curitiba
Vereadora Professora Angela exibe bandeira palestina durante sua posse na Câmara Municipal de Curitiba

Gaza, epicentro do neocolonialismo

A vereadora Professora Angela ressalta que “os sionistas tentam confundir as coisas para se livrarem de terem que explicar sua ideologia supremacista”.

“Aliás, os povos árabes também são semitas. Eu não contra nenhum povo, nem contra uma religião, meu problema é com quem se acha superior a outras culturas e, o sionismo é uma ideologia que justifica uma prática colonial de expulsão dos palestinos de suas terras e divisão de povos que sempre coexistiram em tolerância”, acrescenta a parlamentar curitibana.

Segundo Angela, o processo “não vai intimidar minhas ações na Câmara, nem minha postura em defesa da causa palestina, pelo contrário, acho que precisamos aproveitar o momento para dar luz ao massacre que acontece com esse povo há quase 80 anos”.

“Atualmente, Gaza é o epicentro do neocolonialismo, e também o primeiro genocídio televisionado da história. Milhares de mulheres, crianças e inocentes sendo dizimados com a anuência de estados, da grande mídia e apoio dos bilionários”, concluiu a vereadora.

Em uma publicação na qual anunciou suas redes sociais o fato de ter apresentado o pedido de cassação da colega Professora Angela, o vereador Éder Borges argumentou apenas que “o antissemitismo não será tolerado no meu mandato”.