A Finlândia anunciou oficialmente neste domingo (15/05) que pretende solicitar a adesão à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), numa mudança política histórica provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia. O pedido para fazer parte da aliança militar já havia sido sinalizado anteriormente pelo país, que tem uma longa tradição de não alinhamento.
“Este é um dia histórico. Uma nova era começou”, afirmou o presidente finlandês, Sauli Niinistö, ao anunciar formalmente à intenção de candidatura do país numa coletiva de imprensa ao lado da primeira-ministra Sanna Marin.
Niinistö disse que a adesão da Finlândia à Otan “é uma prova de poder da democracia” e lembrou que essa decisão tem o aval da maioria dos cidadãos, dos partidos políticos e do parlamento. O pedido, porém, ainda não foi aprovado pelos deputados finlandeses, que devem fazê-lo nos próximos dias. Depois de aprovado, o pedido formal será submetido à sede da aliança, em Bruxelas.
“A Finlândia vai maximizar a sua segurança e isso não representa um perigo para ninguém”, afirmou Niinistö, numa alusão à vizinha Rússia, que encara a adesão deste país nórdico à Otan como uma ameaça.
Moscou fala em erro
Moscou, que compartilha 1,3 mil quilômetros de fronteira com a Finlândia, disse que seria um erro se Helsinque aderisse à aliança militar, composta por 30 membros, e afirmou que essa decisão prejudicaria as relações bilaterais entre os dois países. Em meio a preocupações de segurança e apoio popular, a Suécia deve seguir o exemplo finlandês e se unir à Otan.
O anúncio ocorreu depois de Niinistö e Marin terem declarado na quinta-feira que eram a favor da entrada do país na Otan. Niinistö disse que ligou para o presidente russo, Vladimir Putin, no sábado para contar dos planos.
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Pedido foi anunciado por primeira-ministra Sanna Marin e presidente Sauli Niinistö
Até a Rússia invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano, o país nórdico, no entanto, se recusava a ingressar na aliança militar para manter relações amistosas com o vizinho oriental.
O não alinhamento militar agradou a população finlandesa por muito tempo, como forma de não se envolver em conflitos, mas a opinião pública sobre a Otan mudou rapidamente desde que a Rússia iniciou o que chama de “operação militar especial” na Ucrânia.
Para fazer parte da Otan, a Finlândia e a Suécia precisam do aval dos 30 membros da aliança. A Turquia, no entanto, levantou objeções à adesão dos dois países e pode vetar os pedidos.
O presidente finlandês afirmou que está disposto a conversar com seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, e disse estar confuso com a mudança de postura turca. “O que precisamos agora é de uma resposta muita clara”, acrescentou.
Dúvida sobre Turquia
Erdogan se manifestou desfavorável à entrada da Finlândia e da Suécia na aliança, alegando que os dois países acolheram militantes curdos que a Turquia considera terroristas. Um dia depois, o país, porém, ressaltou que Ancara “não fecha a porta” à adesão das nações nórdicas na Otan.
A entrada de um novo Estado-membro na Otan requer unanimidade, o que significa que a Turquia poderá bloquear a adesão dos dois países escandinavos, cujas candidaturas deverão ser formalizadas nos próximos dias.
Após a eclosão da guerra na Ucrânia, a Finlândia e a Suécia iniciaram um debate sobre a adesão à Otan, abandonando assim o histórico posicionamento dos dois países de não-alinhamento militar. Além dos 1,3 mil quilômetros de fronteira terrestre com a Finlândia, a Rússia compartilha uma fronteira marítima com a Suécia.