O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky concedeu uma entrevista à agência espanhola EFE, que foi publicada neste domingo (06/08) por diversos meios da Espanha e da América Latina.
Além das desculpas pelos muitos problemas enfrentados durante a contraofensiva do seu país contra a Rússia, a conversa teve como destaque uma forte crítica à postura do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta criar um mecanismo multilateral para negociar a paz entre os dois países envolvidos no conflito.
“Espero que (Lula) tenha uma opinião própia. Creio que não é adequado que seus pensamentos concordem tanto com os do presidente Putin. Isso não ajuda a trazer a paz”, afirmou o mandatário ucraniano.
A declaração de Zelensky parece tentar atribuir a Lula uma suposta postura de defensor do presidente russo Vladimir Putin. Porém, o brasileiro é um dos líderes mundiais que mais tem buscado uma postura equilibrada em meio ao conflito, já que sua proposta para a negociação da paz entre Rússia e Ucrânia é a de que ambos os países aceitem dialogar sob a mediação de um grupo de países neutros, entre os quais estaria o Brasil.
Em outro momento da entrevista, o líder ucraniano se disse frustrado com Lula, e que “pensava que ele tinha uma compreensão maior do mundo”.
“Acho que o presidente Lula é uma pessoa experiente, mas não entendo muito bem uma coisa: será que ele acredita que seu povo não entende completamente o que está acontecendo? O Brasil não é um país agressor, mas um país pacífico. Por que precisaria concordar com as narrativas de um chefe de Estado (russo) que não é diferente de qualquer colonizador?”, questionou Zelensky.
Neutralidade brasileira
A declaração omite o fato de que a postura do Brasil no conflito, desde que Lula assumiu o poder, tem sido a de questionar a Rússia no que diz respeito à invasão do território ucraniano.
Governo da Ucrânia / Twitter
Críticas de Zelensky a Lula ignoram posições brasileiras contrárias à Rússia, além da disposição do país em dialogar com ambas as partes
Tal postura, inclusive, foi demonstrada no voto dado pelo Brasil na sessão extraordinária da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada no dia 23 de fevereiro, quando o país apoiou uma resolução apresentada pela Alemanha que condenou a Rússia pela invasão da Ucrânia, destoando dos demais membros do Brics – China, Índia e África do Sul preferiram a abstenção, enquanto a Rússia, obviamente, votou contra.
Visitas a Kiev e Moscou
Outra crítica expressada pelo presidente ucraniano a Lula tem a ver com o fato de que o brasileiro, desde a sua posse, ainda não o visitou para conversar pessoalmente. “Para ser honesto, se o presidente Lula quiser me dizer algo, que venha a se sentar (comigo) para me falar o que pensa”.
Na verdade, Lula já teve uma reunião por videoconferência com Zelensky, em 2 de março, e também conversou com Putin da mesma forma. Os mandatários do Brasil e da Ucrânia quase tiveram uma reunião durante a cúpula do G7, realizada em maio, no Japão, mas o encontro acabou não acontecendo devido “as condições contraditórias impostas pela delegação ucraniana.
O líder brasileiro já expressou, em diversas ocasiões, seu desejo de visitar tanto Kiev quanto Moscou, mas ainda não realizou nenhuma das duas viagens.
Contudo, seu assessor especial para assuntos internacionais, o diplomata Celso Amorim, vem mantendo reuniões frequentes com delegações ucranianas e russas desde fevereiro, incluindo visitas às duas capitais.
Críticas de Lula
A entrevista de Zelensky aconteceu dias depois de uma coletiva dada por Lula a correspondentes estrangeiros, em Brasília. Na ocasião, o mandatário brasileiro fez críticas tanto ao presidente da Ucrânia quanto ao da Rússia.
“O Brasil está naquele rol de países que estão procurando um caminho para que se possa usar a palavra paz. Por enquanto, a gente não tem ouvido nem de Zelensky nem de Putin a ideia de que vamos parar e vamos negociar. Por enquanto, os dois estão naquela fase de ‘eu vou ganhar, eu vou ganhar, eu vou ganhar, eu vou ganhar’, sabe? Enquanto isso, as pessoas estão morrendo”, lamentou Lula.