China, Brasil e outros países do Sul Global preparam-se para estabelecer uma plataforma denominada “Amigos da Paz”, cujo objetivo é encontrar uma solução para a guerra na Ucrânia, segundo declarou o ministro das Relações Exteriores de Pequim, Wang Yi, em uma reunião com o assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim, nesta quinta-feira (26/09).
Em um encontro à margem da 79ª Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, o chefe da diplomacia chinesa especificou que a proposta é “um grupo aberto, que não procura a competição e o confronto, mas sim participar num diálogo inclusivo”. Além disso, a plataforma “pretende ter uma voz objetiva e racional, e desempenhará um papel construtivo na solução política ” da situação em torno da Ucrânia.
Assim, espera-se que as nações realizem uma reunião nesta sexta-feira (27/09) para promover o seu plano de acordo de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Espera-se que pelo menos 20 países participem na reunião, incluindo Arábia Saudita, Azerbaijão, Colômbia, Egito, Emirados Árabes Unidos, Quênia, México, Tailândia e Vietnã, embora os Estados Unidos e a União Europeia não devam participar.
Da mesma forma, Wang Yi lembrou que este ano marca o 50º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil , período durante o qual ambas as nações “se tornaram parceiros estratégicos maduros”.
“Aprofundamos a cooperação em vários domínios a nível bilateral para beneficiar os dois povos; coordenamo-nos e cooperamos estreitamente na ONU e em outras instituições multilaterais para trabalhar pela paz”, observou o ministro chinês.
Proposta Brasil-China
A proposta sino-brasileira surgiu quando Amorim visitou Pequim em maio passado. Como resultado da visita, os dois países emitiram uma proposta sob o nome “Entendimentos Comuns entre a China e o Brasil sobre a Solução Política da Crise na Ucrânia”, em que defendem uma solução política para a crise na Ucrânia e a desescalada da situação.
O documento aborda seis pontos: 1) Não escalada de ambos lados; 2) a realização uma conferência internacional de paz; 3) assistência humanitária e troca de prisioneiros de guerra; 4) não utilização de armas de destruição em massa; 5) não atacar alvos nucleares; e 6) garantir a estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais.
O governo brasileiro também discutiu a crise ucraniana com o governo russo no começo de agosto, em um encontro entre o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, e seu par, Serguei Lavrov, na capital da Arábia Saudita, Riad, de forma paralela à reunião ministerial do Conselho de Cooperação do Golfo.
O enviado especial do governo chinês para assuntos eurasianos, Li Hui, disse em uma coletiva em Pequim no final de agosto, que o “consenso de seis pontos” já recebeu respostas positivas de mais de 110 países.
Já em um telefonema de Putin a Lula na última semana, ambos teriam conversado sobre o consenso. Putin também agradeceu a proposta diretamente ao lado chinês, há duas semanas, quando o ministro de Relações Exteriores chinês Wang Yi, foi a São Petersburgo.
Do lado ucraniano, o ministro das Relações Exteriores de Kiev, Dmytro Kuleba, foi a Guangzhou, na China, em junho, onde se reuniu com Wang Yi. Kuleba se limitou a manifestar que a Ucrânia “estudou cuidadosamente os seis entendimentos comuns delineados em conjunto pela China e pelo Brasil para uma resolução política da crise”.
Também disse que o lado ucraniano “está disposto e pronto para conduzir o diálogo e a negociação com a Rússia”.
Porém, durante sua fala na Assembleia Geral da ONU, na última quarta-feira (25/09), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, teceu uma série de críticas voltadas a propostas de paz apresentadas por países como China e Brasil.
Segundo ele, tais iniciativas “ignoram” o sofrimento do povo ucraniano, e ofereceriam espaço político para que o presidente russo, Vladimir Putin, prolongasse o conflito.
(*) Com Brasil de Fato, RT e Xinhua