Os militares ucranianos confirmaram nesta quarta-feira (21/08) que usaram lançadores de foguetes Himars, de fabricação norte-americana, para destruir pontes flutuantes e infraestrutura na região russa de Kursk. Para especialista ouvido pela RFI, a ofensiva ucraniana em território inimigo tem objetivo político e de mobilizar a opinião pública, além dos aliados, por mais apoio financeiro.
Segundo autoridades russas, a Ucrânia danificou ou destruiu pelo menos três pontes sobre o rio Seim desde o início da sua ofensiva no oeste do país, em 6 de agosto, o que lhe permitiu avançar de 28 a 35 quilômetros em território russo.
Para Olivier Kempf, pesquisador da Fundação para Pesquisa Estratégica, diretor da empresa de síntese estratégica La Vigie e autor do livro “Guerra Ucraniana”, o cálculo feito por Kiev é político.
“Kiev entende que os aliados tendem a apoiar cada vez menos a Ucrânia, então isso é importante para a opinião pública. Foi uma apreensão de território, que vai durar algumas semanas, alguns meses, até a eleição presidencial norte-americana, já que, com um novo presidente, seja ele Donald Trump ou Kamala Harris, haverá um novo ciclo de negociação sobre a ajuda dos norte-americanos. Assim, a ideia é manter esse território para negociar com os russos”, opinou.
O Exército especificou que tinha utilizado sistemas M142 Himars, reconhecendo assim, pela primeira vez, o uso de armas ocidentais para atacar o território russo como parte desta ofensiva.
Washington não fez comentários sobre as declarações, mas afirmou o direito da Ucrânia de se defender contra os ataques da Rússia.
Embora a maioria dos países ocidentais tenha proibido a Ucrânia de realizar ataques de longo alcance dentro da Rússia com as armas que fornecem, a sua utilização em zonas fronteiriças foi permitida desde que Moscou lançou uma nova ofensiva no norte da região de Kharkiv, na primavera.
O Kremlin denunciou o uso de armas de fabricação norte-americana no seu território, chamando de “escalada”.
Rússia avança na Ucrânia
Paralelamente à ofensiva ucraniana em Kursk, a Rússia afirma que continua a avançar na região de Donetsk, no leste da Ucrânia. O ministério da Defesa russo assumiu nos últimos dias a responsabilidade pela captura de vários locais, incluindo a cidade de Nova York, a aproximadamente 46 km do centro logístico de Pokrovsk. O Exército ucraniano não comentou diretamente estas alegações, mas relatou intensos combates nestas regiões.
O general Kempf afirma que os ucranianos têm recuado na região do Donbass, onde estão perdendo território.
“Antes era um km² por dia, depois passou a dois, três, cinco. E estamos hoje entre 10 ou 15 km² por dia. E os ucranianos, já tinham cedido, no mês de março, na região de Avdiivka, uma posição importante, muito fortificada. Com isso, os russos avançam cada vez mais rápido e abordaram Pokrovsk, que é um ponto logístico que concentra todas as posições ucranianas no Donbass, e isso é muito preocupante estrategicamente.”
O ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano destaca que o avanço das suas tropas na região de Kursk permitiu ganhos territoriais maiores do que os obtidos pela Rússia no Donbass desde o início do ano.
Porém, para o especialista, os territórios não têm a mesma importância.
“Mil km² num país que tem 17 milhões de km², não é nada. Além disso, trata-se de uma zona bem pouco povoada (Kursk), bem diferente do Donbass. Os ganhos russos acontecem numa área povoada e importante do ponto de vista estratégico, enquanto o ganho ucraniano é em zona vazia e pouco importante. Não é muito surpreendente da parte de Putin de esperar para tentar reaver esse território”, disse o general Kempf.