O Brasil e outros países do BRICS que participaram da cúpula sobre a paz na Ucrânia, em Burgenstock, na Suíça, neste final de semana, se recusaram a assinar a declaração final da conferência por discordarem das conclusões do documento.
A declaração final reafirma o que classifica como “integridade territorial” da Ucrânia e foi assinada por 84 das mais de 100 nações e organizações participantes do evento.
Não assinaram o documento África do Sul, Arábia Saudita, Armênia, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Índia, Indonésia, Líbia, México, Santa Sé, Tailândia e Brasil – representado pela embaixadora Cláudia Fonseca Buzzi.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Bruno Lima Rocha, cientista político e professor de relações internacionais, afirma que a decisão de não assinar tem como objetivo “não reforçar a posição pró-Estados Unidos ou pró-União Europeia como mediadores finais do conflito”.
“A conferência de paz para a Ucrânia não levou em consideração a posição russa. E ao não levar em consideração a posição de Moscou, é inimaginável e impensável, que os países sócios ou próximos [do BRICS] assinassem em conjunto algo que não leva [em consideração] aquele que é um de seus sócios mais relevantes e é diretamente envolvido no conflito”, explica.
Rocha enfatiza que a posição “muito firme” dos países-membros ou próximos do BRICS em não assinar o documento mostra que “o sistema internacional pós-Guerra Fria já mudou”.
Segundo o especialista, essa mudança em direção a uma nova ordem se deu por meio da consolidação dos países do Sul Global como partes altamente relevantes da economia global.
“A economia produtiva do mundo circula no eixo dos BRICS, da China, da Rota da Seda, e do chamado Sul Global ampliado”, afirma.
Ele acrescenta a “disputa financeira” por meio de debates sobre a desdolarização para transações entre parceiros do BRICS, “desafiando a hegemonia do dólar como moeda internacional”, fez parte do processo.
Outro aspecto dessa nova ordem mundial é a dimensão militar, afirma o especialista. “Nenhum império cai sem lutar e, possivelmente, os Estados Unidos vão arrumar muita confusão, de forma indireta, [com] as guerras por procuração, antes de abrir mão de sua posição de poder ou buscar um novo arranjo de poder que possa ser multipolar de fato”.
(*) Com Sputnik