Europa exige ser incluída nas negociações de paz na Ucrânia
Aliados do bloco europeu só souberam da conversa de Trump com Putin depois e discordam de concessões que os EUA consideram 'realistas'
Ministros de sete países europeus e a Comissão Europeia (CE) firmaram uma declaração conjunta na última quarta-feira (12/01) frisando que a Europa precisa fazer parte de qualquer negociação sobre a guerra na Ucrânia, ressaltando que somente “um acordo justo com garantias de segurança permitiria uma paz duradoura”.
“Nossos objetivos compartilhados devem ser colocar a Ucrânia em uma posição de força. Ucrânia e Europa devem fazer parte de quaisquer negociações”, diz a declaração conjunta firmada pela União Europeia e pelos ministros das Relações Exteriores do Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Polônia, Itália e Ucrânia.
“A Ucrânia deve receber fortes garantias de segurança. Uma paz justa e duradoura na Ucrânia é condição necessária para uma forte segurança transatlântica”, afirma o documento, que também declara que a Europa está “ansiosa” para discutir a questão com os Estados Unidos.
O comunicado foi publicado após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgar uma conversa que manteve com seu homólogo russo, Vladimir Putin, informando que ambos estavam prontos para começar a negociar o fim do conflito.
Nenhum país europeu foi informado previamente dessa iniciativa. Somente depois de falar com Putin o republicano telefonou para o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky.
Países europeus foram pegos de surpresa
Os ministros e o representante da CE estavam em Paris para uma reunião marcada há semanas para debater a construção de uma defesa europeia comum e mais autônoma e como reforçar o apoio à Ucrânia, diante dos cortes que Trump anunciou de seu país a Kiev e à Organização para o Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
O encontro era uma preparação para a Conferência de Munique sobre Segurança e Defesa, que será realizada a partir desta sexta-feira (14/02) até domingo (16/02). Pouco antes da reunião, os representantes europeus foram surpreendidos pelas notícias da conversa de Trump com Putin.
“Não se pode adotar nenhuma decisão sobre a Ucrânia sem a Ucrânia e sem a Europa”, frisou a ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, pedindo que os países da UE demonstrassem unidade nessa questão.
O chanceler francês, Jean-Noël Barrot, frisou que os ucranianos “são os amos dos parâmetros de uma negociação de paz” e que os europeus “coordenariam sua unidade para evitar que a ameaça russa avançasse para o oeste da Europa”.
“Não haverá paz justa e duradoura na Ucrânia sem a participação dos europeus”, disse Barrot, destacando o “compromisso” da França com a adesão da Ucrânia à União Europeia (UE), assim como, no futuro, sua possível integração na OTAN.

Ministra alemã Annalena Baerbock: ‘não se pode adotar nenhuma decisão sobre o conflito sem a Ucrânia e Europa’
EUA descartam Ucrânia na OTAN
Apesar das declarações sobre a inclusão europeia nas negociações, nenhum dos ministros comentou as afirmações feitas, também na quarta-feira, em Bruxelas, pelo secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, pouco antes do telefonema de Trump para Putin.
Hegseth afirmou que seria “pouco realista” pretender que a Ucrânia voltasse às suas fronteiras anteriores ao conflito e que os Estados Unidos não viam a filiação de Kiev à OTAN como parte de uma solução para a guerra.
Zelensky chegou a sugerir que Kiev e Moscou poderiam trocar partes de seus territórios, mas a proposta foi descartada por Putin. E, segundo o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, o presidente russo “só respeitará um acordo de paz que atenda a todas as suas demandas maximalistas sobre a Ucrânia”, rejeitando o debate sobre troca de territórios.
O secretário de Defesa norte-americano também disse que a garantia da paz na Ucrânia teria que ser feita por “tropas europeias e não-europeias capazes”, enfatizando que essas tropas não seriam fornecidas nem pelos Estados Unidos, nem pela OTAN.
No entanto, no início desta semana, Zelensky disse que a Europa não era capaz de garantir a segurança de seu país sem a ajuda norte-americana. “Garantias de segurança sem os Estados Unidos não são reais”, disse ele.
Um diplomata sênior ouvido pelo jornal britânico The Guardian avaliou que uma força de dissuasão multinacional eficaz na Ucrânia precisaria ter entre 100 mil e 150 mil soldados e que a Europa não tem condições de oferecer isso no momento.
Do outro lado do Atlântico, pouco antes, ao falar sobre a conversa de Trump com Putin, a secretária de imprensa da Casa Branca, foi questionada sobre a falta do envolvimento europeu as negociações. Ela respondeu: “não tenho nenhuma nação europeia envolvida atualmente para informar vocês”.
Para fragilizar ainda mais a situação da Ucrânia, chegou a Kiev na quarta-feira o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, para realizar a primeira auditoria da ajuda enviada ao país desde o início da guerra.
