O presidente Vladimir Putin informou, nesta sexta-feira (25/10), que a Rússia e a Coreia do Norte decidirão por si mesmas a aplicação do artigo sobre assistência militar mútua na guerra contra a Ucrânia.
Em entrevista à emissora russa Rossiya-1, Putin falou sobre o artigo 4º do Tratado de Parceria Estratégica Abrangente. “Isso ainda é uma questão. Estamos em contato com os nossos amigos norte-coreanos“, disse o presidente.
De acordo com o mandatário russo, se o acordo resultar em alguma implementação ou “se limitará a exercícios militares, é uma decisão soberana”, que diz respeito apenas aos dois países.
As declarações de Putin ocorrem após a Duma Estatal Russa (Câmara Baixa do Parlamento) ratificar, na última quinta-feira (24/10), o Tratado de Parceria Estratégica Abrangente entre Moscou e Pyongyang.
O artigo quarto do acordo ratificado estabelece que se uma das partes for atacada por outro Estado ou por vários países e estiver em estado de guerra, a outra parte prestará imediatamente assistência militar ou outra ajuda por todos os meios disponíveis, segundo a RIA Novosti.
O acordo também visa reduzir os riscos de guerra na Península Coreana, incluindo o uso de forças nucleares, segundo o vice-ministro das Relações Exteriores russo, Andrei Rudenko.
“Consideramos o tratado totalmente pacífico e defensivo”, comentou Rudenko. “Destina-se a desempenhar um papel estabilizador no Nordeste Asiático” e contribuirá positivamente “para manter o equilíbrio de forças na região com base no princípio da indivisibilidade da segurança, reduzindo o risco de recorrência da guerra na península da Coreia, mesmo com o uso de meios nucleares”, explicou.
Segundo o vice-ministro, o tratado em questão estabelece “as bases para a construção de um novo sistema de segurança eurasiano”.
No total, o documento é composto por 23 artigos, que envolvem a expansão da cooperação no comércio, economia, investimento, ciência e tecnologia, incluindo os campos do espaço e do átomo pacífico.
O tratado foi assinado em junho passado pelo presidente Putin e seu homólogo norte-coreno Kim Jong-un, durante uma visita diplomática.
A ratificação do acordo ocorre em meio a esteira de denúncias da Ucrânia, que diz ter identificado militares de Kim Jong-un em Kursk, região russa na fronteira entre os países. Moscou chamou a acusação de “fake news de Kiev”.
O governo de Kim Jong-un, por sua vez, não confirmou os relatos de que tenha enviado militares para a Rússia. No entanto, comentou a acusação, dizendo que um suposto envio de tropas à Rússia estaria em conformidade com o direito internacional, mas sem confirmar a participação na guerra.
Se existe algo que a mídia mundial fala [a presença de soldados norte-coreanos em território russo], acho que está em acordo com as normas do direito internacional”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores responsável por assuntos ligados à Rússia, Kim Jong-gyu, segundo a agência oficial KCNA.
Negociações entre Kiev e Moscou
À imprensa russa, Putin alertou que o grau de confronto entre Moscou e o Ocidente em relação à Ucrânia “permaneceu inalterado”, uma vez que “o Ocidente continua a enviar armas [para Kiev]”.
Putin também sinalizou que Moscou está disposta a buscar e fazer compromissos razoáveis para resolver o conflito ucraniano, mas ponderou que é “prematuro” falar sobre qualquer acordo, visto que as autoridades ucranianas se comportam “de forma irracional”.
“Este é um comportamento irracional que é difícil de prever e é impossível fazer planos nesta base. Portanto, é simplesmente prematuro sequer mencionar que podemos concordar em algo”, declarou.
Todo o acordo sobre a Ucrânia, sublinhou o presidente, deve basear-se “nas realidades do campo de batalha, e, sem dúvida, não vamos fazer nenhum tipo de concessão aqui”, afirmou o líder russo.
No entanto, Putin garantiu que estudará os materiais sobre a Ucrânia que a Turquia, através do presidente Recep Tayyip Erdogan, lhe entregou durante a cúpula do BRICS em Kazan.
Erdogan disse, também nesta sexta-feira, ter notado a intenção do seu homólogo russo de alcançar um cessar-fogo na Ucrânia.
“Estamos convencidos de que Putin está comprometido com um cessar-fogo sustentável. Isto foi previamente confirmado tanto pelo nosso ministro das Relações Exteriores, Hakan Fidan, quanto pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, durante uma reunião em Istambul”, disse Erdogan aos repórteres, ao retornar da cúpula na Rússia.
Ao mesmo tempo, o presidente turco observou que foi discutida a questão da troca de prisioneiros de guerra entre Moscou e Kiev, e a mediação diplomática turca a este respeito.
“Atualmente estamos monitorando de perto as medidas tomadas para a troca de prisioneiros. Continuaremos a fazer todo o possível para resolver as questões diplomaticamente”, disse Erdogan, acrescentando que o desejo da Turquia é “iniciar negociações de paz o mais rapidamente possível” entre a Rússia e a Ucrânia, complementou.
(*) Com RT en español, Sputnik e TASS