Guerra na Ucrânia: Rússia e EUA negociam acordo mirando cessar-fogo no Mar Negro
Prioridade inicial de trégua no Mar Negro tem como expectativa retomada do comércio marítimo
Conseguir um cessar-fogo marítimo no Mar Negro é o mais factível primeiro objetivo das negociações entre a delegação russa e a norte-americana sobre a guerra na Ucrânia, que ocorrem nesta segunda-feira (24/03) em Riad, na Arábia Saudita.
Tanto a Casa Branca como o Kremlin confirmaram que a prioridade inicial é chegar a um cessar-fogo no Mar Negro para que o comércio marítimo possa ser retomado.
“Isso é principalmente sobre a segurança da navegação”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov. Ele recordou, porém, que no acordo anterior sobre o Mar Negro “houve uma parte bem grande das obrigações para com nosso país que não foram cumpridas e isso estará na agenda de hoje”.
Ele se refere ao acordo de julho de 2022, intermediado pela Turquia e as Nações Unidas, que visava permitir à Ucrânia enviar com segurança grãos e outros alimentos de seus três portos no Mar Negro. Em um memorando separado, Rússia e ONU se comprometiam a superar os obstáculos para a exportação de alimentos e fertilizantes russos.
Diante das sanções comerciais contra a Rússia, ela se retirou do acordo do Mar Negro. Ambas as partes que negociam hoje concordaram em discutir todas essas questões.
Sobre esse ponto há convergência de interesses. Enquanto os representantes de Washington sinalizavam a esperança em um “progresso real” para um cessar-fogo na Ucrânia, Moscou dizia que seriam “negociações difíceis”.
Kremlim: início do caminho para fim da guerra
“Estamos apenas no começo deste caminho”, disse Peskov no domingo (23/03). “Essa é uma questão complexa e há muito a fazer”.
Para o fim da guerra, Moscou exige a suspensão da ajuda internacional militar e de inteligência para a Ucrânia, o reconhecimento de que os territórios que conquistou sejam anexados oficialmente e não admite tropas estrangeiras em território ucraniano. Kiev e seus aliados europeus consideram as condições inadmissíveis.
Mas os Estados Unidos fazem previsões otimistas e pressionam para conseguir um amplo cessar-fogo até 20 de abril, segundo informou a Bloomberg. Além de esperar um “progresso real” sobre o cessar-fogo no Mar Negro, o enviado especial do presidente norte-americano Donald Trump para a Ucrânia, Steve Witkoff, previu que “a partir disso, caminharemos naturalmente em direção a um cessar-fogo total”.
Witkoff repetiu algumas frase de Trump dizendo que achava o presidente russo Vladimir Putin “superinteligente” e estar convencido de que ele “queria a paz”.
A delegação russa é composta por Grigory Karasin, um ex-diplomata que hoje é senador, e Sergei Bessesa, funcionário dos serviços de segurança do país.
As conversas entre russos e norte-americanos acontece um dia após uma reunião entre norte-americanos e ucranianos, cuja delegação continua na Arábia Saudita para voltar a se reunir com os representantes dos Estados Unidos.

Ataques de drones russos a áreas residenciais de seis cidades ucranianas produziram sete mortos, um deles uma criança
Preservar infraestrutura energética
Na etapa anterior das negociações mediadas pelos norte-americanos, as partes pareceram ter chegado a um acordo. Logo, porém, ficou claro que cada um dos três tinha uma compreensão diversa sobre o que estava incluído no cessar-fogo.
Os russos dizem que o cessar-fogo era apenas sobre a infraestrutura energética. Os norte-americanos que era sobre instalações energéticas e infraestruturas, enquanto os ucranianos queriam ampliar para estradas de ferro e outras áreas.
Mas enquanto acontecem as negociações, as hostilidades não cessam. A Rússia denunciou ataques contínuos de drones ucranianos contra sua infraestrutura energética. Segundo o Ministério da Defesa russo, um drone de Kiev foi lançado domingo à noite contra a estação de bombardeamento de petróleo Kropotkinskaya, no território de Krasnodar. Interceptado a sete quilômetros do alvo, o drone despejou destroços na estação Kavkazskaya.
“Ao contrário do que declara Zelensky (…), Kiev continua executando ataques à infraestrutura energética, inclusive internacional, em território russo”, disse a pasta. Na nota, o Ministério lembrou que a estação atacada pertence ao Consórcio do Oleoduto Cáspio.
Apesar da acusação, o Kremlin reafirmou nesta segunda-feira que Moscou não reverteu a ordem dada de não atacar a infraestrutura de energia da Ucrânia.
Segundo o Exército ucraniano, as forças russas lançaram drones durante a noite de domingo, dos quais eles abateram 97 e outros tantos se perderam. As regiões de Kiev, Kharkiv, Sumy, Chernihiv, Odessa e Donetsk foram atingidas.
Já na Rússia, o governador da região de Belgorod informou que um drone ucraniano matou no domingo uma mãe e uma filha que viajavam de carro pela região, local no qual a Ucrânia afirma ter destruído quatro helicópteros militares.
