A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, advertiu nesta quarta-feira (12/03) que a posição de seu país sobre a guerra na Ucrânia não se decide “no exterior graças a acordos ou esforços de outras partes”.
O pronunciamento responde ao anúncio de que o presidente norte-americano Donald Trump e seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, acordaram nesta terça-feira (11/03) um cessar-fogo de 30 dias.
O acordo entre os dois foi possível após Zelensky concordar em ceder a exploração de parte das terras raras de seu país aos Estados Unidos. Em contrapartida, Trump se comprometeu a voltar a fornecer ajuda militar e de inteligência à Ucrânia, interrompida há uma semana.
Os Estados Unidos pretendem falar com a Rússia nas próximas horas para saber até que ponto o país concorda com o acordo proposto. “Para dançar um tango, são preciso dois”, disse Trump.
Rússia reitera que não aceitará tropas europeias na Ucrânia
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, reiterou que qualquer proposta sobre a Ucrânia “deve se concentrar em erradicar as causas profundas do conflito”. O diplomata destacou questões críticas como o Kremlin considerar inadmissível a presença de tropas europeias na Ucrânia.
“Toda vez que eles trapaceiam, perdem”, disse Lavrov. Segundo ele, se houvesse sido possível um acordo nas conversas com a Ucrânia em Istambul, em 2022, o país teria preservado suas fronteiras de 1991, sem a Crimeia e parte do Donbass. As declarações foram feitas a blogueiros norte-americanos.
Ele frisou que os interesses dos Estados Unidos e da Rússia não coincidem em muitos aspectos, mas que ambos países se movem pela mesma lógica:
“Quando os interesses não coincidem ou se contradizem, os países responsáveis devem fazer todo o possível para evitar que as contradições se transformem em confronto militar, que teria consequências catastróficas para outros países”, disse Lavrov.

Ucrânia aceitou trégua de 30 dias proposta pelos Estados Unidos
Chefes de inteligência da Rússia e dos EUA conversam
O “acordo” entre Kiev e Washington ocorreu após uma reunião que durou mais de oito horas nessa terça-feira na Arábia Saudita.
Depois da reunião, Zelensky disse que a trégua entraria em vigor imediatamente se Moscou a aceitasse. “Agora cabe aos Estados Unidos convencer a Rússia”, disse o presidente ucraniano.
Nesse contexto, os chefes dos serviços de inteligência da Rússia e dos Estados Unidos conversaram por telefone nessa terça-feira sobre uma possível cooperação entre as duas agências e como lidar com crises potenciais.
Sergei Naryshkin, chefe dos serviços de inteligência internacionais da Rússia, e John Tarcliffe, diretor da Agência de Inteligência dos EUA (CIA), concordaram em manter “contatos regulares”.
Europa se reúne novamente para debater sua participação
Os contatos, segundo o jornal El País, serão “para reduzir o confronto” nas relações bilaterais e “ajudar a garantir a estabilidade e a segurança internacionais”. É o primeiro contato oficial entre as agências de inteligência dos dois países desde 2022.
Nesta quarta-feira, os ministros da Defesa da França, Alemanha, Reino Unido, Itália e Polônia se reunirão em Paris. Eles continuarão a discussão de como a Europa se posicionará nas negociações de paz e como pretende ajudar a Ucrânia.
Muitos desses países defendem o envio de tropas europeias para a Kiev. Embora ressalvem que fariam apenas a defesa de portos, aeroportos e instalações energéticas, longe da fronteira russa, uma possibilidade de Moscou considera inaceitável.