Contradizendo as declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em encontro com seu homólogo francês Emmanuel Macron no dia anterior, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reforçou nesta terça-feira (25/02) que não tem nada a acrescentar em relação ao posicionamento inicial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, que é de não aceitar a presença de tropas europeias em solo ucraniano.
Em coletiva, o representante russo foi questionado pela imprensa local sobre a garantia que o mandatário norte-americano deu ao francês na segunda-feira (24/02), referente ao suposto endosso do presidente Vladimir Putin sobre a entrada das forças da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Ucrânia depois que fosse firmado o acordo de cessar-fogo.
Apesar de rebater a fala de Trump, Peskov também elogiou os EUA pela decisão de não apoiar as duas resoluções votadas durante a Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) no dia anterior, que condenavam a Rússia pela guerra na Ucrânia e exigiam a retirada de suas tropas do território ucraniano.
“Os Estados Unidos estão assumindo uma posição muito mais equilibrada, o que ajuda de verdade os esforços voltados a resolver o conflito”, reconheceu o representante russo, acrescentando que “talvez, com base nos resultados dos contatos entre europeus e norte-americanos, a Europa também se posicionará rumo a um maior equilíbrio”.
No dia anterior, os EUA se juntaram a países como Rússia, Coreia do Norte e Belarus, em oposição aos aliados europeus, e votaram contra uma proposta apresentada por Kiev na Assembleia da ONU. No marco dos três anos de guerra, o documento recebeu 93 votos a favor e 18 contrários. Ele também contou com 65 abstenções, incluindo a do Brasil e de membros dos BRICS, como Índia, África do Sul e China.
Mais tarde, o Conselho de Segurança aprovou, com voto conjunto de Moscou e Washington, uma resolução pedindo um “fim rápido” da guerra, mas sem classificar a operação da Rússia como “agressão”, como requerida pela Ucrânia.
Contudo, Peskov ressalta que a Rússia e os EUA ainda têm “um longo caminho” a percorrer para restaurar a confiança diplomática.
“Teremos que desenvolver medidas para restaurar e fortalecer a confiança mútua. Teremos que dar vários pequenos passos um em direção ao outro, o que ajudará a criar e restaurar a atmosfera de confiança. Muitos danos foram causados nos últimos quatro anos e muito foi destruído. É impossível reconstruir tudo em um instante. Temos muito a fazer”, destacou o porta-voz presidencial russo.

Porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reconhece que há um ‘longo caminho’ a ser percorrido para restaurar confiança entre Rússia e EUA
O governo anterior dos EUA, liderado pelo democrata Joe Biden, apoiava somente textos que condenavam a “agressão” de Moscou na Ucrânia. No entanto, desde que Trump reassumiu a Casa Branca, Washington tem promovido uma deriva pró-Rússia, cogitou reconstruir relações bilaterais e chegou a chamar o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, de “ditador” por seguir governando o país apesar de seu mandato ter expirado.
Os países de Trump e Putin iniciaram negociações à revelia de Kiev, e o republicano tenta forçar o presidente ucraniano a aceitar um acordo que comporte a renúncia aos territórios conquistados por Moscou. Além disso, cobra uma restituição das ajudas militares fornecidas pelos EUA nos últimos três anos, por meio do acesso norte-americano às terras raras ucranianas.
(*) Com Ansa e TASS