Lula tentará convencer Putin a participar de negociações em Istambul
Presidente brasileiro informou que esforço foi solicitado por Zelensky
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou nesta quarta-feira (14/05) que ligará para seu homólogo russo, Vladimir Putin, para encorajá-lo a sentar à mesa de negociações com o mandatário da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, como forma de encontrarem uma solução para o fim da guerra entre os dois países.
“Todos nós sabemos os motivos da guerra, não precisamos entrar em detalhes. Eu estou preocupado em encontrar o motivo da paz”, afirmou Lula durante entrevista à imprensa, em Pequim, onde o presidente brasileiro cumpriu visita oficial nos últimos dias. Lula esteve na semana passada em Moscou, onde já havia tratado do assunto.
O líder brasileiro explicou que seu contato com Putin foi solicitado por Zelensky ao chanceler ucraniano, que por sua vez, entrou em contato com o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira.
“Zelensky gostaria que eu pedisse para Putin, para saber se ele estava disposto a fazer um acordo de paz, uma trégua de 30 dias. Tive a oportunidade de jantar com ele e foi a primeira coisa que perguntei. E o Putin disse textualmente que topa ‘discutir isso a partir do acordo que estava sendo feito em Istambul, em 2022’”, declarou o mandatário brasileiro.
Lula disse ainda não conhecer “os detalhes desse acordo”, mas que durante sua viagem de volta ao Brasil vai tentar conversar com o líder russo.
O presidente também foi incisivo na defesa de uma “movimentação política” pela paz, que só será alcançada por meio de negociação verbal entre as partes.
“Somente os dois [Rússia e Ucrânia] podem encontrar uma solução. E é com muito otimismo que ouvi a proposta do Putin e a aceitação pelo Zelensky. E que o presidente Xi Jinping [da China] e eu colocamos o resultado disso numa nota, parabenizando tanto a proposta do Putin quanto a aceitação do Zelensky, na possibilidade que juntem em Istambul e, ao invés de trocar tiro, trocar palavra”.
Por sua vez, o Kremlin confirmou que informará sobre quaisquer contatos potenciais entre Putin e Lula.
Detalhes sobre as negociações em Istambul
No último domingo (11/05), Putin propôs retomar conversas diretas com a Ucrânia para encerrar o conflito que já se estende há mais de 3 anos, em um encontro que vai ocorrer na Turquia, na próxima quinta-feira (15/05).
Apesar da oferta de conversa feita pelos russos, e endossada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, até o momento não houve confirmação da participação pessoal de Vladimir Putin no encontro.
A oferta foi feita após líderes europeus – o presidente francês, Emmanuel Macron, o novo chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, e o premiê do Reino Unido, Kier Starmer – ameaçarem impor novas sanções contra a Rússia caso ele não aceite um cessar-fogo por 30 dias.
Putin, porém, definiu como “grosseiros” os “ultimatos” lançados por Kiev e pelos líderes dos países “dispostos”. “Eles ainda estão tentando, como vemos até agora, falar conosco de maneira grosseira e com a ajuda de ultimatos”, disse o presidente em declaração à imprensa, relatada pela agência Ria Novosti.
O líder russo acusou Kiev de ter rejeitado várias propostas de cessar-fogo, incluindo a mais recente, de três dias, que expirou na meia-noite do domingo. “Apesar de tudo, propomos às autoridades de Kiev que retomem as negociações que interromperam em 2022, conversas diretas e sem pré-condições”, afirmou Putin, sugerindo “iniciá-las sem demora na quinta-feira (15/05), em Istambul, onde ocorreram anteriormente e onde foram interrompidas”, como mencionou a Lula.

Ricardo Stuckert / PR
Para o enviado especial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para crimes cometidos pelo regime de Kiev, Rodion Miroshnik, o texto acordado em Istambul em 2022 pode servir como uma opção para a solução do conflito, desde que seja ajustado aos eventos ocorridos nos últimos três anos. As mudanças são referentes, por exemplo, à exigência de que Kiev declare-se um país não alinhado, com a OTAN e outras nações afirmando essa posição.
“A Ucrânia deve ser despojada de suas capacidades militares e não ser usada como instrumento contra a Rússia. Isso envolve a redução do tamanho das Forças Armadas da Ucrânia e a limitação das armas à sua disposição. Embora os números exatos não sejam especificados, o efetivo militar deve ser suficiente apenas para lidar com questões internas – dezenas de milhares, não milhões”, afirmou.
Além disso, Miroshnik destacou a necessidade de abolir leis discriminatórias relacionadas à religião e ao idioma, bem como de restaurar uma governança política estável na Ucrânia. “Hoje, a Ucrânia opera como uma ditadura militar sob Volodymyr Zelensky, que, na verdade, não é mais o presidente legítimo. Seu mandato expirou há muito tempo”.
Também nesta quarta-feira (14/05), o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, se recusou a falar sobre possíveis pontos de partida das negociações. “Precisamos esperar que eles comecem. Ninguém dirá com antecedência quais serão os pontos de partida”, disse aos repórteres.
Em meio às especulações, está certo que em 15 de maio, uma delegação russa aguardará os representantes de Kiev em Istambul, na Turquia. Zelensky expressou seu desejo de chegar pessoalmente a Istambul e, com o apoio dos países da UE, começou a fazer exigências sobre a composição da delegação russa.
Apesar da Rússia estar se preparando para as negociações, as autoridades de Moscou se recusaram a comentar os nomes e cargos das autoridades que podem representar o país no encontro. “Faremos um anúncio assim que o presidente julgar necessário”, acrescentou Peskov.
O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, disse à TASS que Moscou espera se envolver diretamente com a Ucrânia em Istambul: “Nossos representantes estão se preparando para esse contato”.
Já o assessor do Kremlin, Yury Ushakov, declarou que composição da delegação russa dependerá da “pauta a ser discutida”. “A delegação precisa abordar questões políticas e, eu diria, um bilhão de questões técnicas”, disse a autoridade. “Portanto, a composição da delegação será determinada com base nisso”, ressaltou.
Quanto ao formato das negociações, o ministro das Relações Exteriores da Turquia, Hakan Fidan, disse que ainda não foi definido.
“O formato das negociações ainda não foi finalizado, mas contamos com o sucesso delas. Desde o início, defendemos um fim rápido para esta guerra. É importante que alcancemos um cessar-fogo o mais rápido possível e iniciemos negociações de paz sistemáticas. Posso dizer que estou satisfeito com o que alcançamos. Ou seja, ambos os lados estão demonstrando vontade [de negociar]. As intenções são muito importantes e estou determinado a ajudar a interromper esta guerra”, disse ele ao canal TRT.
E Trump?
O governo da Turquia não espera a visita do presidente dos EUA, Donald Trump, na quinta-feira para participar das negociações entre Rússia e Ucrânia, segundo informou a Bloomberg. Já a delegação de Washington estará presente nas conversas desde o primeiro dia.
Contudo, segundo a agência, as autoridades turcas não descartam que o líder norte-americano possa chegar a Istambul nos dias seguintes ao início das conversas — especialmente se Putin também viajar para a Turquia.
Anteriormente, Trump disse que consideraria a ideia de visitar a Turquia, mas observou que sua agenda no Oriente Médio, que está sendo cumprida nesta semana entre Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos, já estava lotada.
(*) Com Agência Brasil e TASS
