O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quinta-feira (19/12) que está pronto para conversar com Donald Trump, mandatário eleito nos EUA, para discutir um plano de paz para dar fim ao conflito com a Ucrânia.
Putin afirmou que a operação militar na Ucrânia fortaleceu a economia e as Forças Armadas russas, mas que não negociaria com o presidente ucraniano porque “seu mandato já terminou”.
Isso porque a Ucrânia adiou as eleições que aconteceriam neste ano por causa da guerra.
Tudo isso foi dito na tradicional coletiva de dezembro na qual Putin responde a dezenas de perguntas de jornalistas russos, correspondentes e algumas de cidadãos que as enviam online.
A coletiva este ano, como era de se esperar, teve como grande tema foi a guerra na Ucrânia, embora inflação e economia interna também tenham sido tratados.
Sobre um plano de paz, Putin já havia sinalizado que estava aberto a discutir com Trump um acordo de cessar-fogo desde que Kiev desistisse de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
O presidente russo também descartou fazer grandes concessões sobre as áreas que já conquistou da Ucrânia.
Nesta quinta-feira, disse que as negociações devem ter como ponto de partida o acordo preliminar elaborado por russos e ucranianos reunidos em Istambul, nas primeiras semanas de guerra.
Rússia controla 20% da Ucrânia
Atualmente, a Rússia controla cerca de 20% do território da Ucrânia. Só este ano, suas tropas avançaram milhares de quilômetros quadrados e agora se aproximam de cidades estratégicas como Pokrovsk, importante centro rodoviário e ferroviário.
Na coletiva, Putin disse que era “difícil e inútil adivinhar” o que irá ocorrer, “mas estamos avançando em direção à solução de nossas tarefas principais, as que delineamos no início da operação militar especial”.
Quando as tropas russas entraram na Ucrânia o objetivo era impedir o país de aderir à OTAN e anexar quatro regiões que tem a maioria da população russófona.
Mas apesar de dizer que a guerra fortaleceu a Rússia, Putin fez alguma autocrítica durante a coletiva.
Disse que deveria ter enviado antes as tropas para a Ucrânia e se preparado melhor. “Começamos os eventos de 2022 sem nenhuma preparação…Se soubéssemos antes o que aconteceria, deveria ter havido uma preparação sistêmica”.
Ao ser questionado sobre o ceticismo ocidental com relação ao Oreshnik – o novo míssil hipersônico russo com capacidade nuclear -, Putin foi desafiante e brincou dizendo que está pronto para um “duelo tecnológico” com o míssil.
A Rússia usou esse míssil contra a Ucrânia em novembro, depois que Kiev a atacou pela primeira – e com autorização ocidental – com mísseis balísticos britânicos e norte-americanos de médio alcance (250 a 560 quilômetros).
Na época, fontes dos EUA e Reino Unido disseram acreditar que se tratava de um míssil experimental que, embora tivesse capacidade nuclear, teria possivelmente um alcance máximo de 5,5 mil quilômetros.
Isso seria suficiente para atingir a Europa, mas não os EUA.
Na coletiva, um dos jornalistas perguntou se o Oreshnik não poderia ser interceptado pelos sistemas antimísseis ocidentais.
Putin respondeu dizendo que o artefato poderia derrotar qualquer sistema de mísseis norte-americanos e sugeriu uma experiência.
“Deixem que os EUA entreguem o seu avançado sistema antimísseis THAAD à Ucrânia e fazemos a experiência”.
Bases russas na Síria
Putin disse ainda que a Rússia fez propostas aos novos governantes da Síria sobre as bases militares russas no país e que a maioria dos interlocutores sírios com quem seu governo discutiu o assunto eram favoráveis a permanência das bases.
Segundo ele, a Rússia ainda não havia decidido o assunto, mas que os rumores sobre o fim da influência russa no Oriente Médio eram exagerados.
Zelensky pede ajuda para enfrentar o pós-guerra
Enquanto Putin fazia sua coletiva nesta quinta-feira (19/12), Volodymyr Zelensky já estava focado em pedir proteção externa para o seu país depois do fim da guerra.
Discursando numa reunião de cúpula da União Europeia (UE), ele solicitou a esses países que protejam a Ucrânia depois do cessar-fogo, mas frisando não seria suficiente sem o apoio dos EUA.
“Apoiamos a iniciativa da França de manter um contingente militar na Ucrânia como parte dessas garantias para a nossa segurança e pedimos que outros parceiros se juntem a esse esforço. Isso ajudará a por fim à guerra”, disse Zelensky nessa reunião, segundo texto publicado por ele em seu site.
Ele voltou a insistir na necessidade de filiação à OTAN para garantir a segurança da Ucrânia.
Mas a aliança militar, embora tenha dito que a Ucrânia um dia se juntará a ela, não definiu data nem formalizou convite.