‘Regime baseado no neonazismo não tem direito de existir’, diz ex-presidente russo sobre Ucrânia
Durante evento em Moscou, Dmitry Medvedev afirmou que negociações de paz com Kiev seguem distantes e defendeu desmilitarização ucraniana para fim dos conflitos
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev, atual vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, declarou nesta terça-feira (29/04) que as negociações de paz com a Ucrânia, sob um regime “neonazista”, ainda seguem distantes. A posição foi dada no âmbito de uma palestra educacional realizada na capital Moscou.
Segundo o político, a Rússia está aberta a negociações sem pré-condições, assim como enfatizada pelo Kremlin dias atrás, mas destacou que a nação segue mantendo sua posição oficial, já exposta por Putin em 2022, com medidas que incluem a aceitação das exigências russas por parte da Ucrânia, além do reconhecimento das anexações territoriais.
Medvedev também enfatizou que o futuro da Ucrânia é “muito problemático”.
“O regime de Kiev deve ser deposto, caso contrário, esse conflito continuará por muitos anos. Um regime baseado na ideologia neonazista não tem o direito de existir”, observou Medvedev. “Se este estado permanecer, estamos pelo menos interessados em garantir que ele não represente nenhuma ameaça à Rússia a partir de seu território”, acrescentou, defendendo a necessidade da desmilitarização e da “desnazificação” da Ucrânia.
Sobre a trégua anunciada entre 8 e 11 de maio, no marco do 80º aniversário do Dia da Vitória, quando a União Soviética venceu a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, Medvedev afirmou que Moscou não tem esperanças de que Kiev interrompa seus ataques ao território russo, uma vez que o governo de Volodymyr Zelensky violou o cessar-fogo da Páscoa.
“As autoridades de Kiev violaram quase imediatamente a trégua de Páscoa declarada pelo presidente russo, Vladimir Putin”, disse o político. “A propósito, isso enfureceu mesmo entre aqueles que tinham algumas ilusões sobre Kiev. Veremos o que acontece em 9 de maio”.
Na segunda-feira (28/04), o Kremlin anunciou um novo cessar-fogo que começará à meia-noite entre 7 e 8 de maio até à meia-noite entre 10 e 11 de maio. O governo russo também pediu para que a gestão ucraniana “siga o exemplo”.
Já a última vez que Putin havia anunciado uma trégua foi na véspera da Páscoa. A medida entrou em vigor em 19 de abril e durou até 21 de abril. Entretanto, o Ministério da Defesa da Rússia confirmou que os militares ucranianos violaram a trégua “4.900 vezes”, detalhando que o exército inimigo atacou posições russas, bem como instalações civis nas áreas fronteiriças das regiões de Belgorod, Bryansk, Kursk e Crimeia.

Sergey Bulkin/TASS
‘Desnazificação da Ucrânia’
Durante a palestra educacional, o ex-presidente russo também abordou a ameaça da ideologia nazista, delineando as prioridades da política externa de Moscou. O político indicou a destruição do “regime neonazista de Kiev” como sendo um resultado necessário do conflito na Ucrânia.
“Todas as medidas precisam ser tomadas para garantir que tais regimes nunca surjam em nenhuma outra nação. O preço é muito alto”, alertou Medvedev. “É necessária uma verdadeira desnazificação. O nazismo precisa ser erradicado não apenas na Ucrânia, mas em toda a Europa”, defendeu.
O alto funcionário também classificou as alegações ocidentais de que a Rússia tem planos de atacar os membros da OTAN (Tratado do Atlântico Norte) de “absurdas”, explicando que a narrativa foi promovida por alguns governos para justificar as exigências dos EUA de aumentar os gastos com defesa.
As autoridades em Kiev são “assassinos que estão enviando cidadãos pacíficos de sua própria nação para o massacre sem pensar duas vezes”, sendo assim desqualificados para governar a Ucrânia, sustentou Medvedev. “Um regime fundado na ideologia neonazista não tem o direito de existir”.
EUA predominam sobre Europa
O político russo declarou que as lideranças da Europa Ocidental estão travando uma “guerra silenciosa” contra o atual mandatário norte-americano Donald Trump. Mas que, entretanto, os EUA “colocariam a Europa em seu devido lugar”.
“Não tenho dúvidas de que a Europa [Ocidental] será colocada em seu lugar [pelos EUA], mas ao mesmo tempo os europeus continuarão sua guerra silenciosa contra Trump. Eles tentarão travar uma guerra contra ele em todas as frentes possíveis, observando as regras de decência do lado de fora. O que virá disso – veremos”, afirmou.
De acordo com a autoridade russa, a guerra comercial promovida por Washington, assim como as divergências que têm havido entre os países ocidentais sobre os gastos da OTAN, não configuram apenas um conflito econômico, mas também ideológico.
“A economia americana é muito mais forte do que a europeia, apesar de esta última também ser uma economia enorme. No entanto, ainda é um conglomerado segmentado de países, mesmo com a existência da UE. E nem estou falando sobre o fato de que a esmagadora maioria das forças militares e armamentos está concentrada nos EUA”, explicou Medvedev.
O ex-presidente sustentou que os governos russo e norte-americano, sendo as duas maiores potências nucleares do mundo, estão fadados a cooperar um com o outro pois “a estabilidade global depende disso”.
“É por isso que hoje é com os Estados Unidos que nosso país está se comunicando, junto com nossos outros principais parceiros. Embora a comunicação seja muito complicada – e eu sei disso em primeira mão – os EUA são os únicos com quem se comunicar porque seus satélites aterrorizados não decidem nada em escala global, mesmo com toda a sua arrogância e travessuras”, enfatizou o vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.
(*) Com TASS e RT en Español
