A poucas semanas da guerra na Ucrânia completar três anos de duração, a criação de um ambiente para negociações de paz não parece próxima. Enquanto a Rússia considera a proposta brasileira e chinesa para solucionar o conflito, Kiev se aproxima dos planos norte-americanos para tal.
Em entrevista à Sputnik, o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, declarou que Moscou pondera as propostas do Grupo Amigos da Paz, iniciativa de Brasília e Pequim, para colocar fim à guerra.
“Consideramos as atividades do grupo um sinal para toda a comunidade internacional e, em primeiro lugar, para os países ocidentais, de que as abordagens unilaterais e tendenciosas que eles impõem à crise ucraniana são inaceitáveis”, disse Nebenzya.
A Rússia acena positivamente à criação da plataforma, na contramão de propostas de paz que promovem apenas o interesse de países ocidentais.
Dentre essas propostas, os aliados de Kiev já organizaram diversas reuniões para debater uma solução no conflito, como a conferência Copenhague-Ucrânia 2022 e a Cúpula de Paz para Ucrânia no resort suíço de Burgenstock de 2024. Contudo, a Rússia não foi convidada para nenhum desses eventos.
Na opinião do embaixador russo, tais conferências ignoram descaradamente a posição da Rússia e a situação “no terreno”, além de terem como objetivo “diluir o papel dos países da maioria global na resolução da crise ou excluí-la completamente”.
Em crítica ao governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, o representante russo ressaltou que é “fundamentalmente importante” para a Rússia que os possíveis acordos de paz com Kiev sejam assinados por uma liderança ucraniana legítima.
Nebenzya refere-se ao fato de que o mandato do atual líder ucraniano expirou em 20 de maio de 2024, uma vez que a eleição presidencial na Ucrânia em 2024 foi cancelada sob o pretexto da guerra.
Além disso, Zelensky proibiu efetuar negociações com o presidente russo Vladimir Putin, emitindo um decreto sobre isso ainda em 2022.
“Esses fatores podem dificultar o processo de negociação e a fixação de seus resultados. Se as negociações forem ilegítimas, então os seus resultados posteriormente poderão ser declarados legalmente inválidos”, explicou o representante da Rússia na ONU.
Nebenzya defendeu, assim, que a Rússia é a favor da “paz, não de um cessar-fogo” no contexto da crise ucraniana. A solução, segundo ele, deve considerar os interesses e condições propostas por Moscou.

Guerra na Ucrânia completa três anos em 24 de fevereiro
Zelensky aceita planos de Trump, mas com condições
Assim, em uma possível única concordância entre as posições russa e ucraniana, Zelensky afirmou nesta segunda-feira (10/02) que “um conflito congelado levará a mais agressões de novo e de novo”, rejeitando a repetição de acordos de paz anteriores que não levaram ao fim da guerra.
Deste modo, declarou que estaria pronto para negociar os planos do governo dos Estados Unidos, sob a Presidência do republicano Donald Trump, para encerrar a guerra.
Contudo, o presidente ucraniano estipulou uma exigência para sentar à mesa das negociações: a garantia de que os Estados Unidos e a Europa “não abandonem seu país”, em meio a ameaças de redução da ajuda militar a Kiev.
Em dezembro passado, o Trump afirmou que não vai “abandonar” a Ucrânia, mas se opôs ao uso de mísseis de longo alcance dos EUA por Kiev para atacar a Rússia.
“Se eu soubesse que os Estados Unidos e a Europa não nos abandonarão e nos darão garantias de segurança, estaria pronto para qualquer formato de diálogo”, afirmou ele ao canal de TV britânico ITV, citado pelo jornal The Guardian.
A declaração foi dada em entrevista após o telefonema entre Trump e Putin, sobre o fim do conflito deflagrado contra o território ucraniano.
À emissora, Zelensky enfatizou que a Ucrânia não quer repetir acordos de paz e negociações que não produziram resultados nos anos que antecederam a invasão em grande escala de Moscou em fevereiro de 2022.
“Se houver garantias de segurança, então podemos falar sobre o fim da ‘fase quente’ da guerra”, disse o líder ucraniano, enfatizando a necessidade de “entender que precisamos saber exatamente como essa guerra vai acabar” e “que estamos todos do mesmo lado que os Estados Unidos e a Europa”.
Segundo Zelensky, Trump “não precisa apenas acabar com a guerra, mas precisa agir para que Putin não tenha mais nenhuma chance de travar uma guerra” com a Ucrânia.
(*)Com Ansa e Sputnik