Trump prevê solução rápida da guerra na Ucrânia; Macron diz que paz não significa 'rendição' de Kiev
Reunião de líderes evidenciou distância entre EUA e UE; segundo Washington, governo russo aceitará presença de tropas europeias em Kiev
O encontro na noite desta segunda-feira (24/02) entre os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, da França, evidenciaram o distanciamento dos dois lados da aliança transatlântica. Enquanto os dois conversavam na Casa Branca, os Estados Unidos votaram junto com a Rússia, Bielorussia, Coreia do Norte, e outros 14 países contra a resolução das Nações Unidas que condenava a invasão da Ucrânia e exigia a devolução dos territórios ocupados, em oposição aos seus aliados europeus. Washington se negou, inclusive, a classificar a operação na Ucrânia de “agressão”.
Na reunião, entretanto, Trump garantiu a Macron que o presidente russo Vladimir Putin aceitaria a presença de tropas europeias na Ucrânia para garantir a paz depois que fosse firmado o acordo de cessar-fogo. Este é um ponto essencial para os europeus, preocupados em ter garantias de que a trégua seja duradoura e que a Rússia não volte a realizar suas operações em Kiev.
“Sim, ele aceitará. Eu perguntei especificamente a ele sobre essa questão. Ele não se importa, não tem problema com isso. Eles querem acabar com essa guerra”, disse o presidente norte-americano sobre a ideia das forças de paz europeias na Ucrânia, dois dias após o Kremlin ter dito que seriam inadmissíveis tropas no país de Volodymyr Zelensky “sob qualquer bandeira”.
Macron voltou a frisar que essas forças de paz “não estariam nas linhas de frente, não fariam parte de nenhum conflito”. Apenas “estariam lá para garantir que a paz fosse respeitada”.
‘Putin aceitaria tropas europeias na Ucrânia’, diz Trump
A despeito das grandes distâncias, ambos destacaram os pontos de concordância ao conversar com a imprensa local. Macron chegou a dizer que a conversa com Trump era um “ponto de virada” na busca por uma abordagem mais unificada.
“Acredito que Emmanuel concorda comigo em muitas das questões mais importantes. A Europa deve assumir um papel central para garantir a segurança de longo prazo da Ucrânia”, disse Trump.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e o presidente dos EUA, Donald Trump em coletiva após reunião do dia 24 de janeiro
“Esta paz não deve significar uma rendição da Ucrânia. Não deve significar um cessar-fogo sem garantias. Esta paz deve permitir a soberania ucraniana e que a Ucrânia negocie com outras partes interessadas”, ressalvou Macron.
Eles tiveram momentos de choque diante dos repórteres. Foi quando Trump disse que a Europa estava emprestando dinheiro à Ucrânia para recebê-lo depois e que os Estados Unidos também queriam receber de volta suas ajudas. O mandatário francês o interrompeu e corrigiu: “Não, na verdade pagamos 60% do esforço total. Foi como os EUA: empréstimos, garantias e subsídios”. Mas o magnata norte-americano insistiu: “se você acredita nisso, está tudo bem para mim”.
Trump insiste em se apossar dos minerais raros da Ucrânia
Trump defendeu um cessar-fogo o mais rápido possível e revelou que já estava trabalhando por ele. Já Macron defendeu um acordo de paz que inclua “garantias de segurança”, prevendo que essa trégua poderia começar nas próximas semanas. “Queremos paz rapidamente, mas não queremos um acordo fraco”, frisou o francês aos repórteres.
Ainda nessa segunda-feira, Putin sinalizou que não se opunha ao envolvimento da Europa nas negociações. “Não apenas europeus, mas outros países também têm o direito e podem participar”, disse Putin em uma entrevista.
Por outro lado, Trump informou que conversará sobre o acordo de paz com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que deve ir a Washington em breve para negociar um acordo de compartilhamento de receitas minerais com os Estados Unidos. O republicano, que espera com isso ressarcir seu país das ajudas dadas à Ucrânia, garante que a firma do acordo será “nesta semana ou na próxima”. Entretanto, Zelensky já rejeitou o cálculo do magnata de que seu país deve aproximadamente US$ 500 bilhões aos Estados Unidos.
No próximo final de semana, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, deve visitar Trump também para discutir a guerra da Ucrânia.
