Rússia e Ucrânia trocam ataques com drones após conversas de cessar-fogo
Para Moscou, bombardeios mostram que Kiev não tem 'vontade política para a paz e resolução do conflito através da diplomacia'
Enquanto as negociações para um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia prosseguem, as forças militares de ambos os países continuam com ataques recíprocos. No território ucraniano, os mais de 170 drones russos lançados entre quarta-feira (19/03) e as primeiras horas desta quinta (20/03) deixaram ao menos três civis mortos.
Já do lado russo, os ataques de Kiev, com 132 drones abatidos, feriram mais de dez pessoas. O governador da região russa de Saratov, Roman Busargin, acusou Kiev nesta quinta de ter “realizado o mais massivo ataque de drones de todos os tempos” na capital regional e na segunda maior cidade, Engels.
De acordo com as autoridades locais, “hospitais, escolas e cerca de 30 residências foram danificadas” durante os ataques. Um aeroporto militar em Engels também sofreu um incêndio após ser atingido pelos drones, ferindo outros dois indivíduos.
Para a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, com os bombardeios, o governo de Volodymyr Zelensky tem demonstrado “uma total falta de vontade política para a paz e para a resolução do conflito através da diplomacia”.
Os ataque ocorrem horas depois de Zelensky ter declarado que estava “pronto” para aceitar a proposta de cessar-fogo parcial esboçada pelo presidente norte-americano Donald Trump e seu homólogo russo Vladimir Putin.
Trump e Putin conversaram por telefone na terça-feira (18/03) sobre um cessar-fogo temporário apenas sobre a infraestrutura energética dos dois países. No dia seguinte, o mandatário dos Estados Unidos conversou com Zelensky e se disse otimista com a conversa.
Mas Trump exigia que, durante o cessar-fogo, a Ucrânia não recebesse novas armas ou informações de inteligência de outros países, nem mobilizasse novos soldados. Porém, Zelensky e seus aliados europeus não estão dispostos a aceitarem essas condições.
O presidente ucraniano declarou que ainda não considerava o cessar-fogo em vigor, mas que poderia ser estabelecido rapidamente. Ele disse que sua equipe apresentaria aos norte-americanos uma lista do tipo de instalações que deveria incluir, não só de energia como de infraestrutura civil.
Zelensky e União Europeia vêm com ceticismo o cessar-fogo
Tanto os líderes europeus como Zelensky veem com ceticismo a ideia do cessar-fogo parcial esboçada por Putin e Trump. A chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, disse que as demandas do Kremlin de parar de armar Kiev eram inaceitáveis.
Ao mesmo tempo, a Europa se prepara aceleradamente para incrementar sua capacidade bélica e para armar a Ucrânia. Na quarta-feira, a Ucrânia recebeu mais caças F-16.
Já nesta quinta-feira, Kallas apresentará aos líderes europeus reunidos em Bruxelas uma proposta de fornecer à Ucrânia dois milhões de cartuchos para munição de grande calibre.

Armar a Ucrânia e a si mesma tornou-se prioridade da Europa
A União Europeia também pretende financiar o acesso da Ucrânia aos serviços de satélite de provedores europeus. A informação consta do White Paper da Comissão do bloco publicado na quarta-feira. Com isso, querem reduzir a dependência de Kiev do Starlink de Elon Musk, que fornece imagens de satélite essenciais para conhecer os movimentos do inimigo.
Segundo Kiev, porém, a Starlink já fez ameaças veladas de que poderia cortar o serviço caso a Ucrânia não aceitasse o acordo de paz proposto. A UE já está em negociação com operadores de satélite europeus para substituir a empresa do bilionário.
A corrida armamentista da Europa
Os líderes europeus reúnem-se nesta quinta-feira em Bruxelas para continuar discutindo o apoio à Ucrânia e o plano de rearmamento do bloco para ter independência dos Estados Unidos em defesa. A intenção do grupo é estimular a produção interna de armamento e conquistar em cinco anos sua autossuficiência na área.
Para isso, o bloco já decidiu que criará um programa de empréstimos de 150 bilhões de euros para gastos em defesa e que parte desses gastos ficarão fora das regras que limitam o endividamento dos países membros.
O programa de empréstimos para Estados membros da UE exige que 65% dos gastos venham de fornecedores do bloco, Noruega ou Ucrânia. Esta é a terceira reunião sobre esses temas desde Trump assumiu a Presidência norte-americana.
(*) Com Ansa.
