Quarta-feira, 26 de março de 2025
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Os 27 países membros da União Europeia reúnem-se nesta quinta-feira (06/03) em Bruxelas para discutir como financiarão os aumentos de gastos com defesa, ampliação de apoio militar à Ucrânia, e estratégias para garantir a segurança de Kiev após o fim do conflito. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participará do encontro.

As medidas são uma resposta à suspensão da ajuda militar dos Estados Unidos à Ucrânia, anunciada pelo presidente Donald Trump, no último domingo (03/02), após uma tensa reunião com Zelensky em Washington na sexta-feira (28/02). Na quarta-feira (05/03), os Estados Unidos acrescentaram que além da suspensão do envio de armas, inclusive das que já estavam a caminho, o país deixará de fornecer informações de inteligência a Kiev. Ou seja, a Ucrânia já não poderá contar com dados fundamentais sobre as posições do exército russo.

O objetivo de Trump é pressionar Zelensky a aceitar rapidamente um acordo de paz com a Rússia. E o medo da Europa é que uma vitória de Moscou na Ucrânia anime o país a novas incursões em solo europeu.

O rascunho das conclusões cúpula da UE desta quinta-feira, obtido pelo jornal espanhol El País, mostra que o bloco estuda oferecer à Ucrânia instrumentos da Política de Segurança e Defesa, como operações de patrulhamento, missões de reforço da segurança nacional e o destacamento de forças militares com bandeira europeia.

O plano objetiva alcançar o fim de guerra e armar a Ucrânia a ponto de tornar pouco atrativa um eventual plano russo de atacar o país novamente. Em um segundo momento, se analisaria outras formas de contribuição, como colocar tropas europeus sobre o terreno. O tema é polêmico, mas alguns países europeus já se declararam dispostos a fazê-lo.

França e Reino Unido lideram apoio à Ucrânia

Embora a maioria dos membros da UE concorde em se envolver de alguma forma na manutenção da paz na Ucrânia, a maior parte deles só pretende fazê-lo se Washington mantiver apoio aéreo e de inteligência. Alguns países, entretanto, estão pressionando para formar uma “coalizão de dispostos” a garantir à Ucrânia apoio de inteligência, logística e tropas no solo. O grupo é liderado pela França e pelo Reino Unido, este último não membro da UE.

No sentido contrário, a Hungria ameaça vetar qualquer decisão da cúpula que apoie à Ucrânia, o que impediria uma posição unitária. O país sugeriu, inclusive, que a UE negociasse diretamente com a Rússia. A despeito disso, diplomatas esperam que os líderes da cúpula aprovem a maioria das propostas e instruam funcionários a rapidamente transformá-las em rascunho de legislação. Mas chegar a um acordo sobre os detalhes não será fácil.

Os líderes da UE até agora não conseguiram estipular um valor para a ajuda militar que darão à Ucrânia este ano. Alguns sugeriram que fosse ao menos 20 bilhões de euros (cerca de R$110 bilhões) este ano, igual a 2024. Para isso, cada estado-membro contribuiria segundo o tamanho de sua economia.

Contudo, os países nórdicos e bálticos reclamam que nações como França, Itália e Espanha não fazem o suficiente. Até o momento o anúncio oficial foi a mobilização da UE para levantar 800 bilhões de euros a fim de  aumentar as defesas da União Europeia.

 Kaja Kallas, vice-presidente da Comissão Europeia e representante para os NEgócios Estrangeiros e Política de Segurança do bloco
Wikimedia Commons
Kaja Kallas, vice-presidente da Comissão Europeia e representante para os NEgócios Estrangeiros e Política de Segurança do bloco

UE estuda como financiar seu rearmamento

Na quarta-feira (05/03), o presidente da França, Emmanuel Macron, fez um discurso televisivo à nação sobre como a Rússia se tornou “uma ameaça para a Europa”. “A paz não pode ser conseguida a qualquer preço. Quem pode acreditar que a Rússia irá se deter na Ucrânia?”, questionou Macron no fala que durou 13 minutos.

“Quero acreditar que os Estados Unidos ficarão ao nosso lado. Mas temos que estar prontos se esse não for o caso. O futuro da Europa não deve ser decidido em Washington ou Moscou”, disse o presidente francês. Ele defende que as forças europeias devem garantir, de forma autônoma, a segurança na Ucrânia após o acordo de paz.

Macron disse ainda que a França está aberta a discutir a extensão da proteção de seu arsenal nuclear de dissuasão aos seus parceiros europeus. Mas deixou claro que a decisão sobre o eventual uso de armas atômicas ficará exclusivamente nas mãos do governo francês.

Ao mesmo tempo, tanto a UE como cada um dos países membros estão buscando formas de financiar o rearmamento do continente. A discussão é se o caminho deve ser aumentar impostos ou endividar-se para ampliar os gastos militares. A UE já sinalizou que está disposta a suspender as regras que limitam o déficit anual a 3% do PIB. A expectativa é que o bloco gastasse nos próximos quatro anos 650 bilhões de euros adicionais em defesa.

A UE também busca unir forças com outros aliados com ideias semelhantes. Para isso, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e a chefe da diplomacia e vice-presidente do bloco, Kaja Kallas realizarão nessa sexta-feira uma vídeo-conferência com o Reino Unido, a Noruega e a Turquia. O objetivo é atualizá-los sobre as discussões da cimeira extraordinário.

Os planos militares da Europa para a Ucrânia

Os chefes das Forças Armadas dos países europeus se reunirão na próxima semana para discutir o envio de uma força de manutenção da paz na Ucrânia após o cessar-fogo. Um dos temas em discussão por esses especialistas militares é a proposta do Sky Shield. Trata-se da criação de uma zona de proteção aérea para deter ataques de mísseis de cruzeiro e drones russos contra cidades e infraestrutura da Ucrânia. O sistema de proteção seria liderado pela Europa e operada separadamente da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Eles discutem a possibilidade de que uma força aérea europeia de 120 caças fosse mobilizada para proteger os céus de ataques aéreos russos em Kiev e no oeste da Ucrânia. Atuando longe da fronteira russa, acreditam que evitariam provocar um conflito maior com Moscou, embora o Kremlin tenha dito várias vezes que considera inadmissível a presença de tropas estrangeiras na Ucrânia, “sob qualquer bandeira”.

O Sky Shield protegeria as três usinas nucleares em operação na Ucrânia e as cidades de Odessa e Lviv, mas não a linha de frente ou o leste do país. Entre os apoiadores do plano estão Philip Breedlove, ex-general da Força Aérea dos Estados Unidos e comandante supremo da OTAN na Europa, e o ex-ministro das Relações Exteriores da Lituânia Gabrielius Langsbergis, bem como o ex-presidente polonês Aleksander Kwasniewski.