Quarta-feira, 26 de março de 2025
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O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta sexta-feira (14/02), durante uma reunião com vários senadores dos Estados Unidos em Munique, Alemanha, que não planeja “se encontrar com os russos” para negociar o fim da guerra na Ucrânia, mas sim com “apenas um russo”, seu homólogo de Moscou, Vladimir Putin.

Zelensky ainda levantou uma condição para reunir-se com o mandatário russo. Segundo ele, esse encontro só pode acontecer “depois de um plano conjunto” com Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, que anunciou o “início imediato” das negociações para o conflito nesta semana, e a União Europeia – que não foi envolvida no processo do norte-americano.

“Estou pronto para me reunir apenas neste caso, e não em outras plataformas para consulta”, reiterou o presidente ucraniano. “Nós nos sentaríamos com Putin e pararíamos a guerra”, caso tal exigência fosse respeitada, acrescentou.

Apesar da condição de Zelensky, o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya já afirmou que é “fundamentalmente importante” para a Rússia que os possíveis acordos de paz com Kiev sejam assinados por uma liderança ucraniana legítima.

Nebenzya refere-se ao fato de que o mandato do atual líder ucraniano expirou em 20 de maio de 2024, uma vez que a eleição presidencial na Ucrânia em 2024 foi cancelada sob o pretexto da guerra.

Assim, Putin afirmou que caso Zelensky deseje participar das negociações o fim da guerra, ele deve nomear “pessoas que conduzirão essas negociações com ele”.

Contudo, o ucraniano não poderia realizar a assinatura final dos documentos de cessar-fogo, o que para Moscou “é uma questão muito séria, que deve garantir a segurança tanto da Ucrânia quanto da Rússia em uma perspectiva histórica de longo prazo”, segundo Putin.

‘EUA nunca viu Ucrânia na OTAN’, admite Zelensky

Durante a reunião com os senadores norte-americanos, Zelensky também criticou a ligação que Trump manteve com Putin na última quarta-feira (12/02). Segundo ele, a conversa “não é um risco para os EUA, mas para o mundo inteiro”.

O presidente ucraniano ainda refletiu sobre as possibilidades do seu país ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um dos principais motivos que levou ao início da guerra com a Rússia, em fevereiro de 2022.

“Falando francamente, os Estados Unidos nunca nos viram na OTAN, apenas falaram sobre isso, mas realmente não nos queriam na aliança. Não é uma questão de Trump, mas da política dos EUA ou da Casa Branca”, refletiu após diversos pedidos feitos por Kiev para integrar a aliança nos últimos anos.

Volodymyr Zelensky/X
Reunião da delegação ucraniana com a norte-americana, em Munique, nesta sexta-feira (14/02)

Reunião com vice-presidente de Trump

A reunião de Zelensky com os senadores norte-americanos ocorreu pouco antes de um encontro do mandatário ucraniano com o vice-presidente de Trump, J.D. Vance, também em Munique, nesta sexta-feira (14/02). As reuniões ocorrem devido à Conferência de Munique, evento anual que ocorre para debater a segurança mundial e vai desta sexta-feira até o próximo domingo (16/02).

O líder de Kiev afirmou, por meio das redes sociais, que sua reunião com Vance, o secretário de Estado, Marco Rubio, e o enviado especial dos EUA para a guerra na Ucrânia, Keith Kellogg, foi “boa”.

“Abordamos muitas questões-chave e estamos ansiosos para receber o General Kellogg na Ucrânia para mais reuniões e uma avaliação mais profunda da situação no local”, afirmou o presidente.

Zelensky disse ainda que a Ucrânia “está pronta para avançar o mais rápido possível em direção a uma paz real e garantida” e que as “equipes continuarão a trabalhar no documento”.

Contrariando sua crítica à ligação de Trump à Putin, Zelensky ainda disse “valorizar profundamente” a determinação do presidente republicano pelo fim da guerra.

Por sua vez, o perfil do governo Trump na rede social X revelou um trecho da reunião entre as delegações, em que Vance afirma: “queremos que a guerra chegue ao fim. Queremos que a matança pare, mas queremos alcançar uma paz duradoura — não o tipo de paz que deixará a Europa Oriental em conflito daqui a alguns anos”.

Tensão com a Europa

A conversa entre Trump e Putin elevou as preocupações entre aliados europeus, que temem ser excluídos de um possível acordo de paz que favoreça Moscou. O sentimento levou ministros de sete países europeus e a Comissão Europeia (CE) firmarem uma declaração conjunta na última quarta-feira (12/01) frisando que a Europa precisa fazer parte de qualquer negociação sobre a guerra na Ucrânia.

As tensões foram elevadas após Vance, em discurso na Conferência de Munique, acusar a União Europeia de ter se “afastado dos valores” compartilhados com os norte-americanos, “como a liberdade e a democracia”.
Segundo o vice de Trump, o que “ameaça” a Europa “não é a Rússia ou a China”, mas algo “interno”: “o distanciamento do continente de alguns de seus valores fundamentais, valores compartilhados com os EUA”.

Vance sustentou o seu discurso com diversos exemplos, como as “eleições na Romênia, que foram anuladas”, ou “o combate da polícia alemã contra cidadãos suspeitos de ter publicado na internet comentários antifeministas”.

“Na Grã-Bretanha e em toda a Europa, temo que a liberdade de expressão esteja acabando. Hoje, quando vejo o continente, muitas vezes não está claro o que aconteceu com alguns dos vencedores da Guerra Fria”, afirmou o norte-americano, que recebeu poucos aplausos da plateia europeia.

Após o discurso de Vance, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse que não poderia deixar de comentar o que o vice-presidente de Trump declarou. “Se eu entendi bem, ele compara a democracia europeia aos regimes autoritários. Isso é inaceitável. Eu rejeito com força o que ele falou”, afirmou.

(*) Com Ansa, RT en español e Sputnik