Os combates na Síria entre o exército do país e os grupos extremistas já provocaram pelo menos 704 mortes desde o início da recente ofensiva de forças rebeldes contra as tropas do presidente Bashar al-Assad, em 27 de novembro, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira (04/12) pela ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
De acordo com a ONG, a cifra inclui 361 combatentes dos grupos extremistas, 233 soldados do Exército de Assad e integrantes de forças aliadas e 110 civis.
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas reuniu-se na última terça-feira (03/12) para debater a mais recente escalada de violência na Síria.
O representante permanente da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzia, expressou a condenação de seu país ao ataque lançado pelo grupo extremista “Hayet Tahrir Al-Sham” contra a cidade de Aleppo, e denunciou que os terroristas na Síria recebem apoio dos Estados Unidos e de seus aliados.
Nebenzia ainda denunciou o apoio da Ucrânia aos grupos extremistas na Síria, e afirmou que o governo de Kiev forneceu armas aos militantes.
“Denunciamos repetidamente no Conselho de Segurança a presença de assessores militares e de inteligência ucranianos que equiparam e treinaram as forças do grupo terrorista Hayet Tahrir Al-Sham, incluindo acordos entre a Ucrânia e os terroristas, seja para recrutar terroristas para as fileiras das forças ucranianas ou para lutar contra os sírios”, disse ele.
Já o representante permanente do Irã nas Nações Unidas, Amir Saeed Irovani, disse que a ofensiva dos grupos terroristas em Aleppo “é um ataque flagrante à soberania da Síria”.
Durante a sessão de emergência do Conselho de Segurança para discutir o ataque terrorista em Aleppo, o delegado iraniano afirmou que o Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, “usa o terrorismo como uma ferramenta para implementar suas agendas políticas na região”.
O representante denunciou que organizações extremistas “atacaram deliberadamente” a sede do consulado iraniano em Aleppo, o que configura “uma violação flagrante do direito internacional”, além de ser “estritamente proibido”.
Já o Grupo Árabe nas Nações Unidas condenou os ataques, chamando-os de “uma trágica perda de vidas civis inocentes e danos à infraestrutura”.
Os países ainda enfatizaram a necessidade de “apoiar os esforços para restaurar a segurança e a estabilidade em todas as partes da Síria, diminuir o sofrimento e intensificar os esforços para diminuir a escalada e retornar a uma solução diplomática e política que preserve a segurança e a prosperidade do povo sírio e forneça condições para o retorno dos refugiados sírios à sua terra natal”.
Atualizações militares
Quanto à situação militar na Síria, segundo a agência de notícias do país, SANA, o exército está combatendo os grupos extremistas no eixo da montanha Zain Al-Abidin, a nordeste da cidade de Hama, e ao noroeste também, causando cerca de 300 baixas.
Segundo o canal de TV Al-Ikhbaria, o exército sírio tomou controle dos arredores da cidade de Hama, no oeste do país, após fazer os extremistas recuarem pelo menos 20 quilômetros.
De acordo com a emissora, não há militantes restantes na área e a segurança está totalmente garantida pelas forças sírias.
O canal de TV acrescentou que as forças do governo também retomaram o assentamento de Tuba, na parte noroeste da província de Hama.
Já em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, e que foi anteriormente tomada pelos grupos, o Comando Geral do Exército e das Forças Armadas do país informou que os oficiais e cadetes da academia militar síria que leva o nome de Hafez Assad, que estavam cercados, conseguiram libertar-se.
Após a evacuação, o exército informou que os cadetes partiram do local e chegaram em segurança à cidade de Homs, onde estão recebendo os cuidados médicos necessários e tratamento para os feridos.
O comando disse em um comunicado que a libertação ocorreu “graças à coordenação militar e política conjunta sírio-russa”.
A ajuda russa ao exército sírio no combate aos grupos extremistas também permitiu a eliminação de mais de 1.600 militantes por meio de ataques apoiados pelas Forças Aeroespaciais de Moscou, segundo a Organização Geral de Rádio e TV do país.
Segundo a organização, esses militantes eram “terroristas do [grupo extremista] Jabhat al-Nusra [banido na Rússia] e outros grupos”.
Contexto
Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, é alvo de ataques de grupos armados que, segundo a organização de direitos humanos que atua no país, tomaram totalmente o controle do local. O conflito, que escalou desde a última sexta-feira (29/11), marca uma nova etapa de uma guerra civil em andamento desde 2011.
As milícias que atacaram a cidade são contrárias ao governo do presidente Bashar al-Assad. Os grupos tinham sido expulsos de Aleppo entre 2016 e 2017 pelas forças governistas, que contam com apoio do Irã e da Rússia.
Segundo a organização Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), citada pela agência de notícias AFP, o ataque foi realizado pelo grupo Hayat Tahrir al Sham, vinculado à Al-Qaeda, com apoio de outras facções rebeldes aliadas.
Entre os locais tomados pelos rebeldes estão o aeroporto da cidade e o consulado do Irã. Em comunicados divulgados por seus dirigentes, os rebeldes confirmam a ofensiva. Um dos grupos envolvidos afirma que a ação foi facilitada devido a baixas militares das forças apoiadas pelo Irã em meio a conflitos com Israel.
A Rússia respondeu aos ataques rebeldes com o primeiro bombardeio realizado em território Sírio desde 2016. O Kremlin informou que os caças atingiram integrantes dos grupos armados e arsenais.
A guerra civil na Síria não registrava confrontos nesse nível desde 2020, quando foi assinado um cessar-fogo com anuência da Rússia e da Turquia (que apoia parte dos grupos rebeldes). O governo turco pediu, agora, que os ataques sejam interrompidos.
Os episódios tiveram reações, também, de países do Ocidente (opositores de Al-Assad), como a França, que pediu uma trégua; e os Estados Unidos, que afirmaram que a perda do controle de Aleppo aconteceu devido à “dependência” síria da Rússia e do Irã.
(*) Com Ansa, Brasil 247, Brasil de Fato, SANA e TASS