Quinta-feira, 10 de julho de 2025
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[O Hezbollah] “não iniciará um ataque contra Israel em represália aos bombardeios contra o Irã”, declarou um responsável do grupo xiita libanês, em entrevista à agência Reuters.

A declaração do Hezbollah vem depois dos ataques israelenses ao Irã na madrugada desta sexta-feira (13/06), os quais atingiram diversas instalações nucleares e militares iranianas. Altos oficiais militares do país, incluindo Hossein Salami, comandante da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRGC, por sua sigla em inglês), foram assassinados, assim como importantes cientistas ligados ao programa nuclear.

Os ataques ocorrem às vésperas do Eid Al-Ghadir, considerado uma das celebrações mais importantes para os muçulmanos xiitas – especialmente significativo no Irã, o único país no mundo onde a fé xiita está institucionalizada como base da política de governo.

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Irã, Hezbollah, e a crescente xiita

Em um comunicado oficial nesta sexta-feira, o secretário-geral do Hezbollah, Naïm Kassem, afirmou que a investida israelense foi uma agressão cuja intenção é ‘’silenciar a voz da verdade que apoia o povo palestino de Gaza em sua luta pela libertação da Palestina, assim como a resistência no Líbano e na região”. No entanto, o líder deixou claro que a resposta aos ataques israelenses caberá ao Irã, e que o Hezbollah não retaliará Israel.

O Irã é o principal apoiador logístico, militar e financeiro do Hezbollah. Desde sua fundação, em 1982, o grupo libanês se consolidou como um dos principais braços da influência iraniana no Levante. Esse vínculo passa por interesses geopolíticos e ideológicos – visão comum de enfrentamento à hegemonia israelense e ocidental na região, e o apoio à causa Palestina –, e também por afinidades religiosas – ambos compartilham a vertente xiita do Islã.

A declaração de Naïm Kassem ocorre em um momento particularmente sensível para o Hezbollah. O grupo xiita libanês atravessa um período de reestruturação após enfrentar baixas significativas e enfraquecimento de sua capacidade operacional e da ‘moral’ da resistência.

Dois eventos principais contribuem para essa fragilidade: o assassinato de Hassan Nasrallah, que liderou o Hezbollah por mais de três décadas e foi morto por Israel em um bombardeio ao subúrbio de Dahyeh, em Beirute, em setembro de 2024; e a queda de Bashar al-Assad na Síria, em dezembro do mesmo ano, um aliado estratégico cuja permanência no poder era fundamental para a logística regional de apoio do “Eixo da Resistência” – conjunto de aliados iranianos que inclui o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen, e outros grupos xiitas no Iraque.

Naïm Kassem, porta-voz do Hezbollah, disse que caberá ao Irã decidir como responderá aos ataques de Israel
Libnanews

Durante a era Assad, a Síria representou uma ponte geográfica entre o Irã e o Hezbollah, sendo um eixo logístico fundamental para a chamada crescente xiita. Agora, com o novo governo interino sírio liderado por forças sunitas, esse corredor estratégico se fragilizou, comprometendo significativamente a capacidade de apoio iraniano ao Hezbollah.

Líbano em alerta

Também nesta sexta-feira, em consequência dos ataques israelenses ao Irã, o Líbano refletiu o clima de tensão crescente na região.

O Ministério da Informação do Líbano informou que o Aeroporto Internacional Rafic Hariri, em Beirute, permanece aberto, mas alguns voos foram cancelados e outros redirecionados a outras capitais da região.

As escolas foram fechadas no sul do país, área majoritariamente xiita e sob controle do Hezbollah – além de território onde se concentram os ataques israelenses ao país. Em Beirute, algumas instituições de ensino também optaram por cancelar as aulas.

Apesar do cessar-fogo que entrou em vigor em 27 de novembro de 2024, os ataques israelenses ao território libanês persistem. Somente entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, quando o cessar-fogo já vigorava, Israel matou pelo menos 83 pessoas em território libanês.

Há apenas uma semana, em 5 de junho, o Estado Israelense realizou uma série de bombardeios a Dahyeh, no subúrbio de Beirute, também às vésperas de um feriado muçulmano importante, o Eid al-Adha.